No início de 2013, com os níveis dos reservatórios das hidrelétricas próximos aos de 2001, época do famoso apagão, o Brasil esteve à beira de uma nova crise energética. Caso as usinas termoelétricas iniciadas no final do governo Fernando Henrique Cardoso (1999-2002) não tivessem sido instaladas, muito provavelmente o Brasil passaria por um novo racionamento.
Frente a esse quadro, alternativas, como investimentos em energia eólica, estão sendo exploradas. No entanto, a redução do consumo sempre é uma alternativa plausível. Um dos grandes vilões da demanda energética do país está dentro de nossas casas -o chuveiro elétrico. No Brasil, 40 milhões de famílias utilizam chuveiro elétrico, e ele corresponde de 8% a 10% de toda a demanda energética do país.
Custo
O uso de aquecedores solares para os chuveiros elétricos pode representar uma grande solução ambientalmente correta para reduzir o consumo.
Os primeiros aquecedores solares foram desenvolvidos na Europa e começaram a chegar ao Brasil na década de 1970. Devido ao elevado custo desses equipamentos, somente uma pequena parcela da sociedade passou a usufruir seus benefícios.
Hoje, menos de 2 milhões de lares brasileiros possuem um aquecedor solar em funcionamento. O custo elevado do equipamento inviabiliza a aquisição por grande parte da população. Conhecendo essa realidade, vários engenheiros, que posteriormente viriam a constituir a Sociedade do Sol, resolveram enfrentar o desafio de desenvolver um aquecedor solar com um custo bem inferior ao disponível no mercado.
Após vários anos de pesquisa, em 1992, a sociedade apresentou o protótipo do Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC) na Eco-92, com o mote "Um aquecedor solar em cada lar". O sistema desenvolvido é constituído de materiais simples: tubos de PVC, caixa d'água comum, forro de PVC e resina. Com cerca de R$ 400 qualquer pessoa pode montar seu próprio ASBC em casa e, assim, obter água quente suficiente para uma família de cinco pessoas. No entanto, o sistema pode ser fabricado com volume de até mil litros, servindo também instituições como hotéis, pousadas, creches e asilos. A vida útil do sistema é de no mínimo dez anos.
Com o protótipo já aprimorado, foi criada formalmente a organização Sociedade do Sol, no Centro de Inovação e Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da USP, no mesmo ano em que o Brasil sofreu com o apagão.
Com o mesmo intuito de "Um aquecedor solar em cada lar", a organização, desde então, trabalha para difundir a técnica de montagem dos aquecedores, realizando cursos de qualificação e distribuindo gratuitamente manuais de como montar os equipamentos.
Divulgação/Brasil27 | ||
Com o Aquecedor Solar de Baixo Custo é possível obter até 80% de economia na conta de energia |
O empreendedor Rafael Xavier, geógrafo, 31, foi uma das pessoas que viram no ASBC uma oportunidade de trabalho social. Em 2009, foi criado um projeto de extensão na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), resultante de uma parceria com a Sociedade do Sol, com o objetivo de capacitar o maior número de pessoas na construção do ASBC.
Em 2012, após se formar no Programa Dignidade oferecido pela Fundação Dom Cabral, Xavier vislumbrou a ideia de transformar a sua atividade de capacitação em um empreendimento, nascendo a Gerasol - Energia solar para todos. A empresa tem como objetivo a disseminação popular da energia solar, levando os aquecedores aos lares de Minas Gerais e, assim, incentivar a geração de energia limpa no país, reduzir o consumo e despesas com energia elétrica e formar multiplicadores que poderão gerar renda com a atividade de produção e instalação do ASBC.
Além de contribuir para a preservação ambiental, o uso do ASBC também impacta no bolso das famílias. Segundo Xavier, ao deixar de utilizar chuveiros elétricos, gera-se uma economia mínima de 40% na conta de luz. Dependendo do número de pessoas na residência, a economia pode chegar até a 80%. Dessa maneira, já no primeiro ano, uma família que possui uma conta mensal de R$ 100, consegue pagar seu investimento inicial de cerca de R$ 400 para a construção e instalação do aquecedor e ainda economizar mais de R$ 80.
A Gerasol comercializa aquecedores solares já prontos, os materiais para quem quiser montar seu próprio aquecedor solar, oferece os serviços de instalação e de assessoria. Entretanto, o carro-chefe da empresa são os cursos de capacitação para a montagem dos aquecedores. Além das pessoas interessadas em economizar e usar energia limpa em suas casas, o curso também atrai multiplicadores, que querem aprender e levar a tecnologia para sua cidade, e empreendedores, com o objetivo de gerar renda com a instalação de aquecedores em suas regiões. Uma vez capacitados, esses empreendedores podem ser parceiros da Gerasol na instalação de aquecedores em grandes projetos.
Os cursos são ministrados mensalmente em Belo Horizonte e, sob encomenda, em outras regiões. Têm duração de oito horas, e os participantes saem aptos a montar e instalar seus próprios aquecedores. O curso em Belo Horizonte custa R$ 60 reais para turmas de 30 a 60 pessoas _10 % das vagas são gratuitas e distribuídas a pessoas que não têm condição de arcar com a despesa. De 2012 até hoje, Xavier já ministrou 82 cursos para mais de 3.500 pessoas, das quais estima-se que mais de mil instalaram os aquecedores em suas casas e nas de outras pessoas.
BRASIL 27
Iniciativa conjunta dos jovens Fabio Serconek e Pedro Henrique G. Vitoriano e contando com apoio do Centro de Empreendedorismo e Administração em Terceiro Setor (Ceats) da Universidade de São Paulo (USP), o Projeto Brasil 27 está visitando todos os Estados brasileiros para estudar, em cada um deles, um exemplo de negócio social. Conta com o apoio do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), das fundações Avina e Rockefeller, e da Rede Omidyar.
Os registros da jornada ficarão disponíveis no blog do projeto e serão publicados aqui, semanalmente, no Empreendedor Social.
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FONTE : FABIO SERCONEK e VANESSA RODRIGUES http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/colunas/2014/01/1399210-brasil-27-uma-solucao-em-energia-solar-de-baixo-custo.shtml
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