[EcoDebate] O pico da produção de petróleo e gás na Grã-Bretanha aconteceu na virada do milênio. Entre 1975 e 1985 houve uma grande disponibilidade de hidrocarbonetos propiciadas pelas reservas do Mar do Norte, em que o gás natural e petróleo possibilitaram ao Reino Unido se tornar um país exportador de energia. Houve um breve declínio e novamente uma subida na produção no final do século passado. Porém, nos últimos 13 anos a produção de combustíveis fósseis só diminui e não tem perspectivas de recuperação. O declínio acontece em ritmo acelerado, por volta de 7% ao ano.
O efeito já se fez sentir na falta de energia que se agravou no inverno, pois o abastecimento de gás natural à indústria foi cortado pela Rede Nacional de energia várias vezes entre janeiro e fevereiro de 2014. Estes cortes seletivos permitiram estabilizar o abastecimento doméstico e a geração elétrica. Mas com as reservas de gás natural 20% abaixo do que eram na mesma época do ano passado, os cortes ficam cada vez mais prováveis.
Segundo reportagem do jornal The Telegraph, dados oficiais revelam que a Grã-Bretanha importou 43% de suas necessidades de combustíveis fósseis, em 2012, enquanto a produção doméstica do Mar do Norte está declinando rapidamente. Em 2010, a Grã-Bretanha importava 28% de sua energia, tendo sido um exportador líquido de petróleo e gás há pouco mais de uma década atrás. Em consequência, houve um grande aumento na quantidade de energia gerada por carvão mineral, apesar dos efeitos nocivos sobre as emissões que causam mudanças climáticas.
Em contraste , a energia eólica só foi responsável por 1% do consumo de energia da Grã-Bretanha, apesar de a indústria ter recebido bilhões de libras em subsídios ao longo da última década. A quantidade de energia proveniente de fontes renováveis aumentou em um quinto, mas ainda responde por apenas 4% do total utilizado pelo Reino Unido, muito aquém da meta de 15% até 2020.
O Pico do Petróleo não é exclusividade da Grã-Bretanha. Em entrevista ao jornal francês Le Monde, Olivier Rech, antigo economista da Agência Internacional de Energy (AIE) e que foi responsável pelos modelos de produção de petróleo da Agência, entre 2006 e 2009, mostra que o cenário atual é completamente diferente daqueles que a AIE tem divulgado.
Para Rech, parece claro que a AIE não está cumprindo o seu propósito de informar os governos sobre a correta disponibilidade de energia, em especial do petróleo. Os líderes da OCDE são levados a acreditar que há possibilidade de expansão da oferta de combustíveis fósseis, caso haja investimentos crescentes. Mas o processo de redução da produção e consumo de petróleo já está em marcha entre os diversos países-membros da OCDE.
Ou seja, a realidade mostra que, a despeito das variações conjunturais, existe uma tendência de longo prazo que significa o fim do acesso fácil aos recursos energéticos fósseis. A Grã-Bretanha é apenas mais um país que já vivencia esta realidade.
Referências:
Simone Osborn. Energy round-up: fossil fuels at a tipping point?, March 7, 2014
The Guardian. UK fossil fuel imports at record high, 26 June 2013
Rowena Mason. Britain imports almost half of fossil fuels from abroad, 25 Jul 2013
The UK Oil Peak and its Terminal Decline, May 27, 2013
Indexmundi. United Kingdom Crude Oil Production and Consumption by Year
In just over five years Britain will have run out of oil, coal and gas, BBC, 16 May 2014.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 23/07/2014
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