Já há algum tempo, ambientalistas e pesquisadores perceberam que, para conseguirem ser ouvidos e obterem resultados para seus alertas, é preciso apresentar suas informações na forma de prejuízos econômicos. Assim, apontar diretamente as consequências das perdas de ecossistemas e das mudanças climáticas nos cofres públicos ou nos investimentos privados virou um norte que é cada vez mais seguido.
Nesta semana, três novos trabalhos fazem justamente isso, chamando a atenção por tentar precificar os grandes problemas ambientais e climáticos que estamos vivendo.
O primeiro deles é o relatório “Estratégia Global pada a Gestão Sustentável de Terras”, lançado durante o encontro sobre degradação de terras das Nações Unidas, que está sendo realizado na Namíbia.
Produzido pela The Economics of Land Degradation Initiative (ELD) (algo como Iniciativa da Economia da Terra Degradada), o estudo afirma que, atualmente, 168 países sofrem com a degradação de suas terras, gerando um prejuízo anual de US$ 40 bilhões.
“Se não conseguirmos mostrar nossas preocupações em um formato que seja entendido por ministros de planejamento ou finanças, pouca coisa acontecerá. É por isso que estamos tentando falar a mesma linguagem que essas pessoas, para que os países coloquem as ações necessárias dentro dos seus orçamentos”, explicou Richard Thomas, principal autor do estudo.
No entanto, a ELD também tenta destacar os possíveis ganhos se uma gestão sustentável das terras for colocada em prática.
De acordo com o relatório, se melhores tecnologias e métodos forem implementados ao redor do mundo, seriam ampliadas as áreas para a produção de alimentos sem a necessidade de avanço sobre regiões de natureza intocada. O valor dessas novas áreas agrícolas chegaria a US$ 1,4 trilhão.
Conflitos
Outro trabalho, realizado pela consultoria Munden Project a pedido da Rights and Resources Initiative (Iniciativa de Direitos e Recursos) dos Estados Unidos, destaca os riscos para investidores caso não sejam respeitados os direitos dos povos nativos sobre a propriedade de suas terras.
O “Global Capital, Local Concessions” (Capital Global, Concessões Locais) analisou 153 milhões de hectares de terras em 12 países emergentes, incluindo Brasil, Argentina, Indonésia e Moçambique, e concluiu que 3750 concessões comerciais estão sobre terras indígenas, cobrindo um total de 48,4 milhões de hectares.
Essa sobreposição pode resultar em conflitos e disputas legais, o que, com certeza, representa um risco para investidores internacionais, que deveriam ter esse tipo de preocupação em mente quando escolhem onde aportar seus recursos. Apenas para o setor de agricultura, o valor da produção sob risco foi avaliado em US$ 5 bilhões.
Sobre o Brasil, o relatório destaca a situação dos Guarani-Kaiowá, que exigem compensações por terem perdido terras para o agronegócio.
É citado o estudo “Em terras alheias – a produção de soja e cana em áreas Guarani no Mato Grosso do Sul”, divulgado pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) e pelo Repórter Brasil, que fez o mapeamento da corresponsabilidade da cadeia produtiva da soja e da cana nos problemas decorrentes da ocupação das terras Guarani-kaiowá no MS.
A tabela abaixo é um sumário da sobreposição do cultivo da soja em terras indígenas brasileiras.
“Comunidades que vivem de suas terras sofrem com diferentes desafios, como pobreza, fome e com a crescente ameaça do `desenvolvimento` que busca expulsá-las de seus locais tradicionais de ocupação. Muitos conflitos que vemos hoje seriam evitáveis se pelo menos as leis nacionais fossem postas em prática”, destacou Andy White, coordenador do Rights and Resources Initiative.
Mudanças Climáticas
Os prejuízos econômicos decorrentes do aquecimento global ficam evidentes a cada novo evento climático extremo, já que a imensa maioria da comunidade científica concorda que uma das consequências da elevação da temperatura média do planeta é o aumento da frequência e da intensidade desses fenômenos.
No entanto, ainda falta muito para se conhecer todos os impactos globais das mudanças climáticas. Para tentar diminuir essa lacuna no nosso conhecimento, um grupo de sete países lançou nesta semana o projeto New Climate Economy (Nova Economia Climática).
A intenção é apresentar na próxima Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2014, uma avaliação completa e revisada dos custos e benefícios de se cortar as emissões de gases do efeito estufa.
“Os impactos da mudança do clima estão crescendo assim como o aumento da temperatura está cada vez mais claro, mas a maioria das análises econômicas não inclui adequadamente os riscos crescentes da mudança do clima ou as oportunidades que podem existir com o fenômeno”, afirmou Felipe Calderón, ex-presidente do México.
“Temos que identificar com urgência como podemos ter crescimento econômico e criar empregos ao mesmo tempo em que reduzirmos emissões de gases-estufa.”
Calderón é o atual líder do Global Commission on the Economy and Climate (GCEC) (Comissão Global sobre Economia e Clima), entidade que bancará os US$ 8,9 milhões necessários para a inciativa.
O documento pode ser considerado uma atualização do relatório Stern, que já em 2006 apontava o risco de perda de 5% a 20% do PIB mundial anual com os impactos das mudanças climáticas.
O próprio Nicholas Stern, que é vice-presidente da GCEC, participará da elaboração do novo documento.
“Em um tempo no qual governos de todo o mundo estão sofrendo para incentivar o crescimento, aumentar o acesso a energia e melhorar a segurança alimentar, é essencial que todos os custos e benefícios das políticas climáticas sejam claramente entendiados. Não podemos pensar que é o caso de se escolher entre crescimento econômico ou lidar com o aquecimento global, é preciso fazer os dois”, declarou o economista.
Os sete países bancando a iniciativa são Colômbia, Coreia do Sul, Etiópia, Indonésia, Noruega, Reino Unido e Suécia.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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