Organização Meteorológica Mundial reconhece o papel dos gases do efeito estufa no aquecimento do planeta e chama o período entre 2001 e 2010 de década dos extremos climáticos.
A primeira década deste novo século apresentou as temperaturas médias mais altas já registradas desde que começaram as medições modernas, em 1850. Além disso, mais recordes de calor foram batidos entre 2001 e 2010 do que durante qualquer outro período. Para piorar, o aumento do nível dos oceanos se deu em um ritmo duas vezes mais rápido do que nos 100 anos anteriores.
Essas são apenas algumas das constatações do recém-publicado “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
“O relatório mostra que o aquecimento global acelerou nas quatro décadas entre 1971 e 2010 e que a taxa de aumento entre 1991-2000 e 2001-2010 é sem precedentes. O aumento da concentração de gases do efeito estufa está transformando nosso clima, com implicações para nosso meio ambiente e oceanos, os quais estão absorvendo tanto dióxido de carbono quanto calor”, explica Michel Jarraud, secretário-geral da OMM.
De acordo com o documento, a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 389 partes por milhão em 2010, um aumento de 39% com relação ao começo da Era Industrial. Vale lembrar que essa concentração atualmente está na faixa das 400ppm.
“Variabilidades climáticas naturais, causadas por interações entre nossa atmosfera e os oceanos – como evidenciadas pelo El Niño e La Niña – significam que alguns anos foram mais frios que outros. Observada em uma escala anual, a curva da temperatura global apresenta nuances. Mas em termos de longo prazo, a tendência é claramente para cima, ainda mais no período recente”, afirmou Jarraud.
A temperatura média global entre 2001-2010 foi estimada em 14,47°C, 0,47°C acima da média entre 1961-1990, que por sua vez já havia sido 0,14°C mais quente do que a década anterior.
Todos os anos da última década, com exceção de 2008, estão entre os dez mais quentes já registrados, sendo que 2010 apresenta o recorde histórico, com 14,54°C. Dos 139 países observados pelo relatório, 94% tiveram na década passada a mais quente já monitorada.
No Brasil, a anomalia de temperatura foi ainda mais elevada, com um aumento na média de 0,74 °C. Porém, coube à Groenlândia a maior anomalia, com 1,71°C, alta que foi ainda mais pronunciada em 2010, com espantosos 3,2°C acima da média.
Todo esse calor resultou, é claro, em um maior degelo nas regiões polares e nas cadeias de montanhas. O que, por sua vez, teve impacto na elevação do nível dos oceanos.
Segundo a OMM, o mar avançou uma média de três milímetros por ano, quase o dobro do observado durante o século XX, 1,6 milímetros. O nível atual dos oceanos está 20 centímetros acima do que estava em 1880.
Extremos Climáticos
As consequências de um planeta tão aquecido variam por região, mas não é à toa que a OMM batizou 2001-2010 da década dos extremos.
Foram observadas ondas de calor recorde na Europa, o furacão Katrina nos Estados Unidos, ciclones tropicais no Sudeste da Ásia, secas históricas na Amazônia, Austrália e África Oriental e enchentes no Paquistão, América do Sul e África.
De acordo com o relatório, 2001-2010 foi a década mais úmida desde 1901. Novamente 2010 aparece como o ano mais extremo, sendo o mais úmido já registrado na história.
Por isso, enchentes foram os eventos climáticos extremos mais frequentes durante a última década. Europa, Índia, Paquistão, Austrália e África apresentaram mais de uma crise com o excesso de chuvas. Apesar de o relatório não mencionar, vale destacar que em 2005 Santa Catarina sofreu a pior enchente de sua história, com mais de 200 mortos.
Secas e ondas de calor também foram mais frequentes do que a média do século passado, com praticamente todas as partes do planeta sofrendo com pelo menos um desses eventos na década passada.
Destaque para as secas na Amazônia em 2005 e 2010, confirmando tendências apontadas por outros estudos de que, com um planeta sob o aquecimento global, a região passará a ter estiagens mais intensas e frequentes.
Com relação a ondas de calor, a Europa e os Estados Unidos sofreram muito em 2003, 2005, 2008 e 2010, sendo registradas mortes de crianças e idosos. No Brasil, o relatório salienta a onda de calor entre janeiro e março de 2006, com a cidade de Bom Jesus, no Piauí, atingindo os 44,6°C.
No total, entre 2001 a 2010, mais de 370 mil pessoas teriam morrido como resultado de eventos e condições climáticas extremas, uma alta de 20% com relação à década anterior. Felizmente, já existe uma conscientização sobre problemas como ocupação de áreas de risco, e houve uma queda de 43% nas mortes por enchentes.
“Apesar da significante redução nas fatalidades resultantes de enchentes e tempestades, o relatório não deixa de destacar a alta taxa de mortalidade causada por ondas de calor na Europa e na Rússia. Dado que as mudanças climáticas devem levar a ainda mais intensas e frequentes ondas de calor, precisamos estar preparados”, disse Jarraud.
O “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes” é gratuito e já está disponível para download.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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