Comércio faz sugestões para viabilizar a Lei de Resíduos Sólidos
Por Amelia Gonzalez
Em 2000, no Reino Unido, por exemplo, 80 milhões de lâmpadas fluorescentes eram descartadas anualmente. Dez anos depois, o livro “A história das coisas”, escrito por Annie Leonard e baseado no vídeo “The Story of Stuff”, grande sucesso mundial da internet, dava conta de que, a cada ano, entre 5 e 7 milhões de toneladas de eletrônicos tornam-se obsoletos. “Seus componentes tóxicos contaminam a terra, o ar, a água e todos os habitantes do planeta”, diz a autora.
Mas, apesar de já estar sancionada há quatro anos, a Lei ainda precisa “pegar” aqui no Brasil. Experimente, por exemplo, se negar a levar o vestido que acabou de comprar dentro da sacola com o nome da loja e você, leitor, verá a expressão de espanto da vendedora.
Por essas e por outras, fiquei interessada quando recebi o release da Assessoria de Comunicação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) com o título “CNC mobiliza o comércio em torno da Logística Reversa”. Fiz contato com o diretor do órgão, Marco Aurélio Spovieri, para saber que tipo de impactos ao comércio a Política Nacional de Resíduos Sólidos pode causar, como explicava o texto. E quais são as sugestões que os comerciantes têm para dar.
Spovieri explicou-me que há alguns pontos na Lei que não são bem absorvidos pelo pessoal do comércio, sobretudo por lojas pequenas, com pouca infraestrutura. Um deles é a obrigação de receber produtos já usados para mandar reciclá-los:
—- Assim que a Lei foi sancionada e se implantou no município de São Paulo, fomos chamados para resolver um problemão. É que uma grande empresa estacionou um caminhão com 15 mil lâmpadas queimadas diante de uma loja que tinha cem metros quadrados e queria obrigar o dono a receber aquilo tudo. Tivemos que ir lá e contemporizar: era impossível! – contou-me Spovieri.
A sugestão dos comerciantes é que todo produto seja vendido já com um custo adicional destacado, à vista para o comprador saber que está pagando a mais para reciclá-lo. É o que a CNC chama de “contribuição invisível”, e por que teria que vir destacado? Para que esse valor não seja somado ao total na hora de pagar o tributo. Vejam a explicação:
Ainda tem outra história complicada: a lei diz que a logística reversa é de responsabilidade do fabricante. Mas, e se o computador for comprado no exterior? Quem terá que se responsabilizar? A fabricante de lá ou daqui?
—- Uma das sugestões que pusemos no postulado que já enviamos para o Ministério do Meio Ambiente é que não vamos nos responsabilizar por produtos que não sejam de empresas sediadas no Brasil. Se a pessoa comprar um computador no Paraguai, na hora de entregar para reciclar não vai conseguir fazer isso aqui no Brasil. São produtos que chamamos de órfãos – disse Spovieri.
Por que tanta resistência? Porque a própria Lei faz algumas exigências necessárias para o processo de reciclagem que vai obrigar uma mudança de cultura e… um investimento financeiro por parte dos lojistas. O transporte, por exemplo:
—- Você vai e compra uma lâmpada, põe no seu carro e leva para casa. Quando ela queima, você leva para o posto de recolhimento. Só que o responsável por este posto vai precisar ter caminhão, equipamento e equipe especiais para fazer o transporte porque aquela lâmpada, queimada, vira resíduo tóxico por causa do mercúrio. Assim também com televisões e computadores. O que estamos postulando é que isso seja revisto na Lei. Se a lâmpada ou o aparelho estiverem intactos podem ser transportados sem todo esse cuidado porque aí não é tóxico, o mercúrio não está no ar, é como se ela estivesse boa, não é?
A turma do comércio tem ainda uma preocupação com a propriedade: se o celular ou o computador jogados fora contiverem fotos ou senhas, de quem será a responsabilidade se cair em mãos de bandidos? A CNC quer regular isso também. São detalhes do dia a dia do negócio que só quem está na ponta do processo consegue enxergar. Para nossa sorte, vivemos numa democracia e tudo o que foi discutido, segundo Spovieri, “exaustivamente com indústria, comércio, distribuição, importadores”, foi entregue ao governo com pedido para que a Lei seja revista. E, com base no exemplo europeu, há ainda a ideia de se criar uma espécie de entidade gestora que se encarregaria de fazer este trabalho de reciclagem.
É um processo de mudança cultural, como eu falei, que ainda está dando seus primeiros passos. Daqui a algum tempo estará tão mudado que a gente nem vai se lembrar mais como era antes. A torcida é que a mudança seja para melhor, realmente. Porque ainda fico meio indignada, por exemplo, quando vejo o que aconteceu com as sacolinhas plásticas, que viraram o vilão do meio ambiente. Alguns supermercados fazem assim: quem leva sua própria sacola retornável para as compras ganha um desconto – de três centavos para cada cinco itens. Mas a bolsa retornável é vendida por preços que não são menores do que R$ 4.
Assim o meio ambiente pode até sair ganhando, sim. Mas o que fazemos com o pensamento sobre uma distribuição de lucro mais sensata que resulte, isso sim, numa sociedade mais sustentável? Bem, isso pode ser conversa para um outro post. Até lá.
Fonte: G1 - Nova Ética Social.
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