Uma das boas notícias anunciadas pelo MEC em junho foi o investimento de R$ 100 milhões em um programa destinado à criação de ações sustentáveis em 10 mil escolas de ensino básico em 310 cidades espalhadas pelo país. Segundo o ministério, o Programa Dinheiro Direto na Escola – Escola Sustentável apoiará projetos que promovam ações voltadas à melhoria da qualidade de ensino e a sustentabilidade socioambiental do espaço escolar. É uma tentativa de fazer com que as escolas se tornem espaços educadores sustentáveis considerando sempre intervenções dentro do tripé espaço físico–gestão–currículo.
Há inúmeras definições sobre o que seria uma escola sustentável, mas é justamente neste tripé que reside uma explicação detalhada que as escolas aderentes ao programa deverão atentar. Primeiro, com o uso de um espaço físico que cuida e educa, em que as construções tenham um maior conforto térmico e acústico, a energia e a águã sejam usadas de forma eficiente. Em seguida, com uma gestão que encoraje relações de respeito à diversidade e que seja mais democrática e participativa. Por último, a adoçãm de um currículo que estimule a visão complexa da educação integral e sustentável, estimulando a responsabilidade e o engajamento individual e coletivo na transformação local e global.
O investimento ainda pode ser considerado tímido, se realmente considerarmos o número de escolas do nosso país. Mas a iniciativa é animadora. Nos últimos anos, tenho tido a chance de colaborar com diferentes instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que têm a sustentabilidade como eixo condutor.
Junto a equipes interdisciplinares de professores dessas instituições, tenho mantido a preocupação de criar um projeto novo e personalizado para cada escola – afinal, cada instituição tem sua história e suas características próprias –, sempre valorizando práticas que aliem as esferas tradicionalmente ligadas ao conceito de sustentabilidade: a ambiental, a econômica e a social. Somente identificando os desafios que deixem claras as interligações e a interdependência entre essas três esferas, estaremos de verdade formando professores e estudantes dentro do novo paradigma da sustentabilidade.
Minha fonte primária de inspiração são as ideias e os ideais do sociólogo francês Edgar Morin. Apenas por meio da compreensão profunda da complexidade do mundo atual, colaboraremos efetivamente na formação de indivíduos críticos e capazes de propor soluções de cunho coletivo aos desafios do dia a dia. O trabalho dentro dos paradigmas da complexidade quebra as barreiras disciplinares, dando um novo significado ao que é trabalhado em sala de aula.
Costumo dizer que projetos em educação e sustentabilidade devem “trazer o mundo para a escola e inserir a escola no mundo”. De maneira geral, esses projetos devem (ou deveriam) ousar e ir além das propostas isoladas de ecoeficiência, que geralmente empobrecem e resumem a sustentabilidade ao seu componente ambiental.
Assim, para a implantação de projetos integrais em educação e sustentabilidade, tenho seguido um roteiro simples com seis etapas:
1. Formação teórica competente de professores e estudantes dentro da história e da conceituação de sustentabilidade;
2. Elaboração de um diagnóstico real da escola, caracterizando seus principais desafios e formas viáveis de solucioná-los;
3. Identificação dos principais atores envolvidos em cada desafio e que podem se tornar parceiros em ações;
4. Estabelecimento de um verdadeiro diálogo democrático entre os atores, visando compreender os vários lados da mesma questão, garantindo, dessa forma, uma visão sistêmica complexa;
5. Monitoramento participativo dos resultados alcançados;
6. Criação de parcerias com outras instituições de ensino, ONGs, entidades governamentais, etc., aumentando ainda mais a complexidade do trabalho e envolvendo de forma efetiva sua comunidade.
Um ponto fundamental de toda essa caminhada é sempre colocar os estudantes como protagonistas desde a elaboração do diagnóstico até a avaliação das ações implantadas, permitindo que conheçam melhor sua escola e sua comunidade. O professor está ali para auxiliar a caminhada, funcionando como tutor e não como aquele que detém o conhecimento e sabe o que é certo ou errado. Esse deslocamento do professor de sua posição onipotente estabelece uma relação mais saudável, o que favorece muito o diálogo e a busca conjunta por soluções.
Por sinal, considero o desenvolvimento da capacidade de propor soluções criativas para problemas coletivos por meio do diálogo democrático um dos grandes resultados positivos dos projetos de educação e sustentabilidade com que tenho colaborado.
Acredito muito nesse caminho para garantir uma educação mais integral e integrada. Espero que o investimento do MEC na criação de escolas sustentáveis valorize todo o potencial existente dentro do tema da sustentabilidade. Para isso, entretanto, boa parte desse investimento deve ser voltado à formação de professores dentro dos preceitos da sustentabilidade.
A prática da verdadeira sustentabilidade na escola é capaz formar cidadãos responsáveis, que valorizam mais o coletivo que o individual, e os prepara para construir uma sociedade mais sustentável, justa e democrática para todos.
* Edson Grandisoli é professor, diretor educacional da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a Sustentabilidade.
** Publicado originalmente no site O Porvir.
Há inúmeras definições sobre o que seria uma escola sustentável, mas é justamente neste tripé que reside uma explicação detalhada que as escolas aderentes ao programa deverão atentar. Primeiro, com o uso de um espaço físico que cuida e educa, em que as construções tenham um maior conforto térmico e acústico, a energia e a águã sejam usadas de forma eficiente. Em seguida, com uma gestão que encoraje relações de respeito à diversidade e que seja mais democrática e participativa. Por último, a adoçãm de um currículo que estimule a visão complexa da educação integral e sustentável, estimulando a responsabilidade e o engajamento individual e coletivo na transformação local e global.
O investimento ainda pode ser considerado tímido, se realmente considerarmos o número de escolas do nosso país. Mas a iniciativa é animadora. Nos últimos anos, tenho tido a chance de colaborar com diferentes instituições de ensino no desenvolvimento de projetos que têm a sustentabilidade como eixo condutor.
Junto a equipes interdisciplinares de professores dessas instituições, tenho mantido a preocupação de criar um projeto novo e personalizado para cada escola – afinal, cada instituição tem sua história e suas características próprias –, sempre valorizando práticas que aliem as esferas tradicionalmente ligadas ao conceito de sustentabilidade: a ambiental, a econômica e a social. Somente identificando os desafios que deixem claras as interligações e a interdependência entre essas três esferas, estaremos de verdade formando professores e estudantes dentro do novo paradigma da sustentabilidade.
Minha fonte primária de inspiração são as ideias e os ideais do sociólogo francês Edgar Morin. Apenas por meio da compreensão profunda da complexidade do mundo atual, colaboraremos efetivamente na formação de indivíduos críticos e capazes de propor soluções de cunho coletivo aos desafios do dia a dia. O trabalho dentro dos paradigmas da complexidade quebra as barreiras disciplinares, dando um novo significado ao que é trabalhado em sala de aula.
Costumo dizer que projetos em educação e sustentabilidade devem “trazer o mundo para a escola e inserir a escola no mundo”. De maneira geral, esses projetos devem (ou deveriam) ousar e ir além das propostas isoladas de ecoeficiência, que geralmente empobrecem e resumem a sustentabilidade ao seu componente ambiental.
Assim, para a implantação de projetos integrais em educação e sustentabilidade, tenho seguido um roteiro simples com seis etapas:
1. Formação teórica competente de professores e estudantes dentro da história e da conceituação de sustentabilidade;
2. Elaboração de um diagnóstico real da escola, caracterizando seus principais desafios e formas viáveis de solucioná-los;
3. Identificação dos principais atores envolvidos em cada desafio e que podem se tornar parceiros em ações;
4. Estabelecimento de um verdadeiro diálogo democrático entre os atores, visando compreender os vários lados da mesma questão, garantindo, dessa forma, uma visão sistêmica complexa;
5. Monitoramento participativo dos resultados alcançados;
6. Criação de parcerias com outras instituições de ensino, ONGs, entidades governamentais, etc., aumentando ainda mais a complexidade do trabalho e envolvendo de forma efetiva sua comunidade.
Um ponto fundamental de toda essa caminhada é sempre colocar os estudantes como protagonistas desde a elaboração do diagnóstico até a avaliação das ações implantadas, permitindo que conheçam melhor sua escola e sua comunidade. O professor está ali para auxiliar a caminhada, funcionando como tutor e não como aquele que detém o conhecimento e sabe o que é certo ou errado. Esse deslocamento do professor de sua posição onipotente estabelece uma relação mais saudável, o que favorece muito o diálogo e a busca conjunta por soluções.
Por sinal, considero o desenvolvimento da capacidade de propor soluções criativas para problemas coletivos por meio do diálogo democrático um dos grandes resultados positivos dos projetos de educação e sustentabilidade com que tenho colaborado.
Acredito muito nesse caminho para garantir uma educação mais integral e integrada. Espero que o investimento do MEC na criação de escolas sustentáveis valorize todo o potencial existente dentro do tema da sustentabilidade. Para isso, entretanto, boa parte desse investimento deve ser voltado à formação de professores dentro dos preceitos da sustentabilidade.
A prática da verdadeira sustentabilidade na escola é capaz formar cidadãos responsáveis, que valorizam mais o coletivo que o individual, e os prepara para construir uma sociedade mais sustentável, justa e democrática para todos.
* Edson Grandisoli é professor, diretor educacional da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a Sustentabilidade.
** Publicado originalmente no site O Porvir.
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