Mas mesmo em um ambiente com esse conforto, não podemos esquecer dos desafios ambientais que nosso planeta enfrenta. Estarmos fora de casa não é desculpa para desperdícios de água ou energia, por exemplo. Muito menos para exageros, como querer kit de toalhas e pisos limpos, sem necessidade.
“Cada quilo de enxoval do banheiro consome de 12 a 18 litros de água limpa para ser lavado”, informa Silda Madalena Raguse, governanta do Novotel Center Norte, na capital paulista. O hotel integra a Rede Accor, que conta com cerca de 3.600 unidades somando 460 mil quartos em todo o mundo, e promove em cada uma delas o programa Planet 21, com 21 compromissos em prol do desenvolvimento sustentável e da redução da pegada ecológica de suas operações.
Entre eles, está a iniciativa Plant for the Planet – Plante pelo Planeta, na qual, a cada cinco itens do kit do banheiro mantido em uso pelo hóspede de uma diária para a outra, uma árvore nativa é plantada em área de preservação permanente. A iniciativa alcança hoje uma média de 2000 árvores plantadas por dia, em todo o mundo.
Cada muda é colocada no solo já no tamanho adequado para resistir às condições locais e se tornar árvore. O plantio é realizado, no Brasil, em parceria com uma instituição especializada em reflorestamento e educação ambiental, a Nordesta.
Essa tem um viveiro na região de Arcos em Minas Gerais e produz mudas já rústicas, conforme explica Neuza Falco Galvão, responsável pelo projeto: “Nossas mudas não crescem em estufa. São todas elas cultivadas ao ar livre e, por isso, resistem melhor quando colocadas no solo”. Outro cuidado da Nordesta é ter um engenheiro florestal para escolher a área e planejar o plantio.
“É preciso espaçar adequadamente as mudas, assim como fazer uma mistura apropriada de espécies pioneiras, secundárias e de clímax”, explica Claiton Majela da Silva, profissional dessa especialidade, contratado pela Nordesta. Ele explica que pioneiras são plantas que crescem e morrem mais rápido. Dessa forma, produzem sombra e matéria orgânica para apoiar as espécies seguintes: secundárias e de clímax – isto é, de longa vida.
Essa é a forma natural das florestas se formarem.
As mudas da Nordesta são produzidas com raízes na forma de tubetes e, em cada cova, é adicionado um gel umectante, que libera água por até 15 dias para garantir a hidratação da planta, que é monitorada por cinco anos pela equipe da Nordesta. Caso alguma muda morra, mesmo com todos esses cuidados, ela será imediatamente reposta.
“Produzir mudas e plantar é muito mais fácil do que descansar de fato à sombra da futura árvore”, observa Darlan Alcântara de Pádua, chefe do Parque Nacional da Serra da Canastra, que terá uma área de 40 mil metros quadrados recuperados graças ao projeto do Grupo Accor. Darlan observa que poucos projetos têm uma seriedade e eficiência técnica como essas, por isso o Parque aceitou a parceria.
Até então, os plantios ocorreram em terras do entorno do Parque, cujos proprietários concordaram em isolar a área do gado ou de outros usos, para uma total recuperação.
O Plant for The Planet, do grupo Accor, elegeu a Serra da Canastra para os plantios no Brasil, por seu papel crucial na produção de água, sendo berço de várias nascentes, inclusive a do Rio São Francisco que corre dali para o Nordeste. Participam da iniciativa em terras brasileiras 163 hotéis do próprio Brasil, do México e da Colômbia. Ao total, 340 mil mudas foram plantadas na região desde o início do projeto em 2009, recuperando 55 nascentes em 39 propriedades de oito municípios.
Camareiras fomentam a transformação
Um ponto chave de toda essa realização é o trabalho das camareiras. Em todas as bandeiras do Grupo, elas são preparadas para expor aos hóspedes a importância de deixarem as toalhas penduradas, caso estejam limpas e concordem em usá-las mais uma vez. “O público tem sido muito consciente e até nos chamam a atenção que estão colaborando”, comenta a camareira Rosemeire Neves, do Sofitel do Guarujá.
Já Valdirene Siqueira Dias Benetti enfrenta outra realidade. Ela arruma os quartos no Mercure Campinas. “Ainda recebemos grandes grupos ligados a eventos, aos finais de semana, e muitos hóspedes, talvez pela pressa, não percebem os avisos e placas sobre o programa. Quando temos uma chance, explicamos a proposta, mas nem sempre há tempo para isso”, comenta a profissional, que foi uma das escolhidas para conhecer o plantio na Serra da Canastra e visitar o parque nacional.
A cada ano, a rede Accor faz um balanço de qual hotel contribuiu mais para o programa, economizando mais lavadas. O controle é todo automatizado. “Temos um sistema onde anotamos quando os hóspedes permitem a permanência do kit no banheiro. Cada hotel tem um custo de lavagem. O programa soma a economia alcançada e destina a verba do plantio. Ele também compara a adesão com o número de diárias totais. Quem alcança um resultado melhor, ganha a viagem para ver de perto o benefício que geramos”, detalha a governanta Silda, que está há oito anos no grupo e participa desde o começo do Plant for the Planet.
Além da boa performance, há funcionárias que são escolhidas por sorteio. Na viagem de conhecimento, o grupo visita o viveiro, prepara mudas e ainda realiza um plantio no campo, ouvindo toda a explicação da importância das matas para o clima e a geração da água.
A visita é documentada em fotos e vídeos, para que possam divulgar as vivências na Serra quando retornarem aos seus locais de trabalho. “Foi muito importante a gente poder vir ver de perto. Ver os plantios assim de verdade”, entusiasma-se Valdirene.
Alessandra Silveira, do Ibis de Criciúma,estava feliz por ter plantado árvores pela primeira vez. Ela pôde colocar na terra uma espécie pioneira e uma climáx. Samanta Oliveira, do Mercure de Santo André também se emocionou com toda a experiência. Ela está há um ano na rede, após ter participado de um outro programa da Accor que oferece formação a jovens, através de oficinas de hotelaria.
O plantio do qual elas participaram foi realizado em torno de uma nascente, nas terras de João Rodarto Pereira, pequeno agricultor familiar. O proprietário também estava muito satisfeito com o benefício do reflorestamento em suas terras, que contou ainda com apoio da organização Terra Brasilis. Esta ofereceu 274 metros de cerca para isolar a nascente e a mata ciliar da propriedade das cabeças de gado que pastam ali ao lado.
Thayara Paschoal, gerente de Responsabilidade Social Corporativa para a América Latina da Accor e organizadora da viagem, explica que quanto mais as camareiras entenderem cada ponto do Planet 21, melhores resultados serão alcançados, pois elas lidam com a questão do reuso das toalhas, diariamente.
O próximo passo, já iniciado em algumas bandeiras do grupo, é estimular a permanência dos lençóis na cama, por mais de um dia, sempre que estiverem limpos. Uma plaquinha já está sendo colocada nos quartos de alguns hotéis convidando os hóspedes a este gesto. O sistema está sendo adaptado para registrar também o controle das lavagens economizadas dos enxovais das camas e, assim, os recursos destinados para o reflorestamento aumentarão.
(Envolverde)
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