Para a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo, o quadro positivo que se desenha para o setor no país é impulsionado pela competitividade da energia dos ventos e não por incentivos do governo.
Hélices gigantes, instaladas sobre torres de até cem metros de altura, que giram impulsionadas pelo vento e produzem energia elétrica que chega a tomadas em todo o país. Assim funciona a energia eólica. A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo, afirma: “o setor caminha sozinho e não precisa de incentivos do governo”.
Segundo a Abeeólica, a energia dos ventos é hoje responsável pela geração de dois gigawatts (GW), o que equivale a 1,5% dos mais de 110 GW produzidos no país. A energia hidrelétrica é, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, responsável por quase 80% deste total. Porém, o crescimento do setor eólico tem se acentuado nos últimos anos, ultrapassando as expectativas do governo e das próprias indústrias. Atualmente são 71 parques eólicos, instalados em nove Estados, e 94 empresas cadastradas na associação.
A Abeeólica estima que em 2020, os ventos brasileiros gerem 20 GW de energia, um número positivo, mas ainda distante do potencial de 300 GW de capacidade instalada que o país possui.
Nesta entrevista concedida à jornalista da Envolverde, Alice Marcondes, Elbia Melo fala dos investimentos em energia eólica no Brasil, do crescimento desta indústria e das perspectivas de futuro.
O Brasil está entre os quatro países do mundo que mais cresceram nos últimos anos no setor eólico. Que fatores impulsionam este crescimento?
O fator central que impulsiona o mercado de eólica no Brasil é o grande potencial de geração que o país tem. São 300 GW de potencial estimado. Além disso, o país sempre investiu em fontes renováveis, principalmente com as hidrelétricas, e a fonte eólica se tornou muito competitiva nos últimos três anos, porque o custo de sua produção caiu e ela se tornou uma fonte barata.
O que puxou esse custo para baixo? Houve incentivo do governo?
Não houve nenhum tipo de incentivo por parte do governo. A fonte eólica, desde 2009, quando realmente se tornou importante na matriz energética do país, ganhou espaço por competitividade. O que baixou mais ainda os custos de produção foi o avanço tecnológico. A tecnologia de geração de energia pelos ventos evoluiu muito, principalmente nos últimos dez anos. Esta evolução fez com que o custo de produção caísse e ela se tornasse mais competitiva no Brasil.
As pesquisas que proporcionaram essa evolução tecnológica são brasileiras?
Não. Vêm de fora. O Brasil não investiu em tecnologia de eólica justamente porque é uma tecnologia cara e o país não precisava, porque já tem fontes renováveis o suficiente. Quem investiu em tecnologia eólica foram os que realmente precisam, os países da Europa e os Estados Unidos. O Brasil está apenas colhendo os benefícios dessa evolução. O único investimento que o governo brasileiro fez foi em 2004, quando houve um programa de incentivo na contratação de 1.400 megawatts (MW) apenas. Desde então houve um grande ganho de tecnologia e a eólica não precisou mais de incentivo do governo. Em 2009, ela entrou no processo de leilão, foram vendidos 1.800 MW, o que é muito superior aos 1.400 do passado, e já foi de forma competitiva. De 2009 a 2011, já foram vendidos 6,7 GW de eólica a preço competitivo.
O crescimento do setor eólico está dentro das expectativas da Abeeólica?
O crescimento é muito superior à nossa expectativa. Ninguém esperava que a fonte eólica fosse crescer dessa maneira tão rápida. Este crescimento surpreendeu até os investidores da fonte eólica. Agora, já passamos da fase da surpresa e estamos colhendo os benefícios. Então os investidores têm expectativas e estão fazendo investimentos de longo prazo. Acreditamos que decididamente a fonte eólica já faz parte da matriz elétrica brasileira, veio para ficar e é uma importante fonte para o país.
O potencial da eólica é superior ao potencial da hidrelétrica?
Sim. O potencial hidrelétrico hoje é de mais ou menos 250 GW. Deste total já foram aproveitados cerca de 30%, o que equivale a 75 GW. Assim, ainda resta algo em torno de 180 GW de potencial. Porém, este potencial restante está em regiões mais difíceis, mais distantes, como a região amazônica. Isto traz muita dificuldade em termos de licenciamento. Então além do potencial da hidrelétrica ser menor, já que a eólica tem potencial de 300 GW, ela ainda tem estes entraves.
Nestes 300 GW está incluso o potencial de energia eólica offshore (torres instaladas nos mares e oceanos)?
Não. Ainda conseguimos estimar esse potencial. Não começamos a pensar nisso ainda.
As torres e as turbinas utilizadas nos parques eólicos brasileiros são produzidas aqui?
A gente produz cerca de 60%, que é uma obrigatoriedade que o país estabelece para qualquer indústria.
Quais as vantagens socioambientais da energia eólica?
São muitas. Primeiro ela não emite CO2 na geração. Segundo, a fonte eólica convive com as demais atividades econômicas. Quando ela chega a uma determinada região, onde já existe, por exemplo, agricultura ou pecuária, ela convive com essa atividade. Você não precisa deixar de plantar soja ou arroz para montar o parque eólico. Isto é muito importante do ponto de vista ambiental e do ponto de vista socioeconômico, porque ela leva mais renda para as regiões. Outra característica interessante é que o maior potencial de ventos está justamente em regiões improdutivas, que não tinham atividade econômica, como é o semiárido. Então a eólica se torna uma fonte de renda para regiões que eram muito pobres.
Uma usina de energia eólica gera uma quantidade de empregos equivalente a uma usina hidrelétrica?
Não, até porque a complexidade da eólica é bem menor. Montar uma aerogerador é muito parecido como montar um lego. Não precisa de tanto concreto, de cimento, nem de todo aquele aparato para fazer a construção. Porém, mesmo assim, ela gera muitos empregos nas regiões. Atualmente são 12 milhões de empregos na indústria e até o final de 2020, com todos os investimentos que estão sendo feitos, serão 280 mil empregos.
O governo poderia fazer algo para incentivar ainda mais esse crescimento?
O processo de leilões, que é bem competitivo, já é suficiente. O governo deve incentivar aqueles setores que realmente precisam e a eólica não está precisando. O que é importante para a indústria eólica é uma perspectiva de longo prazo, de que ela vai participar da matriz. Incentivo à indústria eólica não tem e não precisa. (Envolverde)
Nota
- Um gigawatt (GW) equivale a um bilhão de watts (W) ou a mil megawatts (MW).
Hélices gigantes, instaladas sobre torres de até cem metros de altura, que giram impulsionadas pelo vento e produzem energia elétrica que chega a tomadas em todo o país. Assim funciona a energia eólica. A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo, afirma: “o setor caminha sozinho e não precisa de incentivos do governo”.
Segundo a Abeeólica, a energia dos ventos é hoje responsável pela geração de dois gigawatts (GW), o que equivale a 1,5% dos mais de 110 GW produzidos no país. A energia hidrelétrica é, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, responsável por quase 80% deste total. Porém, o crescimento do setor eólico tem se acentuado nos últimos anos, ultrapassando as expectativas do governo e das próprias indústrias. Atualmente são 71 parques eólicos, instalados em nove Estados, e 94 empresas cadastradas na associação.
A Abeeólica estima que em 2020, os ventos brasileiros gerem 20 GW de energia, um número positivo, mas ainda distante do potencial de 300 GW de capacidade instalada que o país possui.
Nesta entrevista concedida à jornalista da Envolverde, Alice Marcondes, Elbia Melo fala dos investimentos em energia eólica no Brasil, do crescimento desta indústria e das perspectivas de futuro.
O Brasil está entre os quatro países do mundo que mais cresceram nos últimos anos no setor eólico. Que fatores impulsionam este crescimento?
O fator central que impulsiona o mercado de eólica no Brasil é o grande potencial de geração que o país tem. São 300 GW de potencial estimado. Além disso, o país sempre investiu em fontes renováveis, principalmente com as hidrelétricas, e a fonte eólica se tornou muito competitiva nos últimos três anos, porque o custo de sua produção caiu e ela se tornou uma fonte barata.
O que puxou esse custo para baixo? Houve incentivo do governo?
Não houve nenhum tipo de incentivo por parte do governo. A fonte eólica, desde 2009, quando realmente se tornou importante na matriz energética do país, ganhou espaço por competitividade. O que baixou mais ainda os custos de produção foi o avanço tecnológico. A tecnologia de geração de energia pelos ventos evoluiu muito, principalmente nos últimos dez anos. Esta evolução fez com que o custo de produção caísse e ela se tornasse mais competitiva no Brasil.
As pesquisas que proporcionaram essa evolução tecnológica são brasileiras?
Não. Vêm de fora. O Brasil não investiu em tecnologia de eólica justamente porque é uma tecnologia cara e o país não precisava, porque já tem fontes renováveis o suficiente. Quem investiu em tecnologia eólica foram os que realmente precisam, os países da Europa e os Estados Unidos. O Brasil está apenas colhendo os benefícios dessa evolução. O único investimento que o governo brasileiro fez foi em 2004, quando houve um programa de incentivo na contratação de 1.400 megawatts (MW) apenas. Desde então houve um grande ganho de tecnologia e a eólica não precisou mais de incentivo do governo. Em 2009, ela entrou no processo de leilão, foram vendidos 1.800 MW, o que é muito superior aos 1.400 do passado, e já foi de forma competitiva. De 2009 a 2011, já foram vendidos 6,7 GW de eólica a preço competitivo.
O crescimento do setor eólico está dentro das expectativas da Abeeólica?
O crescimento é muito superior à nossa expectativa. Ninguém esperava que a fonte eólica fosse crescer dessa maneira tão rápida. Este crescimento surpreendeu até os investidores da fonte eólica. Agora, já passamos da fase da surpresa e estamos colhendo os benefícios. Então os investidores têm expectativas e estão fazendo investimentos de longo prazo. Acreditamos que decididamente a fonte eólica já faz parte da matriz elétrica brasileira, veio para ficar e é uma importante fonte para o país.
O potencial da eólica é superior ao potencial da hidrelétrica?
Sim. O potencial hidrelétrico hoje é de mais ou menos 250 GW. Deste total já foram aproveitados cerca de 30%, o que equivale a 75 GW. Assim, ainda resta algo em torno de 180 GW de potencial. Porém, este potencial restante está em regiões mais difíceis, mais distantes, como a região amazônica. Isto traz muita dificuldade em termos de licenciamento. Então além do potencial da hidrelétrica ser menor, já que a eólica tem potencial de 300 GW, ela ainda tem estes entraves.
Nestes 300 GW está incluso o potencial de energia eólica offshore (torres instaladas nos mares e oceanos)?
Não. Ainda conseguimos estimar esse potencial. Não começamos a pensar nisso ainda.
As torres e as turbinas utilizadas nos parques eólicos brasileiros são produzidas aqui?
A gente produz cerca de 60%, que é uma obrigatoriedade que o país estabelece para qualquer indústria.
Quais as vantagens socioambientais da energia eólica?
São muitas. Primeiro ela não emite CO2 na geração. Segundo, a fonte eólica convive com as demais atividades econômicas. Quando ela chega a uma determinada região, onde já existe, por exemplo, agricultura ou pecuária, ela convive com essa atividade. Você não precisa deixar de plantar soja ou arroz para montar o parque eólico. Isto é muito importante do ponto de vista ambiental e do ponto de vista socioeconômico, porque ela leva mais renda para as regiões. Outra característica interessante é que o maior potencial de ventos está justamente em regiões improdutivas, que não tinham atividade econômica, como é o semiárido. Então a eólica se torna uma fonte de renda para regiões que eram muito pobres.
Uma usina de energia eólica gera uma quantidade de empregos equivalente a uma usina hidrelétrica?
Não, até porque a complexidade da eólica é bem menor. Montar uma aerogerador é muito parecido como montar um lego. Não precisa de tanto concreto, de cimento, nem de todo aquele aparato para fazer a construção. Porém, mesmo assim, ela gera muitos empregos nas regiões. Atualmente são 12 milhões de empregos na indústria e até o final de 2020, com todos os investimentos que estão sendo feitos, serão 280 mil empregos.
O governo poderia fazer algo para incentivar ainda mais esse crescimento?
O processo de leilões, que é bem competitivo, já é suficiente. O governo deve incentivar aqueles setores que realmente precisam e a eólica não está precisando. O que é importante para a indústria eólica é uma perspectiva de longo prazo, de que ela vai participar da matriz. Incentivo à indústria eólica não tem e não precisa. (Envolverde)
Nota
- Um gigawatt (GW) equivale a um bilhão de watts (W) ou a mil megawatts (MW).
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