Nenhum local na Terra está aquecendo mais rapidamente do que o Ártico, mas a velocidade que isso está acontecendo permanece um ponto de interrogação devido a grandes lacunas nos dados de temperatura ao longo dessa vasta região.
Um estudo recente publicado no periódico Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society conclui que, além de o Ártico estar aquecendo oito vezes mais rápido do que o resto do planeta, erros na contabilização das temperaturas têm resultado na subestimativa do aquecimento ao redor do globo.
Recentemente, alguns cientistas têm notado que o ritmo do aquecimento parece ter diminuído – enquanto muitos céticos climáticos e a imprensa têm, erroneamente, alegado que o fenômeno estagnou. Porém, ao adicionar novos dados de temperatura dos satélites, cientistas relatam que o clima está aquecendo tão rapidamente quanto o previsto.
O principal autor do estudo, Kevin Cowtan, da Universidade de York, argumenta que é muito fácil enxergar como a exclusão das temperaturas do Ártico tem resultado em conjuntos imprecisos de dados da temperatura global.
“Se você fizer uma média, mas não considerar parte dos dados que se comportam diferentemente, então terá uma resposta errada”, disse ele ao mongabay.com. “Então, por exemplo, fazer uma média sobre como são as pessoas altas com base em um grupo amostral consistindo apenas de mulheres, o resultado seria subestimado – pois os homens são mais altos, na média. Da mesma forma, se for feita uma média da taxa de aquecimento da Terra baseada apenas em locais que não estão aquecendo muito rápido, então o resultado estará subestimado”.
Isso é exatamente o que tem ocorrido com o conjunto de dados do frequentemente citado Hadley Center e da Unidade de Pesquisas Climáticas (CRU, em inglês), que engloba 84% do planeta, mas deixa de fora grande parte do Ártico. O mesmo problema ocorre com dados do Centro Nacional de Dados Climáticos (NCDC) da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos(NOAA).
Por sua vez, o conjunto de dados GISS da NASA tem considerado o aquecimento no Ártico ao preencher as brechas com estações meteorológicas próximas, entretanto, mesmo estes cálculos ainda subestimam o aquecimento total compilado por Cowtan e seu parceiro, Robert Way, da Universidade de Otawa.
Em seu estudo, Cowtan e Way consideraram duas soluções possíveis para as falhas nos dados do Ártico.
“Uma é simplesmente extrapolar as estações meteorológicas mais próximas que usam dados do CRU. A NASA tem feito algo similar há muito tempo, mas o CRU tem trabalhado bastante para conseguir várias estações em latitudes altas”, comentou Cowtan. O outro método é mais novo: o par recorreu a satélites que medem a temperatura da baixa atmosfera com sensores de micro-ondas.
“Não é a mesma coisa que a temperatura da superfície, mas é um bom indicador da temperatura sobre o continente, e, até onde conhecemos, da superfície do gelo marinho também”, comentou Cowtan. Posteriormente, os pesquisadores usaram um método estatístico, conhecido pelos cientistas como “Krigagem”, para reconstruir temperaturas no nível da superfície com base em dados de satélite.
O Ártico tem sido monitorado por satélite apenas desde 1979, o que significa que eles só conseguem acabar com as lacunas até esse ano. Entretanto, o que os cientistas descobriram é chocante: os resultados mostram que, nos últimos 15 anos, as taxas de aquecimento têm disparado no Ártico, oito vezes mais rapidamente do que o resto mundo. Além disso, quando esse aquecimento é adicionado no total global, a tal diminuição das mudanças climáticas desaparece.
Por exemplo, dados dos HadCRU mostram o aquecimento geral em 0,05°C nos últimos 15 anos, mas adicionando os novos dados do Ártico, isso mais do que dobra para 0,012°C. Cowton disse ao mongabay.com que, apesar de a mudança não “ser muito” e não contribuir muito para o cenário em longo prazo – que é o que os cientistas climáticos estão preocupados –, mostra que o aquecimento global ainda está aumentando aceleradamente.
“A ciência diz exatamente o que sempre disse. Tudo o que fizemos foi colocar de lado um pouco da incerteza em relação às tendências de curto prazo, que estava sendo usada para obscurecer a ciência”, nota Cowtan, completando que “os cientistas têm, em sua maioria, sido cautelosos ao tirar conclusões de tendências de curto prazo, mas elas têm aparecido de forma significativa no discurso público”.
De fato, o discurso – e muitos céticos das mudanças climáticas – tem sido obsecado pelo clamor relacionado à “pausa” nas mudanças climáticas. Até o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) toma nota da diminuição na taxa atual de mudança climática versus a passada. Diminuição essa, que, segundo Cowtan e Way, é baseada em dados fracos.
“O HadCRUT e o NCDC precisam lidar com o problema. Idealmente, deveriam encontrar outra abordagem para lidar com a questão – quanto mais esse problema for atacado de forma diversa, mais claro o cenário fica”, ponderou Cowtan, que ressalta que a base de dados da NASA é a mais próxima às suas conclusões, mas ainda subestima um pouco o aquecimento, apesar de os pesquisadores ainda não terem certeza por que.
O aquecimento rápido do Ártico já desregula os ecossistemas. Em 2012, a extensão do gelo marinho caiu 50% abaixo da média do período 1979-2000 e chegou ao menor ponto já registrado, alarmando cientistas. No total, o Ártico perdeu cerca de 40% do gelo marinho desde 1980.
Pesquisadores estimam que o Oceano Ártico não terá mais gelo em algum momento entre 2020 e 2100. Recentemente, cientistas teorizaram que a perda de gelo marinho no Ártico pode ser responsável por extremos climáticos em locais como Estados Unidos e Europa, tais como correntes de jato incomuns, e até pela forte onda de frio que atingiu a América do Norte.
Citação: Kevin Cowtan and Robert G. Way. (2013) Coverage bias in the HadCRUT4 temperature series and its impact on recent temperature trends. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. doi:10.1002/qj.2297
* Traduzido por Fernanda Müller.
** Publicado originalmente no Mongabay e retirado do site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
Um estudo recente publicado no periódico Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society conclui que, além de o Ártico estar aquecendo oito vezes mais rápido do que o resto do planeta, erros na contabilização das temperaturas têm resultado na subestimativa do aquecimento ao redor do globo.
Recentemente, alguns cientistas têm notado que o ritmo do aquecimento parece ter diminuído – enquanto muitos céticos climáticos e a imprensa têm, erroneamente, alegado que o fenômeno estagnou. Porém, ao adicionar novos dados de temperatura dos satélites, cientistas relatam que o clima está aquecendo tão rapidamente quanto o previsto.
O principal autor do estudo, Kevin Cowtan, da Universidade de York, argumenta que é muito fácil enxergar como a exclusão das temperaturas do Ártico tem resultado em conjuntos imprecisos de dados da temperatura global.
“Se você fizer uma média, mas não considerar parte dos dados que se comportam diferentemente, então terá uma resposta errada”, disse ele ao mongabay.com. “Então, por exemplo, fazer uma média sobre como são as pessoas altas com base em um grupo amostral consistindo apenas de mulheres, o resultado seria subestimado – pois os homens são mais altos, na média. Da mesma forma, se for feita uma média da taxa de aquecimento da Terra baseada apenas em locais que não estão aquecendo muito rápido, então o resultado estará subestimado”.
Isso é exatamente o que tem ocorrido com o conjunto de dados do frequentemente citado Hadley Center e da Unidade de Pesquisas Climáticas (CRU, em inglês), que engloba 84% do planeta, mas deixa de fora grande parte do Ártico. O mesmo problema ocorre com dados do Centro Nacional de Dados Climáticos (NCDC) da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos(NOAA).
Por sua vez, o conjunto de dados GISS da NASA tem considerado o aquecimento no Ártico ao preencher as brechas com estações meteorológicas próximas, entretanto, mesmo estes cálculos ainda subestimam o aquecimento total compilado por Cowtan e seu parceiro, Robert Way, da Universidade de Otawa.
Em seu estudo, Cowtan e Way consideraram duas soluções possíveis para as falhas nos dados do Ártico.
“Uma é simplesmente extrapolar as estações meteorológicas mais próximas que usam dados do CRU. A NASA tem feito algo similar há muito tempo, mas o CRU tem trabalhado bastante para conseguir várias estações em latitudes altas”, comentou Cowtan. O outro método é mais novo: o par recorreu a satélites que medem a temperatura da baixa atmosfera com sensores de micro-ondas.
“Não é a mesma coisa que a temperatura da superfície, mas é um bom indicador da temperatura sobre o continente, e, até onde conhecemos, da superfície do gelo marinho também”, comentou Cowtan. Posteriormente, os pesquisadores usaram um método estatístico, conhecido pelos cientistas como “Krigagem”, para reconstruir temperaturas no nível da superfície com base em dados de satélite.
O Ártico tem sido monitorado por satélite apenas desde 1979, o que significa que eles só conseguem acabar com as lacunas até esse ano. Entretanto, o que os cientistas descobriram é chocante: os resultados mostram que, nos últimos 15 anos, as taxas de aquecimento têm disparado no Ártico, oito vezes mais rapidamente do que o resto mundo. Além disso, quando esse aquecimento é adicionado no total global, a tal diminuição das mudanças climáticas desaparece.
Por exemplo, dados dos HadCRU mostram o aquecimento geral em 0,05°C nos últimos 15 anos, mas adicionando os novos dados do Ártico, isso mais do que dobra para 0,012°C. Cowton disse ao mongabay.com que, apesar de a mudança não “ser muito” e não contribuir muito para o cenário em longo prazo – que é o que os cientistas climáticos estão preocupados –, mostra que o aquecimento global ainda está aumentando aceleradamente.
“A ciência diz exatamente o que sempre disse. Tudo o que fizemos foi colocar de lado um pouco da incerteza em relação às tendências de curto prazo, que estava sendo usada para obscurecer a ciência”, nota Cowtan, completando que “os cientistas têm, em sua maioria, sido cautelosos ao tirar conclusões de tendências de curto prazo, mas elas têm aparecido de forma significativa no discurso público”.
De fato, o discurso – e muitos céticos das mudanças climáticas – tem sido obsecado pelo clamor relacionado à “pausa” nas mudanças climáticas. Até o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) toma nota da diminuição na taxa atual de mudança climática versus a passada. Diminuição essa, que, segundo Cowtan e Way, é baseada em dados fracos.
“O HadCRUT e o NCDC precisam lidar com o problema. Idealmente, deveriam encontrar outra abordagem para lidar com a questão – quanto mais esse problema for atacado de forma diversa, mais claro o cenário fica”, ponderou Cowtan, que ressalta que a base de dados da NASA é a mais próxima às suas conclusões, mas ainda subestima um pouco o aquecimento, apesar de os pesquisadores ainda não terem certeza por que.
O aquecimento rápido do Ártico já desregula os ecossistemas. Em 2012, a extensão do gelo marinho caiu 50% abaixo da média do período 1979-2000 e chegou ao menor ponto já registrado, alarmando cientistas. No total, o Ártico perdeu cerca de 40% do gelo marinho desde 1980.
Pesquisadores estimam que o Oceano Ártico não terá mais gelo em algum momento entre 2020 e 2100. Recentemente, cientistas teorizaram que a perda de gelo marinho no Ártico pode ser responsável por extremos climáticos em locais como Estados Unidos e Europa, tais como correntes de jato incomuns, e até pela forte onda de frio que atingiu a América do Norte.
Citação: Kevin Cowtan and Robert G. Way. (2013) Coverage bias in the HadCRUT4 temperature series and its impact on recent temperature trends. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. doi:10.1002/qj.2297
* Traduzido por Fernanda Müller.
** Publicado originalmente no Mongabay e retirado do site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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