Pelos direitos dos animais
Por Cinthya Nunes*
Ainda que o tema esteja em voga mais recentemente, eu já o havia abordado em minha dissertação de mestrado, defendida em 2004, intitulada Tutela Jurídica dos Animais. Em meu trabalho, escrito, portanto, há quase dez anos, eu ressaltei a questão da prática de atos cruéis contra os animais, incluindo os absurdos testes para indústria de cosméticos, bem como para saciar exóticos hábitos alimentares.
O recente resgate dos cães beagle acabou tornando a questão mais conhecida e é notório que o movimento em prol dos direitos dos animais vem crescendo não apenas no Brasil, mas em todo mundo. Nem vou entrar aqui na questão envolvendo entidades específicas, mas gostaria de provocar a reflexão de forma geral. O problema, inclusive, é antigo e já sensibilizou muita gente em milênios de história da humanidade.
Particularmente, penso que é chegada a hora de uma reflexão coletiva. Antes de mais nada, temos o direito de usar os animais a nosso bel prazer, como criaturas destituídas de sentimentos, de sentidos? Os seres humanos são senhores absolutos da criação? Eu estou certa de que a resposta para essas perguntas é completamente negativa.
A meu ver, as pessoas confundem o fato de nos alimentarmos de alguns animais e o poder de deles fazermos o que quisermos. Desde que o mundo é mundo, os seres vivos se alimentam uns dos outros e vão formando uma cadeia voltada ao equilíbrio na Terra. Por mais que alguns de nós se considerem melhores do que os outros, somos também nós parte da Criação e estamos inseridos nessa mesma cadeia. Na ausência de predadores, inclusive, tornamo-nos nossos próprios... No fim de tudo, porém, somos dos vermes e nada nos salva disso.
Assim, não sou vegetariana, embora creia que um dia possa vir a ser. Penso que os animais podem nos servir de alimentos, mas não precisamos submetê-los a uma vida inteira de sofrimento, como o que se faz com os gansos para se obter o foie gras ou mesmo matar filhotes para obter carne tenra, por exemplo. Sem contar de outros animais que vão sendo cortados vivos enquanto um bando de cretinos sentados em uma mesa vão fazendo caras e bocas, como se fossem algo melhor do que um monte de carne, ossos e egocentrismo.
Tenho comigo que nos autoproclamarmos como senhores do universo tem o mesmo efeito que eu me proclamar, aqui nesse texto, Rainha da Inglaterra. Sei, por outro lado, que não sou dona da verdade, mas eu penso que, se no passado as experiências com os animais foram responsáveis pelos avanços da medicina, ótimo. Primeiro que não podemos mudar o que já aconteceu. Segundo porque, se aconteceu, isso nos coloca em dívida com os animais. Se hoje temos mais conhecimento, mais tecnologia, mais entendimento sobre o mundo que nos cerca, deveríamos prestar nosso tributo aos animais e não continuar submetendo-os a toda sorte de sevícias e absurdos.
Lembro que no passado, experiências grotestas foram realizadas em pessoas também e ainda que uma parte delas tenha sido responsável, no fim das contas, por avanços da medicina, tenho certeza de que esse argumento não convenceria ninguém a continuar com tais práticas.
Eu poderia escrever todo um tratado sobre esse assunto, mas além de que seriam minhas opiniões, não creio que convenceriam quem está resolvido a não encarar o fato de que os animais são mais do que coisas que usamos e descartamos. É, no mínimo, necessário que cada um de nós saia de sua zona de conforto e que se disponha a conhecer um pouco do assunto, ao menos para refletir se é verdadeira a sentença segundo a qual “se uma coisa sempre foi assim, deve continuar a ser”...
Viver é evoluir, é abrir mente e coração para a possibilidade de estarmos errados. Difícil, contudo, é alguém olhar nos olhos de um animal e não ver neles também a centelha divina que os torna merecedores do nosso respeito, para dizer o mínimo.
* Cinthya Nunes Vieira da Silva é advogada, professora universitária, cronista e membro da Academia Linense de Letras
Fonte: algo a dizer.
A meu ver, as pessoas confundem o fato de nos alimentarmos de alguns animais e o poder de deles fazermos o que quisermos. Desde que o mundo é mundo, os seres vivos se alimentam uns dos outros e vão formando uma cadeia voltada ao equilíbrio na Terra. Por mais que alguns de nós se considerem melhores do que os outros, somos também nós parte da Criação e estamos inseridos nessa mesma cadeia. Na ausência de predadores, inclusive, tornamo-nos nossos próprios... No fim de tudo, porém, somos dos vermes e nada nos salva disso.
Tenho comigo que nos autoproclamarmos como senhores do universo tem o mesmo efeito que eu me proclamar, aqui nesse texto, Rainha da Inglaterra. Sei, por outro lado, que não sou dona da verdade, mas eu penso que, se no passado as experiências com os animais foram responsáveis pelos avanços da medicina, ótimo. Primeiro que não podemos mudar o que já aconteceu. Segundo porque, se aconteceu, isso nos coloca em dívida com os animais. Se hoje temos mais conhecimento, mais tecnologia, mais entendimento sobre o mundo que nos cerca, deveríamos prestar nosso tributo aos animais e não continuar submetendo-os a toda sorte de sevícias e absurdos.
Lembro que no passado, experiências grotestas foram realizadas em pessoas também e ainda que uma parte delas tenha sido responsável, no fim das contas, por avanços da medicina, tenho certeza de que esse argumento não convenceria ninguém a continuar com tais práticas.
Eu poderia escrever todo um tratado sobre esse assunto, mas além de que seriam minhas opiniões, não creio que convenceriam quem está resolvido a não encarar o fato de que os animais são mais do que coisas que usamos e descartamos. É, no mínimo, necessário que cada um de nós saia de sua zona de conforto e que se disponha a conhecer um pouco do assunto, ao menos para refletir se é verdadeira a sentença segundo a qual “se uma coisa sempre foi assim, deve continuar a ser”...
Viver é evoluir, é abrir mente e coração para a possibilidade de estarmos errados. Difícil, contudo, é alguém olhar nos olhos de um animal e não ver neles também a centelha divina que os torna merecedores do nosso respeito, para dizer o mínimo.
* Cinthya Nunes Vieira da Silva é advogada, professora universitária, cronista e membro da Academia Linense de Letras
Fonte: algo a dizer.
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