Por Frederico Goulart
Manaus - O Rio Araguaia serviu de berço e de nome para uma das mais importantes descobertas cientificas brasileiras nos últimos anos: o Inia araguaiensis, quinta espécie de golfinho de água doce já registrada em toda a História. Um novo tipo do animal não era identificado desde 1918.
O “Boto do Araguaia” - como ficou conhecido - abandonou o anonimato no final do ano passado, graças a um longo estudo feito em parceria entre a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).
O trabalho que deu identidade ao “Boto do Araguaia” foi publicado na revista científica “PLoS One”. Nele, foi constatado que a espécie se separou dos seus semelhantes da América do Sul há aproximadamente dois milhões de anos, quando houve movimentação de placas tectônicas. Hoje, eles vivem isolados.
A nova espécie, que junto com o Inia boliviensis (Boto da Boliviano) e o Inia geoffrensis (Boto Cor-de-Rosa) vive na região da Amazônia, mal foi identificado e já corre risco de extinção. Segundo estimativa dos pesquisadores, o total desses animais - que vivem na região próxima à barragem da hidrelétrica de Tucuruí, no estado do Pará - não chega a mil. Isso representa apenas um a cada mil quilômetros quadrados.
Raridade
Os golfinhos de água doce são consideradas algumas das criaturas mais raras do planeta. Segundo balanço da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), das outras quatro espécies existentes, três também estão sob ameaça.
Segundo a bióloga do Inpa, Vera Maria Ferreira da Silva, a avaliação do DNA do Inia araguaiensis foi fundamental para a identificação da nova espécie.
- Fizemos expedições ao longo de 2013 , com a ajuda da Força Aérea Brasileira e do Batalhão Ambiental de Goiás. Recolhemos alguns animais mortos que foram submetidos a análises moleculares. A avaliação do DNA mostrou que não há compartilhamento de linhagens. Outras espécies desconhecidas também podem existir na região - avalia.
Fisicamente, o grupo constatou algumas características próprias da nova espécie, como o crânio mais longo e a menor quantidade de dentes. O bico alongado, por exemplo, permite a caça de peixe na lama, no fundo dos rios.
Preservação
Vera também ressalta a necessidade de um trabalho de preservação. Práticas como pesca esportiva, a construção de hidrelétricas, o fluxo turístico e o bombeamento de água do rio para a irrigação das plantações de arroz da região representam grandes ameaças.
Aluna do grupo multidisciplinar que participou da descoberta, Nicole Dutra conta que as comunidades que vivem às margens do Rio Araguaia mantêm uma relação próxima com o “novo"animal.
- São mamíferos grandes, vistos com frequência. A comunidade costuma chamá-los de “Negão”. Como os demais botos, eles nadam perto das mulheres que lavam roupas e louças na beira do Rio Araguaia - descreve.
Fonte: Jornal O Globo.
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