Em um futuro próximo, as edificações poderão ter um papel de destaque na redução das emissões de carbono e outras questões ambientais. Aqui e ali, surgem exemplos de como podemos aproveitar nosso potencial tecnológico para tornar as cidades e seu entorno melhores de se viver.
Um dos últimos casos que reuniu ideias inovadoras nesse sentido foi a 2014 Skyscraper Competition (Competição de Arranha-céus 2014), cujo resultado foi anunciado no final do mês de março.
Em seu nono ano, a premiação ajudou a agregar uma série de arranha-céus que apresentam soluções tecnológicas para problemas atuais, muitos deles ambientais. A maioria dos edifícios foi planejada para cidades, embora alguns tenham sido pensados para lugares ermos, como florestas ou desertos.
O ganhador do terceiro lugar da competição, o Propagate Skyscraper: Carbon Dioxide Structure (Arranha-céu Propagador: Estrutura de Dióxido de Carbono), dos arquitetos YuHao Liu e Rui Wu, trabalha com a hipótese de ser desenvolvido um material capaz de absorver o dióxido de carbono como uma forma de se auto-alimentar. Assim, empregando tal material, a edificação assimilaria o CO2, que se transformaria em um material sólido capaz de ser usado no setor construtivo.
“Canalizando suas propriedades, propomos um arranha-céu que cresce. Através da construção de uma simples grade de andaimevertical, nos é dado o controle para estender e estruturar o arranha-céu. Os ingredientes exigidos para a propagação do material são fornecidos através do andaime, enquanto o verdadeiro padrão de crescimento é definido por fatores ambientais tais como vento, clima e a saturação de CO2 na atmosfera imediata. Assim, cada estrutura resultante mantém uma organização espacial regular para facilitar a ocupação e adaptação”, explicam os autores do projeto.
Outro exemplo é o Rainforest Guardian Skyscraper (Arranha-céu Guardião da Floresta Tropical), uma torre de água que serviria como estação para incêndios florestais, estação climática e laboratórios de pesquisa científica e educação. A construção foi criada para ser implantada na Amazônia, evitando incêndios através da captura de água na estação chuvosa e irrigando a terra na estação seca.
A torre, dos arquitetos Jie Huang, Jin Wei, Qiaowan Tang, Yiwei Yu e Zhe Hao, é capaz de capturar água diretamente da chuva. A água coletada é filtrada e armazenada em reservatórios de reposição. Em caso de incêndio, os bombeiros vão até a região da torre e pagam o fogo com a água coletada.
Além disso, o Rainforest Guardian Skyscraper ofereceria laboratórios de pesquisa especiais para que os cientistas monitorem as mudanças climáticas e a estabilidade ecossistêmica. Os laboratórios também atuariam como espaços de exposição para turistas destinados à consciência ambiental.
Um terceiro exemplo é a Climatology Tower (Torre Climatológica), dos arquitetos Yuan-Sung Hsiao, Yuko Ochiai, Jia-Wei Liu e Hung-Lin Hsieh, projetada como um centro de pesquisa que avalia a meteorologia urbana e corrige o ambiente através da engenharia. O arranha-céu analisa microclimas resultantes do uso de materiais industriais, acumulação de edificações e escassez de espaços abertos.
A edificação consistiria em uma torre envolta em uma grande bolha em que se avaliariam uma variedade de fatores como insolação, radiação e cobertura térmica. Os dados coletados fora da estrutura são comparados com os níveis desenvolvidos dentro da estrutura, então sistemas mecânicos respondem para ajustar os níveis das condições ambientais de fora para índices aceitáveis.
Além disso, os dados coletados no local são transferidos para um centro de controle das prefeituras, dando a oportunidade de manter o ambiente mais saudável em todo o perímetro urbano.
“Isso pode beneficiar comunidades inteiras. A informação climática também é apresentada publicamente, através de redes digitais, notificando o público a manter certas condições para preservar tanto a energia quanto a saúde”, comentaram os autores.
Apesar de tais inovações ainda não estarem disponíveis, não é preciso esperar o futuro para ver edificações deste porte que de alguma maneira beneficiam o meio ambiente.
Um exemplo nesse sentido é o da Torre Agbar, em Barcelona, cujo design conceitual integra valores sustentáveis da arquitetura bioclimática. O prédio tem 4,5 mil janelas para maximizar a ventilação natural e reduzir os custos de energia, otimizando o uso de luz natural.
Outro fator chave da torre é sua iluminação noturna, que usa 4,5 mil dispositivos de LED controlados por computador. Já o consumo de energia para o ar-condicionado é reduzido através de sensores de temperatura no exterior da torre, que regulam a abertura e fechamento das cortinas de vidro.
Recentemente, o edifício obteve a maior classificação, a “Gold Class”, no Livro do Ano da Sustentabilidade do Sustainable Asset Management (SAM) em colaboração com a KPMG, publicação que analisa a sustentabilidade de mais de 2,5 mil empresas de 58 setores industriais em todo o mundo.
Outro caso é o da Torre Gherkin, famoso ícone londrino do arquiteto Norman Foster, que se tornou um exemplo de inovação no design sustentável de grandes edificações comerciais. Isso porque, mesmo antes de seu término, o edifício abordou a percepção de que as mudanças climáticas induzidas pelo ser humano ameaçam as economias e as populações.
A torre trabalha com a ideia da redução do consumo de recursos para diminuir a probabilidade das mudanças climáticas mais catastróficas, com a concepção de que os riscos ecológicos da modernização podem ser administrados através da inovação tecnológica e com o conceito de que projetos sustentáveis podem promover o crescimento econômico, e não ser um obstáculo a ele.
Em termos práticos, a Torre Gherkin adotou, por exemplo, um sistema de ventilação natural para minimizar o uso de energia para o aquecimento: duas cortinas envolvem a edificação, compostas de painéis de vidro.
O calor se acumula no ar que fica entre as duas cortinas quando necessário, e o ar quente é expelido do prédio por aberturas em diversas partes da cortina exterior quando o tempo permite, possibilitando a entrada de ar fresco. Essas janelas são operadas por computador, que simplesmente calculam a diferença de pressão para que haja essa troca.
Segundo o escritório de Foster, o sistema de ventilação chega a reduzir o consumo de energia da edificação em até 50% em relação a outras torres comerciais do mesmo porte. “A natureza toma conta da temperatura do prédio. É apenas no calor ou frio extremo que as janelas se fecham e a temperatura é regulada pelo sistema automatizado de ar condicionado”, comentou o arquiteto em uma entrevista.
Além da tecnologia já empregada a serviço da climatização, o edifício começou recentemente a testar um painel de vegetação em sua fachada que promete trazer os benefícios dos telhados verdes para a superfície exterior de edificações de grande porte.
Os painéis funcionariam absorvendo a umidade do ar e canalizando-a através de membranas especiais, gerando água para as plantas crescerem. Os vegetais, uma mistura de liquens e gramíneas, devem trazer vantagens como sombreamento, isolamento térmico etc.
São exemplos que mostram que, se a tecnologia não pode resolver todos os problemas ambientais que criamos, ao menos pode ajudar a solucioná-los.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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