Ainda que a extração de árvores tenha caído nos últimos anos, é preciso preencher o vazio dentro da floresta.
São mais de três mil quilômetros que separam o estado de São Paulo da Floresta Amazônica. A longa distância sugere que acontecimentos acima da linha do Equador não interferem na vida do Cone Sul. Entretanto, a lógica falsa esconde uma verdade inegável: a Amazônia não só se relaciona com o restante do país, como é responsável pelo clima que incide nas demais regiões. Dessa forma, o desmatamento das árvores no bioma resulta na falta de chuva que assola as represas do Sudeste e Centro-Oeste. Essa interligação ocorre através do fenômeno conhecido como rios voadores.
Estas correntes de umidade lançadas na atmosfera pelas árvores da Floresta percorrem com o vento um longo caminho até o sul do Brasil. A camada de ar ajuda na constituição de chuvas no verão, responsáveis pelo abastecimento da maioria dos estados. Estimativas mostram que cada planta consegue “bombear” 500 litros de água por dia. Assim, a região amazônica consegue jogar 20 bilhões de toneladas de água no ar diariamente – três bilhões a mais do que a vazão do rio Amazonas, o maior do mundo.
O processo é natural e impede a desertificação do Sudeste. Se compararmos a faixa de terra entre as latitudes 20º e 30º no hemisfério Sul, notamos que apenas no Brasil não há territórios áridos. O paralelo é conhecido pelos desertos africanos na Angola, Namíbia, Botswana e no centro e norte da Austrália, que não possuem a ação dos rios voadores com suas nuvens úmidas.
O problema é que o desmatamento contínuo da Amazônia faz com que o rio voador fique cada vez mais “seco” e sem força para chegar aos outros estados brasileiros – o que favorece a estiagem vivida atualmente. A conta é simples: quanto mais árvores forem derrubadas, menos umidade é lançada na atmosfera. Além disso, o caminho das nuvens é favorecido por outros biomas, como o Cerrado e a Mata Atlântica. Entretanto, como também sofrem com a devastação, surge uma massa de ar quente que bloqueia esse processo, fazendo com a chuva caia em outras regiões.
Só há uma alternativa para fazer com o que o rio voador retome seu caminho natural: promover o reflorestamento das áreas desmatadas. Ainda que a extração de árvores tenha caído nos últimos anos, é preciso preencher o vazio dentro da floresta. É um ato simples diante da magnitude do tema, mas que garante uma sobrevivência sadia para todos.
Apenas com ações coletivas e políticas eficientes é possível reverter o cenário e reconstituir este ciclo vital para a sociedade. O importante é termos em mente que não existem atitudes isoladas quando o assunto é sustentabilidade. Com a união de todos é possível reverter a situação e garantir um futuro melhor para as próximas gerações.
* Vagner Luis é Diretor Executivo da GreenClick, , empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país.
(O Autor)
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