Estudo desmente noção de que a China estaria dominando o comércio de energias renováveis
por Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil
Em diversos aspectos econômicos, a China é vista nos últimos anos como o país que domina o mercado mundial, e no comércio de tecnologias limpas a situação não é diferente. Mas ao contrário do que se pensava, nesse aspecto a nação mais populosa do mundo ainda perde para os Estados Unidos, como sugere um novo estudo da Pew Charitable Trusts encomendado pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF).
O Advantage America: The U.S.-China Clean Energy Trade Relationship (Vantagem América: A relação de comércio de energia limpa dos EUA-China) indica que na troca de tecnologias solares, eólicas e de energia ‘inteligente’, os EUA tiveram um superávit de US$ 1,63 bilhão com relação à China em 2011, último ano que apresenta dados disponíveis.
Segundo Michael Liebreich, CEO da BNEF, isso demonstra que no comércio global não é tão importante o que se troca, mas o valor do que se troca. Isso porque, no caso dos EUA e da China, o fluxo de comércio reflete a realidade de que a China é um produtor de baixo custo, enquanto os EUA fabricam produtos mais complexos e caros.
“A sabedoria convencional sobre o comércio de energia limpa é um microcosmo de suposições sobre a competitividade dos EUA e chinesa. Os Estados Unidos são vistos principalmente como uma economia de serviços e um importador insaciável, enquanto a China é a oficina do mundo”, comentou Liebreich. Para ele, o relatório desafia essas suposições, e mostra que é hora de repensar esses conceitos.
No setor solar, por exemplo, a China domina a exportação de módulos solares, com 95%. Os EUA, no entanto, lideram na exportação de bens e serviços de alta tecnologia, inclusive nos materiais utilizados para fabricar os módulos fotovoltaicos, como polissilício e wafers, e equipamentos e sistemas necessários nas fábricas solares.
Assim, enquanto as exportações da China no setor totalizam US$ 2,8 bilhões em produtos para os EUA, as exportações dos EUA para a China valem US$ 3,7 bilhões, ou seja, há um superávit de US$ 913 milhões.
O setor eólico, embora tenha menos volume do que o solar, também apresenta um superávit por parte dos EUA. As exportações dos chineses para os norte-americanos são em sua maioria de torres de turbinas eólicas e rotores e turbinas e chegam a US$ 388,7 milhões.
Já as exportações dos EUA para a China são de materiais especializados como fibra de vidro e sistemas sensitivos eletrônicos ou outros sistemas de controle, chegando a US$ 534,9 milhões. No total, o superávit chegou a US$ 146 milhões para os EUA em 2011.
Por fim, outro setor importante nas transações comerciais de energias limpas entre EUA e China é o setor de tecnologias inteligentes em energia, que inclui tecnologias, serviços e produtos que ajudam a melhorar o desempenho de energia e eficiência, armazenar energia e reduzir as emissões de carbono.
Aqui, mas uma vez, os EUA registram superávit de US$ 571 milhões. Nesse caso, entretanto, a questão é mais o volume transacionado do que as tecnologias, pois ambos os países exportam chips, módulos e tecnologias semelhantes um para o outro. Mas os EUA ainda saem na frente com a exportação de equipamentos de LED, com US$ 800 milhões exportados em 2011.
Analisando a situação de exportações dos dois países, o relatório conclui que a grande vantagem dos EUA em relação à China é a liderança em inovação e empreendedorismo, o que reflete na produção de bens mais especializados por parte dos norte-americanos.
Assim, ainda que a China se foque no volume de produção, as companhias dos EUA acabam sendo mais ativas no exterior do que as chinesas, o que faz com que essas ainda percam em competitividade para os norte-americanos.
Mas o documento lembra que as incertezas que cercam as políticas de energia limpa nos Estados Unidos podem apresentar uma mudança nesse cenário, já que muito da demanda associada com as metas e padrões de energia norte-americanos já foi atingida, e muitas iniciativas federais de apoio já expiraram ou vão expirar.
“Escolhas políticas, não as exportações da China, determinarão a direção da indústria de energia limpa dos EUA nos meses e anos vindouros”, conclui o estudo.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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