20 de novembro de 2014
Por Dr. Pedro A. Ynterian (Presidente do Projeto GAP Internacional)
O chimpanzé Blackie não merecia o que a vida o tem deparado. Solitário, em um pequeno recinto no Zoológico de Sorocaba, tem que suportar dia após dia o inferno astral que significa a presença de centenas de pessoas, especialmente nos feriados e fim de semana, que o assediam com seus gritos, algazarras e provocações. Dias atrás nos mostraram um vídeo, filmado de um celular, de como o público o maltratava, pensando, ignorantemente, que o agradava.
Aqueles que no Zoológico de Sorocaba têm impedido seu traslado, por pura vaidade pessoal e institucional, devem refletir. Um gesto de grandeza dos dirigentes deste Zoológico, que é um bem público, e não um feudo pessoal de ninguém, seria concordar com sua libertação e sua transferência para a Cidade dos Chimpanzés, que está a pouco mais de 20 km daquele local, onde 54 de seus iguais moram em grandes espaços abertos, livres dentro de seu território, sem ter que suportar o assédio absurdo de um público que não respeita os mínimos direitos que eles possuem.
Dez anos atrás, o próprio Zoológico de Sorocaba, por iniciativa própria, quando compartilhávamos o mesmo médico veterinário, nos ofereceu entregar um chimpanzé macho, de nome Caco, parecido com Blackie, que sofria de alucinações, se auto-mutilava e vivia dopado com calmantes, para suportar o assédio do público numa exígua gaiola.
Naquela época, estávamos começando com nosso Santuário; só tínhamos bebês, e 3 ou 4 adultos. Amigos nos aconselharam a não pegar o Caco, já que era um caso irrecuperável, após mais de 6 anos exposto ao público e com todas aquelas perturbações de sua personalidade.
Caco entrou em nossas vidas como um furacão. Era um ser terrivelmente doente, pelo o que seus últimos anos no Zoológico de Sorocaba lhe tinham provocado. As mutilações em suas pernas, das quais ele arrancava pedaços, se convertiam em infecções difíceis de tratar. Eram uma obsessão que nos perseguia. Quando escutávamos seus gritos desesperados, sabíamos que uma nova crise se abatia nele, e em nós.
Consultamos psiquiatras humanos e um tratamento a base de Prozac, isolamento máximo possível e a obtenção de uma companheira, foram mudando sua vida. Caco parou de se auto-mutilar e de ter crises nas quais introduzia objetos em seus ouvidos, para tentar apagar as dores de cabeça que o derrubavam.
Poucos de nós o visitávamos, só aqueles em que ele confiava; nunca levamos a imprensa nem visitantes esporádicos ou médicos para vê-lo. Pouco a pouco fomos reduzindo o Prozac e Caco nunca mais se auto agrediu, nem teve surtos de violência contra ninguém. NUNCA será normal, deverá sempre viver em seu pequeno mundo, continuará sendo impotente e sua companheira, July – que sacrificou sua vida, para salvá-lo e amá-lo -, o acompanhará e ajudará a esquecer seu passado, e o dela, que também foi tenebroso no Zoológico de Piracicaba.
Não existe uma luta entre humanos. Não existe uma luta de vaidades. Não existe uma luta de Zoológico versus Santuário. Estas linhas só têm um objetivo: salvar a vida de Blackie, já que não conseguimos salvar a de sua companheira, Rita, que morreu, como tínhamos previsto, dois anos atrás.
O Prefeito de Sorocaba, Antônio Carlos Pannunzio, tem em suas mãos um pedido nosso e do Filósofo australiano, Peter Singer – fundador do projeto GAP -, de quando visitou o Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba em 2013. Blackie não merece continuar exposto ao público, na solidão do seu recinto, quando sabemos que dezenas de sua espécie vivem juntos, numa comunidade onde sua espécie é respeitada e não usada para divertimento de humanos. Vários deputados ambientalistas que já conhecem o caso têm apoiado essa transferência e levado sua opinião ao Prefeito.
Porém, nesta oportunidade eu me dirijo aos dirigentes do Zoológico para que não impeçam a transferência, como estão começando a tentar fazer. Os dirigentes daquele Zoológico sabem perfeitamente onde Blackie estará melhor; não levem isto ao seara pessoal e tenham misericórdia com um ser que já foi explorado na vida até o limite impossível, para entretenimento daqueles que ainda pensam que exibir animais é algo que o povo deseja.
Uma década atrás, repetimos, o chimpanzé Caco, que vivia solitário, foi enviado ao Santuário que se iniciava, quando ainda não tinha toda a infra-estrutura construída nos últimos anos, e conseguimos dar-lhe uma vida afastada de suas alucinações e fobias. Blackie já esteve conosco temporariamente 6 anos atrás, junto com sua falecida companheira, e naquela época tentamos que ficassem. Porém, o Zoológico não aceitou, apesar de que existia o perigo dele ficar sozinho, como aconteceu.
O caminho já foi trilhado, demos essa oportunidade a Blackie de viver os últimos anos de sua vida acompanhado de seus iguais e não de humanos. É o mínimo que aqueles que acertaram com Caco podem fazer agora: salvar Blackie e dar-lhe uma vida com futuro.
ATENÇÃO A ESTE CHAMADO:
Todos aqueles que concordam com o nosso pedido, façam chegar o seu apoio ao Prefeito de Sorocaba, Antonio Carlos Pannunzio, já que em suas mãos, e SOMENTE as dele, está a sorte futura daquele inocente chimpanzé. Seu e-mail é acpannunzio@sorocaba.sp.gov.br
Fonte: Projeto GAP
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