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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Arcaico e moderno

Na revolução agrícola, uns não sabem o que temos de mais promissor e outros fingem não saber por má-fé.
A agricultura é a principal base de lançamento estratégico do país na competição mundial. É a sua alta produtividade, em quantidade e qualidade, que abre barreiras, derruba preços e faz a vida melhor e mais barata. Só que essa verdade incontestável e estatisticamente demonstrável, que faz da vida rural, combinada com tecnologia, uma novidade material e econômica, ainda não tem, para toda a sociedade, a visibilidade simbólica que lhe faça justiça.
Muito precisa ser esclarecido sobre nossa maior vantagem comparativa e competitiva.
Porque uns, por desconhecimento da moderna revolução agrícola pela qual passa o nosso país, ainda não sabem o que temos de mais promissor; outros fingem não saber, por má-fé e apego aos mitos do país arcaico, o que reduz o ímpeto do crescimento do Brasil.
Mas quem vive a vida no campo, integrado ao progresso urbano, compreende bem porque a afirmação dos interesses dos cidadãos do mundo rural combina com a afirmação de princípios de todos os cidadãos do nosso país.
O desafio brasileiro não é a ruptura dos dois brasis -o novo, ter a ilusão que pode, num passe de mágica, expulsar o arcaico da política, da economia, da vida social- mas sim convencer gradativamente o país que o moderno deve assimilar o arcaico e torná-lo disfuncional e desnecessário.
Todo o processo de mobilidade social em nosso país, que permitiu o surgimento e o progresso de diferentes classes sociais, maior transferência de renda e o acesso a bens e produtos de consumo, se deve, fundamentalmente, à estabilização e barateamento dos preços de alimentos. Foram o acesso à tecnologia e a difusão do conhecimento científico aplicado à agricultura que evitaram, todos esses anos, carestia, crise de abastecimento e ameaça à estabilidade política.
Ao gastarem menos para alimentar as famílias, urbanas e rurais, puderam viver melhor.
E todo esse esforço combina, como em nenhum outro país do mundo, preservação ambiental com qualidade e quantidade dos alimentos produzidos.
Mesmo quando a escassez de mão de obra no campo fez aumentar o seu custo, o domínio da tecnologia impulsionou a produtividade, freando a alta de preços. E nas áreas onde ainda existem baixa produtividade, exclusão social e pobreza -de propriedades e proprietários-, podemos dizer que tal realidade é o espelho da falta de difusão tecnológica.
Uma política pública voltada para gerar e difundir tecnologia, que contemple, entre outras medidas, a reorganização do sistema de assistência técnica, extensão rural e a criação de um órgão inteiramente dedicado a esse fim, é fundamental para consolidar os ganhos da sociedade até aqui e criar condições para que continuemos a avançar.
Essa nova política pública, capaz de democratizar o acesso à tecnologia e modernizar a agricultura familiar e as pequenas propriedades pode ser o principal fator de inibição do arcaico que ainda persiste em várias regiões.
E daí deriva uma certeza que incomoda os críticos do sucesso de nossa agricultura: o progresso na área rural é poupador de terra e fator de estabilidade ambiental. Não é a área plantada que reflete a maior produtividade, mas sim a tecnologia empregada.
O historiador e economista inglês Arnold Toynbee afirma que "existem dois fatores constantes na vida social: o espírito do homem e o seu meio ambiente.
A vida social é a relação entre eles, e a vida somente se ergue ao cume da civilização quando o espírito do homem é o parceiro dominante da relação -quando, em vez de ser moldado pelo meio ambiente, ou simplesmente preservar-se em tensão com o meio numa espécie de equilíbrio, ele molda o meio ambiente de acordo com seu propósito ou "expressa" a si mesmo "imprimindo-se" sobre o mundo".
A inteligência agrícola brasileira imprime ao país sua marca de sucesso, respeitando a parte intocável do nosso território e preservando e mantendo fértil a parte que cultiva. É muito mais do que qualquer grande visionário de um mundo justo possa aceitar e compreender.

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FONTE : KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados nesta coluna.

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