As maiores empresas globais estão mudando de atitude com relação à mudança climática. Já incluíram a mudança climática como um fator de risco real em suas decisões. A maioria já avalia seu risco climático e desenvolve mecanismos de gestão desse risco. A primeira reação, havido sido a de negar sua existência ou a possibilidade de levá-la em consideração em seus cálculos e estratégias centrais. Depois, passaram a tratar a mudança climática como uma incerteza sobre a qual nada podiam fazer. Agora ela está no centro de suas decisões estratégicas.
Como se dá essa gestão de risco? Do mesmo modo que as empresas manejam seus riscos financeiros, econômicos, regulatórios e políticos. Tomam medidas preventivas, tentam se adaptar ao ambiente de risco, tornando-se mais resilientes, mudam suas estratégias para considerar o impacto possível desses riscos. Investem em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e métodos de operação que lhes permitam reduzir sua vulnerabilidade aos riscos.
Pesquisa revelou recentemente que 29 grandes empresas usam preço sombra para o carbono em seus modelos financeiros para avaliar o risco climático. O governo Obama também usa um preço para o carbono, um custo social do carbono, para orientar as decisões regulatórias da agência ambiental EPA, que fixou em US$ 36.00 a tonelada. A lei do ar limpo obriga a regulação a se basear em análise de custo-benefício e uma ordem executiva (espécie de decreto presidencial) regulamentou esse processo pelas agências, ficando a “filosofia regulatória do governo federal”, segundo a qual cada agência deve fazer estimativas que lhe permitam arrazoada determinação de que a regulação justifica seus custos.
Por que as empresas estão fazendo isso? Porque quando elas examinam o que os cenários de mudança climática mostram como futuro provável e verificam que alguns deles afetariam diretamente sua lucratividade. Eventos extremos cada vez mais frequentes, variabilidade climática imprevisível são fatores concretos de risco que rompem frequentemente as cadeias de suprimentos. Empresas, por exemplo, que dependem de água, já perderam muito com a escassez de água em várias regiões, com o aumento e a severidade da seca desde 2004 e com enchentes cada vez mais violentas, a cada dois anos. Empresas que usam algodão, no vestuário e na produção de equipamentos esportivos, ou milho e soja, para ração ou como matéria prima alimentar, estão em alerta após oito anos consecutivos de quebras de safra em vários países grandes produtores por causa de eventos climáticos extremos. E podemos estar entrando no nono ano em que essas perdas podem voltar a acontecer. Outro exemplo é o de empresas em áreas de de furacões e tornados, que estão ficando mais destrutivos. Esses eventos extremos reduzem a oferta de produtos agrícolas de que dependem, interrompendo as cadeias de suprimento e os fluxos logísticos (por causa de danos no sistema de transporte e interrupção do tráfego), elevando significativamente os custos de produção e, consequentemente, o preço final. Elas vêem o que está acontecendo como uma prévia dos extremos climáticos que vêm por aí.
O risco climático acendeu, definitivamente, uma forte luz amarela no painel de controle das maiores empresas globais. Tudo começou com as seguradoras, que já perderam muito com o pagamento de seguros por danos materiais associados a eventos climáticos extremos. Elas começaram a pressionar seus clientes para avaliar seu risco climático e tomar medidas a respeito. As empresas que não avaliam seus riscos têm dificuldade em comprar seguros ou devem pagar um prêmio proibitivo. Depois vieram os investidores que olham a mais longo prazo, como os fundos institucionais e os grandes fundos de pensão independentes. Também começaram a ameaçar retirar de seu portfólio as empresas que não avaliassem adequadamente seu risco climático e não o incorporassem ao seu bottom line, a linha que determina sua taxa de retorno. O risco climático é visto, hoje, como disruptivo das operações das empresas, danoso às suas taxas de retorno e passíveis de reduzir seu horizonte de vida rentável.
Por outro lado, do ponto de vista da equação financeira, as empresas já não têm dúvida de que o custo do carbono se imporá e aumentará, elevando, também, o custo da energia. Na última reunião do Fórum Econômico Mundial, houve uma sessão inteira, toda a sexta-feira, dedicada apenas à ameaça climática.
As práticas de gestão de risco das maiores empresas globais já estão contribuindo para a formação de um preço de carbono de mercado que, no futuro, pode vir a ser usado para calcular impostos sobre o carbono. Entre os economistas que colocaram a mudança climática em seu radar, já não há mais dúvidas sobre seu impacto econômico negativo e sobre o efeito econômico positivo das ações de gestão do risco climático, que aumentam o investimento em tecnologias e energias de baixo carbono ou carbono-zero. São as áreas de maior dinamismo da economia em várias países, e com melhores perspectivas de longo prazo, e geram mais e melhores empregos. Agora é uma questão de investir para reduzir os efeitos econômicos e financeiros e aumentar os benefícios decorrentes das mudanças que acabam tornando as empresas mais resilientes, mais competitivas e mais eficientes.
As empresas não estão ficando boazinhas. Falhas de mercado também têm impacto negativo sobre cadeias produtivas, cadeias de suprimento e cadeias logísticas. As grandes corporações globais continuam operando com a filosofia do interesse próprio e da ideologia empresarial do “lean and mean”, do tamanho ótimo e da máxima agressividade empresarial. É da natureza do animal e do seu ambiente, o capitalismo. Mas, quando algo de alto interesse coletivo atinge seus interesses particulares centrais, passa a ser problema delas e não apenas da sociedade. Elas preferem resolver o problema por conta própria a ter que enfrentar intervenções regulatórias cada vez mais exigentes.
* Publicado originalmente no site Ecopolítica.
(Ecopolítica)
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