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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Polinização do açaí pode aumentar a produção em até 40%


Açaizeiros na várzea. Foto: Wikipedia

“Colocando a abelha certa para polinizar o açaí pode haver um aumento de até 40% na produtividade dos frutos da palmeira”, afirma o pesquisador Giorgio Venturieri, da Embrapa Amazônia Oriental. E essa “abelha ideal” para polinizar o açaí com eficiência e eficácia já foi identificada. É uma espécie do gênero Scaptotrigona e que ainda está em fase de descrição taxonômica e por isso não tem nome científico de espécie, apesar de bem conhecida pelos criadores de abelhas nativas do Pará, que as chamam de “abelha-canudo”.

Polinização do açaí pode aumentar a produção em até 40%

Conhecida provisoriamente como Scaptotrigona sp, é nativa da região amazônica e não possui ferrão. O pesquisador diz que as vantagens de utilizar uma abelha da região são inúmeras, entre elas a ecológica, “com uma abelha nativa não é necessário introduzir um animal exótico à região, que poderia competir com os animais nativos”, explica Venturieri. A valorização do conhecimento local é um outro ponto destacado pelo pesquisador e também o fato de ser um animal de fácil manejo e seguro para o produtor.
O açaí necessita de polinização cruzada, ou seja, os grãos de pólen de uma flor devem encontrar o estigma (órgão reprodutor feminino) de uma flor de outra planta da mesma espécie. Na prática isso significa dizer que o cruzamento acontece entre flores de touceiras diferentes e não da mesma touceira.
Pesquisa – “Um bom serviço de polinização gera muito mais frutos em uma mesma plantação”, ressalta o pesquisador. E o primeiro desafio da pesquisa foi encontrar entre as diversas espécies de abelhas nativas e exóticas a mais adequada à polinização do açaí, sob dois aspectos: eficiência e facilidade no manejo.
No quesito eficiência, a pesquisa buscou um animal de tamanho menor; que necessita de quantidade de néctar (alimento) proporcional à produção das flores do açaí; e com autonomia de voo adequada à distância entre as palmeiras. Já na questão do manejo, a Scaptotrigona sp. é uma abelha fácil de criar e reproduzir, é mais rústica e tem uma resistência natural a pragas. “Uma colônia dessa abelha tem de 10 a 15 mil indivíduos, enquanto que a uruçu-amarela (abelha nativa mais popular entre os criadores da região), tem 4 mil indivíduos, ou seja, a Scpatotrigona sp. tem mais indivíduos para fazer o serviço de polinização”, completa Venturieri.
Charles André Pereira trabalha com a criação de abelhas há 12 anos, principalmente na multiplicação e comercialização de ninhos para outros produtores. Ele diz que essa espécie é uma excelente produtora de mel “e saber também que ela poliniza o açaí abre boas perspectivas de mercado para os criadores”, completa.
Atualmente, Charles Pereira possui 50 enxames em sua propriedade, localizada em Santo Antônio do Tauá, região nordeste do Pará. “O açaí é uma cultura importante para o estado e pode estimular a criação de um mercado de aluguel e/ou venda de colônias para sua polinização, a exemplo do que já acontece em outras regiões do Brasil e em outros países com a produção de laranja, maçã e melão”, acredita o produtor.
O que para a pesquisa é a otimização de processos e mais uma possibilidade de utilização sustentável dos recursos naturais da Amazônia, para os criadores de abelha e produtores rurais é mais uma fonte de renda e eficiência na produção do açaí, uma fruteira que não pára de ampliar consumidores e mercados por todo o mundo.
Por Ana Laura Silva de Lima, Embrapa Amazônia Oriental

EcoDebate, 03/09/2014

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