Fukushima ficará sem trabalhadores
por Suvendrini Kakuchi, da IPS
Tóquio, Japão, 12/3/2013 – O Japão prometeu desmantelar os reatores nucleares danificados pelo terremoto e pelo tsunami em Fukushima. Porém, Hiroyuki Watanabe, conselheiro da cidade de Iwaki, a 30 quilômetros do lugar da tragédia, recebeu o anúncio com receio, dois anos após os acontecimentos. “Vejo que as dificuldades em Fukushima aumentam, não diminuem. Um dos maiores problemas que o país enfrenta é a falta de trabalhadores qualificados que possam enfrentar os enormes desafios que temos pela frente”, disse Watanabe ontem à IPS.
A cidade de Iwaki fica na prefeitura de Fukushima, onde em 11 de março de 2011 aconteceu a pior parte do desastre em cadeia: terremoto, tsunami, acidente nuclear. Nessa cidade também se encontra o J-Village, ex-centro de treinamento de futebol e atual entrada para a área em volta da usina nuclear. Cerca de três mil trabalhadores vão diariamente do novo acampamento-base até onde ficam os reatores danificados. Colocam um traje que os protege da radiação e sobem nos ônibus, que demoram quase uma hora para levá-los ao local de trabalho.
Watanabe destacou que é preciso lutar pelos direitos desses trabalhadores, que passam oito horas por dia em um entorno perigoso. “Estão em risco de contaminação radioativa. São empregados de empresas que não os tratam bem no tocante às condições de trabalho e salariais. Meu trabalho é protegê-los e garantir que seus empregadores e o governo os tratem bem”, explicou. Membro do Partido Comunista da assembleia local, Watabane não é o único com essa postura. Os problemas cada vez mais difíceis na luta do Japão para resolver a situação dos reatores danificados fizeram com que os sindicatos criassem organizações separadas para atender as questões específicas com relação aos empregados da central nuclear.
Por sua vez, Keiji Watanabe, secretário-geral da União Nacional de Trabalhadores Gerais, afirmou que é urgente a criação de uma proteção sólida para empregados desse setor. O desmantelamento da usina poderá demorar quatro décadas. “A grave situação em Fukushima, bem como os possíveis acidentes em outras usinas nucleares japonesas, exigirá o trabalho de dezenas de milhares de homens e mulheres nas próximas décadas”, ressaltou à IPS. “Esta situação sem precedentes nos despertou para a terrível necessidade de criar unidades que possam lidar com as questões trabalhistas que surgirem”, acrescentou.
Uma das grandes críticas dos sindicalistas é a falta de normas claras para os trabalhadores nucleares. Atualmente, os empregados, divididos segundo sua qualificação profissional e idade, são contratados por centenas de empresas subcontratadas pela Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina de Fukushima. Vários trabalhadores dessas subcontratadas denunciaram o sistema de “comissões” das agências de emprego temporário.
Como pagamento especial, são acrescentados US$ 90 diários ao salário do pessoal temporário contratado para limpar os dejetos radioativos e realizar trabalhos de reparação. Porém, segundo Hiroshi Goto, que trabalhou no reator de Fukushima Dai Ichi, os empregadores descontam 50% de sua renda. “É intolerável”, disse Goto à conhecida revista mensal Sekai. Os trabalhadores não sabem reclamar melhores condições de trabalho à Tepco.
A pressão sindical fez com que o Japão fixasse padrões rígidos de contaminação no país. Essas condições provocarão uma escassez de trabalhadores, pois muitos terão que deixar de trabalhar para cuidar da saúde. As difíceis condições de trabalho já causaram uma rápida redução no pessoal disposto a trabalhar em Fukushima. A maioria dos três mil trabalhadores nos reatores é de moradores da área de Fukushima que perderam seu emprego no setor agrícola devido à contaminação do solo, contou o conselheiro Watanabe. “São, na maioria, pessoas mais velhas que precisam de um trabalho para sobreviver, e isso pode obrigar o Japão a importar mão de obra para cobrir a iminente crise”, ressaltou.
Neste contexto, o conservador primeiro-ministro, Shinzo Abe, anunciou que os reatores nucleares voltarão a ser utilizados assim que for confirmada sua segurança, para que o país recupere estabilidade no fornecimento de energia. No Japão, 30% do fornecimento elétrico procede da energia nuclear. Por outro lado, quase 60 mil moradores de Fukushima continuam sem poder voltar para suas casas e sem perspectivas de poderem fazê-lo devido aos trabalhos de limpeza. “Dois anos depois do acidente ainda buscamos respostas a fim de preparar o caminho para o futuro. A situação continua sendo uma lição de pesadelo para o Japão”, concluiu o conselheiro Watanabe. Envolverde/IPS
A cidade de Iwaki fica na prefeitura de Fukushima, onde em 11 de março de 2011 aconteceu a pior parte do desastre em cadeia: terremoto, tsunami, acidente nuclear. Nessa cidade também se encontra o J-Village, ex-centro de treinamento de futebol e atual entrada para a área em volta da usina nuclear. Cerca de três mil trabalhadores vão diariamente do novo acampamento-base até onde ficam os reatores danificados. Colocam um traje que os protege da radiação e sobem nos ônibus, que demoram quase uma hora para levá-los ao local de trabalho.
Watanabe destacou que é preciso lutar pelos direitos desses trabalhadores, que passam oito horas por dia em um entorno perigoso. “Estão em risco de contaminação radioativa. São empregados de empresas que não os tratam bem no tocante às condições de trabalho e salariais. Meu trabalho é protegê-los e garantir que seus empregadores e o governo os tratem bem”, explicou. Membro do Partido Comunista da assembleia local, Watabane não é o único com essa postura. Os problemas cada vez mais difíceis na luta do Japão para resolver a situação dos reatores danificados fizeram com que os sindicatos criassem organizações separadas para atender as questões específicas com relação aos empregados da central nuclear.
Por sua vez, Keiji Watanabe, secretário-geral da União Nacional de Trabalhadores Gerais, afirmou que é urgente a criação de uma proteção sólida para empregados desse setor. O desmantelamento da usina poderá demorar quatro décadas. “A grave situação em Fukushima, bem como os possíveis acidentes em outras usinas nucleares japonesas, exigirá o trabalho de dezenas de milhares de homens e mulheres nas próximas décadas”, ressaltou à IPS. “Esta situação sem precedentes nos despertou para a terrível necessidade de criar unidades que possam lidar com as questões trabalhistas que surgirem”, acrescentou.
Uma das grandes críticas dos sindicalistas é a falta de normas claras para os trabalhadores nucleares. Atualmente, os empregados, divididos segundo sua qualificação profissional e idade, são contratados por centenas de empresas subcontratadas pela Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina de Fukushima. Vários trabalhadores dessas subcontratadas denunciaram o sistema de “comissões” das agências de emprego temporário.
Como pagamento especial, são acrescentados US$ 90 diários ao salário do pessoal temporário contratado para limpar os dejetos radioativos e realizar trabalhos de reparação. Porém, segundo Hiroshi Goto, que trabalhou no reator de Fukushima Dai Ichi, os empregadores descontam 50% de sua renda. “É intolerável”, disse Goto à conhecida revista mensal Sekai. Os trabalhadores não sabem reclamar melhores condições de trabalho à Tepco.
A pressão sindical fez com que o Japão fixasse padrões rígidos de contaminação no país. Essas condições provocarão uma escassez de trabalhadores, pois muitos terão que deixar de trabalhar para cuidar da saúde. As difíceis condições de trabalho já causaram uma rápida redução no pessoal disposto a trabalhar em Fukushima. A maioria dos três mil trabalhadores nos reatores é de moradores da área de Fukushima que perderam seu emprego no setor agrícola devido à contaminação do solo, contou o conselheiro Watanabe. “São, na maioria, pessoas mais velhas que precisam de um trabalho para sobreviver, e isso pode obrigar o Japão a importar mão de obra para cobrir a iminente crise”, ressaltou.
Neste contexto, o conservador primeiro-ministro, Shinzo Abe, anunciou que os reatores nucleares voltarão a ser utilizados assim que for confirmada sua segurança, para que o país recupere estabilidade no fornecimento de energia. No Japão, 30% do fornecimento elétrico procede da energia nuclear. Por outro lado, quase 60 mil moradores de Fukushima continuam sem poder voltar para suas casas e sem perspectivas de poderem fazê-lo devido aos trabalhos de limpeza. “Dois anos depois do acidente ainda buscamos respostas a fim de preparar o caminho para o futuro. A situação continua sendo uma lição de pesadelo para o Japão”, concluiu o conselheiro Watanabe. Envolverde/IPS
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