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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aviões farão medidas para avaliar impactos da poluição no regime de chuvas da Amazônia


queimada

Durante o mês setembro, período de transição da estação seca para a chuvosa na Amazônia, dois aviões de pesquisa, um dos Estados Unidos e outro da Alemanha, farão voos diários para medidas da poluição urbana e de queimadas e de nuvens na região. Os sobrevoos fazem parte de uma campanha científica internacional, com o suporte de instrumentos em solo, com o objetivo de avaliar o impacto da poluição no ciclo de vida de nuvens, na formação de nuvens de tempestades, no balanço da radiação e no clima da região amazônica. Os aviões farão medidas nos arredores de Manaus e a aeronave alemã percorrerá regiões do Arco do Desflorestamento, próximas, por exemplo, a Porto Velho (RO) e Alta Floresta (MT).
Diversas instituições científicas brasileiras e estrangeiras – Agência Espacial Brasileira (AEB), Agência Espacial da Alemanha (DLR), Departamento de Energia (DoE) dos Estados Unidos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Instituto Max Planck e Universidade de Leipzig – e agências de fomento e apoio à pesquisa – FAPESP e FAPEAM – participam e apoiam esta grande campanha científica, reunindo centenas de pesquisadores e pessoal técnico. Além dos aviões, diversos instrumentos em solo, instalados nos arredores de Manaus, farão medidas combinadas para compor um grande banco de dados que já vem sendo compartilhado entre as instituições participantes.
A primeira campanha intensiva de medidas, o IARA (Intensive Airborne Experiment in Amazonia), que integra o Programa GoAmazon, foi realizada no início do ano, com a participação do avião Gulfstream-1 (G-1), do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Nesta segunda campanha, que se inicia na próxima semana, o G-1 volta a campo, em voos combinados, em diferentes altitudes, com os do avião alemão HALO (High Altitude and Long Range Aircraft), que chega a voar a 15 quilômetros de altitude. Os voos das aeronaves irão ocorrer em diferentes situações: céu limpo, com plumas de fumaça e diferentes tipos de nuvens.A aeronave alemã também fará voos de longa distância, cobrindo regiões do Arco do Desflorestamento, com o objetivo de estudar o impacto de áreas de desflorestamento e das queimadas na dinâmica das nuvens.
Os sobrevoos do HALO estão direcionados aos objetivos de pesquisa do projeto ACRIDICON (Aerosol, Cloud, Precipitation, and Radiation Interactions and Dynamics of Convective Cloud Systems), que vem fazendo parceria com o projeto brasileiro CHUVA, coordenado pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE e financiado pela FAPESP. Segundo Luiz Augusto Machado, coordenador do CHUVA, e também responsável pelo ACRIDICON, pela parte brasileira, depois do processamento dos dados obtidos em campanha, será possível avaliar os efeitos de partículas e de aerossóis, originados das queimadas e da poluição urbana, nas propriedades microfísicas, químicas e radiativas das nuvens de tempo bom e de tempestades.
Pretende-se compreender com maior profundidade como os aerossóis orgânicos e aqueles gerados a partir da poluição urbana, associados aos fluxos de superfície, influenciam os ciclos de vida de nuvens de chuvas convectivas (intensas e localizadas) e estratiformes (menos intensas e de maior extensão), características da região amazônica. Sabe-se que os aerossóis têm papel central nos processos de nucleação de nuvens e na precipitação. Segundo Machado, os dados extraídos da campanha científica vão permitir compreender como se dão as interações destas partículas com outros componentes atmosféricos e quais são as implicações de seu aumento na atmosfera amazônica.
A expectativa é de que a melhor representação destes processos químicos e físicos na atmosfera possam trazer avanços à modelagem do clima regional e de cenários globais de mudanças climáticas. Também deverá ser possível avaliar com maior precisão como os processos de ocupação, urbanização, associados ao desmatamento e queimadas na região, podem impactar o regime de chuvas da Amazônia.
Projeto CHUVA
Coordenado pelo INPE, o projeto CHUVA iniciou em 2009 para estudar os diferentes regimes de chuva do país, contando com uma série de instrumentos para medidas atmosféricas, entre eles, um radar de alta resolução para medir dados do interior das nuvens. Um sistema de monitoramento e previsão de chuvas operou em todas as regiões que o projeto foi realizado. Nesta edição na Amazônia, o SOS Chuva Manaus também será utilizado na logística das operações aéreas, como já ocorreu no início do ano durante a campanha do IARA, pelo GoAmazon. O sistema de monitoramento pode ser acessado e consultado livremente por qualquer usuário no site http://sigma.cptec.inpe.br/sosmanaus/.
Fonte: INPE
EcoDebate, 02/09/2014

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