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segunda-feira, 12 de abril de 2010
Avatar, um espelho da transformação que buscamos? - IVANA MACIEL
Alguns diretores de cinema são muito felizes em captar as tendências e transformações da sociedade e algumas vezes, estimular episódios na vida real, como o triste dia de 11 de setembro, quando ocorreu a queda das torres gêmeas. É a vida imitando a arte ou a arte imitando a vida, eis uma questão de difícil dissociação. O filme Avatar encontra-se neste mix de fantasia e realidade. Ele nos proporciona mais uma oportunidade de pensarmos sobre opções e atitudes que podemos tomar em relação à sobrevivência da cultura, dos seres humanos, da ancestralidade e de um viver com respeito à natureza.
O diretor James Comeron utilizou uma rica linguagem simbólica, que propicia elementos para trilharmos diversos caminhos sobre como podemos respeitar o meio ambiente de forma responsável. Didaticamente, o primeiro é o nome do filme. O significado da palavra em sânscrito (avatara) “descida do céu para a terra, para que ocorra a transformação”.
Poderíamos convidar o significado religioso, que a palavra empresta, porém, não será um caminho de consenso, e assim, trilhemos o sentimento de respeito às leis universais da natureza e a consciência de que a energia transformada ao longo dos tempos é uma cadeia que a tudo e a todos liga, seja entre os seres elementais, humanos ou extra-sensoriais.
Essa transformação ocorre na lua de Pandora, local em que a missão especial deseja explorar um recurso energético. Pandora (panta dôr), nome este, que tem fortes raízes na mitologia grega, significa “a que possui todos os dons, ou a que é o dom de todos ou a que tudo dá e a que possui tudo". É a expressão da potencialidade divina que todos nós seres humanos temos com as nossas habilidades congênitas.
Pandora foi a primeira mulher que existiu, criada por Hefesto e Atena. Ela recebeu dos deuses a graça, a beleza, a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a esperança, a habilidade na dança e do artesanato. Hermes, porém pôs no seu coração a traição e a mentira. Qualidades antagônicas guardadas numa caixa, assim, como existem em nós, e que não deveria ser aberta.
Assim como Eva, Pandora não resistiu a curiosidade e abriu a caixa deixando escaparem os bens, conservando um único: a esperança. Nesse contexto de luta entre o bem e o mal que o diretor do filme desenvolve a trama, evideciando a transformação interna dos agentes escolhidos e revelando de forma contudente, a necessidade de união de todos em prol do bem comum.
A esperança e o espírito de preservação levou a união e ao enfrentamento do “sistema” aparentemtente mais forte, mais preparado em termos belicos. E é essa esperança que move os trabalhadores da preservação da natureza, a formar correntes de conscientização e proteção à natureza e que poderá nos levar a viver numa sociedade mais digna.
Outro aspecto que o filme mostra é a tradição ritualesca dos indígenas, quem sabe remontando a descoberta da América do Sul. Diversos rituais xamânicos são realizados na busca da autenticidade do ser e da realização do propósito e do despertar do amor.
E falando em amor, poderíamos fazer um paralelo da missão do Caramuru, o Diogo Álvares Correia, e o apaixonamento por Paraguaçu com a relação de Jack e Naitiry. A missão de Jack e Caramaru é a mesma, conhecer os costumes nativos, para facilitar a exploração e negociação, e nesse ínterim, se apaixonam por mulheres filhas dos pajés, construindo pontes para que as trocas e as transformações ocorram de forma mais harmoniosa.
O filme me lembrou um convite feito por Einstein de que possamos ter compaixão por todos os seres vivos, quando expressou que "o ser humano é parte de um todo chamado Universo, uma parte limitada no tempo e no espaço. Experimenta a si mesmo, seus pensamentos e sentimentos como algo separado do resto, uma espécie de ilusão de ótica da consciência.
Essa ilusão restringe-nos aos nossos desejos pessoais e à afeição por umas poucas pessoas próximas a nós. Nosso trabalho deve ser libertar-nos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compaixão para abarcar todas as criaturas vivas e a natureza inteira em sua beleza”.
E o convite de liberdade dos padrões egóicos fica a cada um de nós, para que em nosso dia a dia, possamos respeitar a nossa ancestralidade, nossos corpos, nossas almas e a de todos que estejam a nosso entorno, e assim, podermos transformar fome em abundância, violência em respeito, ignorância em saber, divisão em unidade, ódio em amor, destruição em preservação da vida do nosso planeta.
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FONTE : Ivana M. O. Maciel é colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. Economista, pós-graduada em administração financeira e marketing, mestra na área de energia com ênfase em serviços e participa do Instituto Integra, que objetiva a educação para a mulher e integração dos princípios femininos e masculinos através de desenvolvimento de projetos de geração de renda.(Envolverde/Revista Plurale)
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