Os custos crescentes do combustível, as políticas para poupar carbono, as aspirações dos consumidores e a indústria automobilística – qual deles causa maior impacto no desenvolvimento dos combustíveis alternativos?
O mercado é o fator fundamental. Mas eu também diria que é preciso sinais políticos, pelo fato de o transporte ser tão dependente do petróleo. Já que mais da metade do petróleo no mundo é usado no transporte, e como 96% do transporte utiliza petróleo, esse é um setor estrategicamente vulnerável.
Até que ponto é necessário mudar a base energética do transporte, passando do petróleo cru para combustíveis alternativos?
Ministros presentes ao ITF – Fórum Internacional de Transporte disseram dois anos atrás que deveríamos buscar mudar, a longo prazo, a base energética para o setor de transportes, abandonando o petróleo. A questão é saber o quão rápido deveríamos fazer isso e quais alavancas utilizar para chegarmos lá. A meu ver, devemos ser cuidadosos quanto aos custos de se tentar migrar rápido demais para uma nova base energética.
Os motoristas não têm de se preocupar sobre onde obter combustível. O que precisa ocorrer para que os combustíveis alternativos também se tornem facilmente disponíveis?
Não subestime a capacidade do mercado em fornecer soluções. Os proponentes ficarão satisfeitos se os governos quiserem dar apoio, mas eles deveriam fazê-lo de modo seletivo. Nunca iremos introduzir carros e combustíveis novos ou novas infraestruturas se os consumidores não comprarem essa ideia. Os preços precisam ser mais próximos dos de carros convencionais. Em segundo lugar, é preciso superar a hesitação do consumidor quanto às opções de modelos dos carros elétricos.
O Brasil descarbonizou radicalmente o transporte e obteve uma independência expressiva em relação ao petróleo. Outros países podem fazer a mesma coisa?
Deve-se levar em consideração as circunstâncias específicas no caso do Brasil. O país possui um clima muito adequado para a produção de etanol e os custos de mão de obra são baixos. Esses fatores é que tornam a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar eficiente. Outros países com clima e condições de trabalho similares provavelmente poderiam obter o mesmo resultado, mas isso pode não ocorrer em outros lugares. A China, por exemplo, tem um clima mais frio, portanto não é tão fácil replicar a experiência do Brasil.
Mudança muitas vezes implica custos mais elevados. Qual é a obrigação do governo em fornecer incentivos tanto a consumidores quanto a fabricantes de automóveis?
Esse é um debate fundamental. Por um lado, os críticos dizem ser necessários subsídios governamentais de até 10.000 euros por automóvel, e isso é muito dispendioso. Por outro lado, os que apoiam a ideia apontam que, para colocar em ação uma nova tecnologia, nós precisamos dar um empurrão inicial para ajudar a obter a escala necessária que fará baixar os custos de produção. A meu ver, não deveríamos apressar esse processo. Existem outros fatores a serem considerados. Mais importante ainda é que a tecnologia existente pode ser muito melhorada. Essa é a razão pela qual lançamos uma iniciativa denominada “50 by 50″, a qual propõe que os carros convencionais se tornem 50% mais eficientes no uso do combustível até 2050.
Qual das novas tecnologias de transporte é a mais promissora e quando ela chegará às ruas?
Os veículos elétricos parecem ser os mais promissores, especialmente aqueles veículos híbridos de carregar na tomada. Mas isso ainda leva tempo. Muitos países tinham uma meta de 10% de veículos elétricos para 2020. Isso me parece um pouco alto e não alcançável por meio de um custo eficaz. Eu não esperaria ver os carros elétricos totalizarem mais do que 2-3% da frota em 2020. Os veículos elétricos ainda são caros e requerem muitas melhorias e inovações. Portanto, acho que é melhor conjugar os esforços mais imediatos para melhorar os motores de combustão interna a estratégias de longo prazo, a fim de promover a adoção dos veículos elétricos em larga escala.
Em seu livro “Two Billion Cars”, Dan Sperling avisa que os carros são uma das maiores ameaças do homem à sociedade humana. Qual a sua resposta a isso?
Eu penso que a política dos transportes subestimou os benefícios da mobilidade privada. Os carros proporcionaram grandes melhorias à mobilidade independente, e isso não deveria ser esquecido. Obviamente, nós devemos lidar com os efeitos colaterais negativos. Um dos problemas mais difíceis diz respeito às emissões de CO2. Porém, tentar solucionar isso limitando a mobilidade não vai funcionar. As pessoas na China e na Índia têm tanto direito a ter um carro quanto os cidadãos da Califórnia. Nós podemos restringir o uso dos carros em certas circunstâncias. Podemos gerenciar melhor o seu uso nas cidades e, ao mesmo tempo, continuar encorajando o uso de bicicletas, caminhadas e transporte público. Mas eu não acho que vamos passar para um novo paradigma da mobilidade.
Como encontrar um equilíbrio entre atender às expectativas dos usuários e encorajar um uso mais sustentável dos meios de transporte?
Essa é uma pergunta crucial, pois o desafio consiste em achar o equilíbrio entre benefícios individuais e benefícios à sociedade. Nós podemos abordar esse aspecto através de uma combinação de medidas. É possível reduzir o tamanho dos carros e tornar o seu consumo de combustível mais eficiente; ter sistemas de transporte público mais integrados nas nossas cidades; usar melhor a tecnologia da informação de modo a evitar deslocamentos; andar mais a pé ou de bicicleta. Porém, encontrar um novo equilíbrio significa também levar em conta as necessidades dos indivíduos. Os padrões de deslocamento das pessoas se tornaram mais complexos e o carro se presta melhor a isso do que o transporte público.
* Publicado originalmente no site Allianz e retirado do site Mobilize Brasil.
(Mobilize Brasil)
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