Neste momento em que os recursos naturais estão sendo explorados a uma taxa maior que a capacidade de reposição, gerando desequilíbrio no meio ambiente e na sociedade, os especialistas vêem uma oportunidade. “Se por um lado as pessoas estão cansadas do papo chato da sustentabilidade, por outro lado, há muita gente que não quer mais ser oprimida pelo consumismo. É nessa angústia que está a nossa chance de mobilizar as pessoas”, diz Aron Belinky, do GVCes – Centro de Estudos de Sustentabilidade da Escola de Administração da Faculdade Getúlio Vargas (FGV).
Belinky foi um dos participantes do debate Bode na Sala: uma conversa quente sobre o tema consumo, promovido pela revista Página 22, nesta sexta-feira (29/8) no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na programação da Virada Sustentável 2014. Ele citou a pesquisa Rumo à Sociedade do Bem-estar do Akatu, em que os caminhos para a sociedade do bem-estar mostraram-se mais desejados pela população que os do consumismo. “A entrega do bem-estar é uma forma de vender nosso peixe”, disse o consultor.
Falar de alimentação é uma abordagem que pode levar a população a refletir sobre seus atos de consumo e sobre a sustentabilidade, na visão de Maluh Barciotte, do Instituto de Estudos Contemporâneos, que também participou da roda de conversa do Bode na Sala. “Se você faz um evento sobre mudanças climáticas, ninguém aparece. Mas se você faz um evento sobre alimentos que aborde a mesma questão, vai encher de gente. Saúde tem tudo a ver com sustentabilidade”, diz Maluh.
Ariel Kogan, da Open Knowledge Foundation Network, enxerga diversos caminhos concretos que permitem às empresas e consumidores conciliar consumo e sustentabilidade. “A economia compartilhada, por exemplo, é um caminho sem volta. Já vemos muitas iniciativas de uso compartilhado de espaços de trabalho, de bicicletas e carros e de hospedagem.” Kogan também mencionou cases de empresas como a Guayakí, que vende erva-mate, e a Patagônia, marca de roupas, que obtém diferencial competitivo investir na regeneração do meio ambiente ou sociedade.
Na visão da Natura, empresa do ramo de cosméticos, os fabricantes têm responsabilidade de oferecer a melhor informação sobre seus produtos aos consumidores, diz Denise Alves, diretora da sustentabilidade da Natura. “Precisamos buscar a transparência, informar o consumidor sobre a matéria prima, a cadeia de valor, a pegada ecológica. O problema é que ainda não há padronização para isso e, assim, as pessoas não conseguem comparar os produtos”, diz. A ética na propaganda também é importante quando o assunto é consumo consciente, afirma Denise. “A publicidade não deve induzir ao consumismo ou manipular.”
Para Lia Diskin, presidente da Associação Palas Athena, as pessoas têm buscado o consumo para preencher o espaço da perda do senso de comunidade. “Nós não nos sentimos mais importantes para a comunidade e para a família. Esse sentimento, nós tentamos compensar fazendo compras. Buscamos não apenas o consumo voraz de produtos, mas de vínculos, ideias e experiências – como o consumo de drogas ilícitas que provocam experiências.”
Demonizar a publicidade não é um bom caminho, na visão de Lia. “nosso desafio é conseguirmos atrair as pessoas da mesma forma, com nossas mensagens. ” Aron Belinky, do GVCes, concorda: “Precisamos nos valer de outras linguagens além da palavra para comunicar a importância do tema. A arte, os números, as trocas são formas que podem trazer uma experiência positiva para essas pessoas que precisam ser sensibilizadas.”
* Publicado originalmente no site Akatu.
(Akatu)
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