Canadá perde suas estações
por Stephen Leahy, da IPS
Uxbridge, Canadá, 13/3/2013 – “O Canadá não é um país, é o inverno”, costumam dizer os canadenses, com orgulho. Mas os longos e temíveis períodos de inverno desta nação da América do Norte poderão ficar apenas na lembrança e em canções para crianças nascidas nesta década. Os invernos já são significativamente mais quentes e curtos do que há 30 anos. Os padrões de temperaturas e de vida vegetal se trasladaram mais de 700 quilômetros para o norte, segundo um novo estudo.
Enquanto isso, o gelo do norte se retira e não voltará por um milênio, devido às emissões de carbono produzido pela queima de combustíveis fósseis, afirmam especialistas. Até 2091, o norte do planeta terá estações, temperaturas e, possivelmente, vegetação comparáveis às encontradas hoje entre os 20 e 25 graus de latitude, observou Ranga Myneni, do Departamento de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Boston.
“Se não reduzirmos as emissões de carbono, o Ártico sueco poderá passar a se parecer mais com o sul da França até o final do século”, afirmou Myneni, coautor do estudo, à IPS. Canadá, norte da Eurásia e o Ártico esquentam mais rápido do que qualquer outra parte do mundo devido à perda de neve e gelo, acrescentou. Dentro de 90 anos, o Alasca ou a Ilha Baffin, no Ártico, poderão ter estações e temperaturas comparáveis com as que hoje são registradas no Estado norte-americano do Oregon ou na província canadense de Ontário.
Myneni é membro de uma equipe internacional de 21 especialistas de sete países que utilizaram informação obtida via satélite no terreno para medir as mudanças nas temperaturas e na vegetação durante as quatro estações entre a fronteira canadense-norte-americana e o Oceano Ártico. Os pesquisadores concluíram que as temperaturas nas terras do norte aumentaram num ritmo diferente durante as quatro estações nos últimos 30 anos. O inverno foi a estação que mais esquentou, seguido da primavera.
Existe uma grande diferença entre as temperaturas de inverno e de verão no norte, mas essa diferença é menor a cada ano, segundo o estudo Redução da Sazonalidade da Temperatura e Vegetação nas Terras do Norte, publicado pela revista Nature Climate Change. “A temperatura e a vegetação estacional diminuíram no norte”, e esta mudança acontece mais rapidamente do que o projetado pelos modelos climáticos, afirmam os cientistas. “Estamos mudando a sazonalidade, o norte ficará mais parecido com o sul, perdendo os fortes contrastes entre as quatro estações”, pontuou Myneni.
Um claro sinal é que o Ártico se torna cada vez mais verde. Os tipos de plantas que não podiam sobreviver mais ao norte da latitude 57 agora são encontradas na latitude 64. Esta mudança “é facilmente visível no terreno, devido à crescente abundância de arbustos altos e árvores em vários lugares no Ártico circumpolar”, disse outro coautor do estudo, Terry Callaghan, da Real Academia Sueca de Ciências e da Universidade de Sheffield, na Grã-Bretanha.
As mudanças afetarão muitas espécies, sobretudo considerando a grande quantidade de aves e animais que migram para o norte a fim de se alimentarem no breve verão. “O modo de vida de muitos organismos na Terra está estreitamente ligado com as mudanças das estações nas temperaturas e na disponibilidade de alimentos”, explicou Scott Goetz, subdiretor e cientista principal do Woods Hole Research Center, dos Estados Unidos.
“Pensemos na migração das aves para o Ártico no verão e a hibernação dos ursos no inverno: qualquer alteração significativa das temperaturas e da vegetação estacional provavelmente terá impacto na vida, não só no norte, mas em outros lugares e de forma que ainda desconhecemos”, afirmou Goetz em uma declaração.
Além disso, no Ártico existem milhões de quilômetros quadrados de permafrost (gelo permanente) com uma vasta quantidade de carbono congelado. O aquecimento do Ártico liberará parte deste carbono, provocando, por sua vez, maior aquecimento do planeta por centenas de anos, alerta o estudo.
Nas últimas semanas, imagens obtidas por satélite do Oceano Ártico revelaram grandes rachaduras nos gelos marinhos, produzidas durante a parte mais fria do inverno. O gelo marinho, normalmente, só começa a se quebrar depois de abril. A fratura, em meados de fevereiro, foi grande e incomum, resslatou à IPS o especialista em zonas geladas Mark Serreze, diretor do Centro Nacional de Neve e Gelos. O derretimento de gelo marinho no último verão boreal foi 80% maior do que nos verões dos últimos 30 anos ou mais.
Neste inverno, a maior parte do gelo no Ártico está mais fina, o que o deixa mais fácil de quebrar e derreter tão logo chegue o verão. As consequências desta mudança em escala planetária apenas começam a ser compreendidas. Por exemplo, o colapso do gelo marinho no ano passado amplificou o poder destrutivo da tempestade Sandy, afirmaram os pesquisadores, na semana passada, na revista Oceanography. A severa perda de gelo marinho no Ártico parece ter afetado as correntes de ar, como a IPS já havia informado.
Isso ajudou o Sandy a ganhar força e pegar um impulso para oeste, em lugar de dissipar para o nordeste, como ocorre com a maioria dos furacões de outubro, afirmam pesquisadores no estudo Supertempestade Sandy: Uma série de ventos infelizes?. E não é apenas o gelo marinho que derrete, mas também as geleiras do Canadá. Pouco estudadas até agora, essas massas de gelo na superfície terrestre canadense equivalem em volume a um terço das encontradas na Antártica e Groenlândia.
Além disso, até o final deste século, 20% das geleiras canadenses terão derretido, aumentando o nível do mar em 3,5 centímetros. Considerando que os oceanos cobrem 71% do planeta, trata-se de uma quantidade enorme de gelo que se converterá em água. “Acreditamos que a perda de massa é irreversível no futuro próximo”, alertaram pesquisadores holandeses e norte-americanos na revista Geophysical Research Letters. Envolverde/IPS
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