solarCaribe Uma revolução de energia limpa contra a mudança climática
Meninos e meninas aprendem sobre energia solar durante uma exibição em Georgetown, na Guiana. Foto: Cortesia do CREDP

Bridgetown, Barbados, 22/7/2014 – O pequeno restaurante Lefties Food Stall, em Barbados, que vende os famosos sanduíches de peixe voador, é o primeiro local de venda de alimentos nesta ilha do Caribe a contar com um painel solar. Perto dali, também foi instalado um painel nos chuveiros públicos, e o mesmo fez uma garagem de ônibus que fica do outro lado da rua, a delegacia local e numerosas casas coloridas na avenida costeira que leva à capital, Bridgetown.
Como muitas outras pequenas nações insulares, Barbados deve importar todo petróleo que usa para produzir eletricidade. Isto a torna quatro vezes mais cara do que nos Estados Unidos, um país rico em combustível. O elevado custo da eletricidade se converteu em uma oportunidade para a nascente indústria solar de Barbados.
Quase metade das casas tem aquecedor solar de água em seus tetos, o que acaba sendo rentável porque a conta do serviço diminui em menos de dois anos. Cada vez mais, setores como a pequena unidade de dessalinização, instalam dispositivos solares para cobrir uma parte de suas necessidades energéticas.
A energia solar avança graças a incentivos de impostos para consumidores e empresários verdes. Em junho, o primeiro-ministro de Barbados, Freundel Stuart, prometeu que este país produzirá 29% de sua energia a partir de fontes renováveis até o final da próxima década.
É um objetivo bem mais conservador, mas ainda assim é o dobro do que os Estados Unidos produzem com fontes renováveis. Não será difícil de alcançar, pois a ilha não goza apenas de sol abundante, mas também de ventos capazes de movimentar turbinas eólicas o ano todo e resíduos de cana-de-açúcar, que servem para produzir bicombustível.
O governo de Barbados também busca aproveitar a energia das marés, bem como introduzir a conversão da energia térmica do oceano, uma tecnologia que emprega a diferença de temperatura entre as correntes profundas mais frias e as superficiais mais quentes para gerar eletricidade.
Aos poucos as tecnologias de energia limpa avançam no Caribe, e o vizinho Estados Unidos, principal emissor de gases-estufa da história, deveriam prestar atenção.
Aruba planeja construir um aeroporto com base em energia solar de 3,5 megawatts (MW), talvez o maior projeto desse tipo no mundo. A ilha, de língua holandesa, combinou a energia eólica e a solar com medidas para melhorar a eficiência e conseguiu baixar as importações de petróleo economizando cerca de US$ 50 milhões por ano.
As ilhas vulcânicas de Nieves, Montserrat e São Vicente contrataram empresas geotérmicas islandesas para realizarem projetos exploratórios e determinar como aproveitar suas vastas reservas. Por sua vez, a montanhosa Dominica cobre cerca de metade de sua demanda com energia hidráulica.
As nações insulares do Caribe não possuem apenas abundantes recursos para desenvolver as energias limpas, mas têm razões de peso para fazê-lo. A região é uma das que mais paga no mundo pelo consumo de energia, o que prejudicou seu desenvolvimento industrial e esgotou suas reservas de divisas.
A ilha também tem ecossistemas frágeis, como mangues e arrecifes de coral, que são muito vulneráveis aos vazamentos de petróleo e à contaminação. E muitos países como Barbados dependem dos turistas, que só continuarão chegando se os lugares permanecerem limpos e verdes.
Mas a razão principal para reduzir as emissões de carbono é o perigo que representa para essas nações insulares não tomar medidas contra a mudança climática. E, de fato, este fenômeno já causa um grande impacto. Nos últimos anos, as chuvas na zona leste do Caribe representaram uma ameaça para a agricultura e os escassos fornecimentos de água subterrânea.
O nível do mar e a acidificação dos oceanos aumentam, e o aquecimento matou os arrecifes de coral protetores, o que causou erosão costeira. Além disso, essa região propensa a furacões sofre seus embates cada vez com mais frequência e maior força.
Em São Vicente e Granadinas, sucessivas tempestades arrasaram as ilhas em 2010, 2011, e 2012, causando perda anual de 17% do produto interno bruto (PIB) desse país em desenvolvimento, bem como destruiu centenas de moradias e deixou dezenas de mortos.
O governo de Barbados encomendou um estudo de análise da economia verde, preparado junto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e divulgado em Bridgetown em junho, que inclui recomendações sobre como conseguir que a agricultura, a pesca, o transporte e a energia sejam mais sustentáveis.
Atualmente, a produção de energia no Caribe é qualquer coisa, menos sustentável. O falecido presidente socialista da Venezuela, Hugo Chávez, ofereceu a muitas ilhas dessa região empréstimo de longo prazo e concessões para comprar petróleo barato. E seu sucessor fez o possível para manter os modestos subsídios. Mas ninguém sabe até quando vai durar essa generosidade devido à atual crise econômica que afeta a Venezuela, e menos ainda o que acontecerá com as economias insulares, já exigidas, quando tiverem de pagar o preço integral do petróleo.
O Caribe precisa conseguir independência energética para crescer. Mas a infraestrutura não é barata. Há dificuldades técnicas relacionadas com a estabilidade da rede elétrica que poucas nações pequenas podem resolver. Além disso, a pouca demanda de eletricidade nessas ilhas não ajuda a captar investimentos internacionais. E, ainda, países como Jamaica, São Cristóvão e Neves, Granada, Barbados, e Antiga e Barbuda carregam dívidas públicas que costumam exceder seus respectivos PIB anuais.
As grandes potências industrializadas, que são responsáveis por esses problemas das nações insulares, deveriam dar uma mão aos que sofrem mais pela mudança climática. Os empréstimos dos bancos de desenvolvimento internacional, bem como a transferência de tecnologia e a capacitação dos países mais ricos serviriam muito.
Com sua ajuda para que essas ilhas, geograficamente perto dos Estados Unidos, se tornem verdes, Washington não só conseguiria reduzir os gases-estufa para todos, mas também criaria oportunidades para aprender lições valiosas sobre como superar os vários desafios técnicos que surgem.
As vulneráveis ilhas do Caribe são um laboratório perfeito para testar soluções em pequena escala, que podem chegar a servir para uma infraestrutura muito mais complexa como a dos Estados Unidos.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos usaram seu poderio econômico para ajudar a reconstruir as destruídas economias da Europa mediante o Plano Marshall. É hora de ter um Plano Marshall para a energia limpa, não para reconstruir nações destruídas pela guerra, mas para ajudar a proteger nosso assediado sistema climático.
O Caribe, abençoado com muito sol, vento e energia geotérmica, é um bom lugar para começar. Envolverde/IPS
* Richard Schiffman, especializado em ambiente, visitou Barbados em junho. Este artigo foi publicado originalmente pelo Foreign Policy in Focus.
(IPS)