“A conservação de áreas protegidas contribui para o aumento do PIB (Produto Interno Bruto), proporcionando não só um PIB maior, mas um PIB melhor”, assim definiu o professor e pesquisador Carlos Eduardo Young, em sua fala no VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que começou ontem (24), em Natal (RN) e terá atividades até quinta-feira (27). Young é economista de formação e leciona no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua fala, ele ressaltou que “floresta não é entrave para o desenvolvimento e sim oportunidade de geração de renda”.
Com a convicção que a intimidade com os números lhe proporciona, ele demonstrou o potencial das áreas protegidas, indo além de pontos que parecem mais óbvios, como a rentabilidade financeira do manejo florestal. Com base em um relatório produzido em 2011, com a colaboração de Rodrigo Medeiros, para Pnuma-WCMC (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente-Centro de Monitoramento da Conservação Mundial), Young dimensionou em bilhões de reais os benefícios financeiros dessas áreas.
Segundo o economista, considerando a previsão de fluxo de turistas no Brasil até 2016, ano em que serão realizadas as Olimpíadas no Rio de Janeiro, somente a visitação dos atuais 68 parques nacionais existentes poderia gerar de R$ 1,6 bilhão a R$ 1,8 bilhão. Para ele, o turismo é a cadeia que mais ganharia com a conservação destas áreas. “Esta é uma cadeia imensa, que envolve desde o guia local, até a companhia aérea. A Copa do Mundo a as Olimpíadas são duas grandes oportunidades para o Brasil se demonstrar adequado para o turismo de natureza. O potencial existe, só precisa ser valorizado”, ressalta.
O relatório indica ainda que as unidades de conservação federais podem de atrair cerca de 17,5 milhões de pessoas em 2016, podendo movimentar a economia em até R$ 2 bilhões nas regiões onde estão localizadas essas unidades. “Este também é um fato importante, já que a população dessas localidades normalmente é, financeiramente falando, mais pobre”, esclarece Young.
O estoque do carbono, a manutenção da qualidade dos recursos hídricos, a preservação da biodiversidade e muitos outros pontos positivos da conservação também foram lembrados por Young, que finalizou sua apresentação com um alerta para as empresas que ainda resistem em reconhecer todo esse valor: “Vivemos em um século de risco, mas a sustentabilidade garante solidez. Uma empresa com melhor sistema de gestão ambiental é uma empresa com melhor capacidade de se adaptar às mudanças”.
Traduzindo em fato o que Young demonstrou em números, Munira Bashir, diretora assistente e chefe da comunidade empresarial do Kenya Wildlife Service (KWS – Serviço de Proteção à Vida Selvagem do Quênia), falou em seguida e contou um pouco das experiências de seu país para preservar as áreas protegidas que abrangem 8% da superfície terrestre do Quênia.
Munira corroborou com a lista de pontos positivos já comentada e ressaltou que o ponto fundamental para o sucesso dos programas nos quais o KWS atua é o engajamento das comunidades. “Não basta o mundo olhar e reconhecer o Quênia pelas suas belezas naturais. As comunidades que vivem nestas áreas precisam saber reconhecer o valor e os benefícios que a preservação do ambiente e da biodiversidade trazem para o país”, diz ela.
Encerrando o painel falou Alberto Yanosky, biólogo argentino e diretor executivo da Associação Guyra Paraguay. Citando atividades bem-sucedidas em países onde atuou, ele apontou a certificação como uma importante ferramenta para garantir a preservação. “Os chineses têm o mesmo direito de comer carne que nós temos, mas, se eles fizerem isso, com os padrões de produção atual, nada vai ficar em pé. A certificação pode ajudar na mudança dos padrões de produção”, afirma.
Alberto disse ainda ter percebido ao longo de suas experiências, que os governos e empresas fazem a pergunta errada quando se fala de preservação. “Não deveria ser questionado o quanto custa preservar, mas sim o que estamos perdendo e não vamos poder recuperar”, enfatiza o biólogo.
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FONTE : (Envolverde)
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