a82 TERRAMÉRICA   Estévia, um negócio que prospera
Terreno onde o Movimento de Desempregados de Málaga plantou duas mil mudas de estévia. Foto: Inés Benítez/IPS
A estévia, um adoçante natural com notáveis propriedades para a saúde, pode criar oportunidades de renda na deprimida economia espanhola.
Málaga, Espanha, 24 de setembro de 2012 (Terramérica).- Em uma área de poucos quilômetros da cidade de Málaga, ao sul da Espanha, crescem duas mil mudas de estévia, um arbusto herbáceo que os indígenas guaranis usaram durante séculos como adoçante natural e que desperta cada vez mais interesse na Espanha. A estévia (Stevia rebaudiana bertoni) ou erva doce, como a chamam os guaranis, é originária da Cordilheira de Amambay, entre Paraguai e Brasil.
Os glicósidos extraídos da planta, esteviósido e rebaudiósido A, adoçam 300 vezes mais do que o açúcar, não têm calorias e são aptos para diabéticos, segundo vários estudos. “Esta área é um teste-piloto para ver como evolui, recopilar nossos próprios dados e ganhar experiência”, descreve Diego López, do Movimento de Desempregados de Málaga, que promove o projeto entre pessoas sem trabalho.
A China é o maior produtor e consumidor mundial desta alternativa aos adoçantes artificiais. Também é origem da maior parte dos extratos da planta exportados para outros países, confirma a Associação Europeia da Estévia (Eustas). A estévia também é cultivada em grandes áreas no Paraguai, Chile e Colômbia. E na Espanha começam a surgir plantações. Enquanto rega ao cair da tarde um terreno de 300 metros quadrados, López, formado em ciências do mar, assegura que “a estévia tem mais potencial do que parece”. Este projeto, acredita, pode animar os agricultores da província a plantá-la.
Há alguns anos a estévia se limitava a determinados coletivos da população espanhola, como os diabéticos. “Saltou para o grande público” em 2011, quando foi autorizada sua comercialização como aditivo em diversos alimentos, explicou ao Terramérica o membro da Eustas, José Cruz Cavero. No dia 2 de dezembro do ano passado, a Comissão Europeia autorizou o uso dos glicósidos de esteviol extraídos das folhas como ingrediente alimentar.
A Eustas, entidade sem fins lucrativos que reúne acadêmicos, empresas fabricantes e importadoras, foi a primeira a solicitar o uso da estévia como aditivo alimentar, no dia 26 de setembro de 2007, junto à Autoridade Europeia de Segurança Alimentar. Devido a esta aprovação, as empresas norte-americanas Coca-Cola e Cargill registraram cerca de 20 patentes para uso dos extratos de setévia em seus produtos. A Açucareira Espanhola, propriedade da Cargill, introduziu este ano no mercado deste país o adoçante de mesa Truvía, que tem apenas 1% de estrato de estévia e o restante de eritritol, um poliálcool edulcorante.
O resultado da extração de glicósidos da planta deve ser um produto contendo no mínimo 95% de esteviósido, segundo as normas aprovadas pela União Europeia, disse ao Terramérica o químico Andrés García-Granados, da empresa SteviGran e professor na Universidade de Granada. A SteviGran, criada em 2010, com plantações no centro paraguaio e em Granada, sudeste espanhol, desenvolveu uma biofábrica “para produzir mudas de forma maciça” e conta com 20 produtos derivados, disse García-Granados.
“A demanda por estévia é explosiva”, destaca Miguel Arrillaga, dono da empresa De Pr1mera, de Málaga, que conta com cerca de dois milhões de plantas em várias localidades do sul espanhol e fatura mensalmente mais de US$ 26 mil com a venda de folhas secas, extrato líquido e em pó, cápsulas e geleia. A De Pr1mera foi criada há 11 meses e tem 15 hectares plantados de estévia, mas importa o extrato em pó da China e do Paraguai.
“O próximo passo é instalar uma unidade de extração de esteviósido no sul, e com procedimento ecológico”, disse Arrillaga, um engenheiro de telecomunicações. Em uma cafeteria, o empresário segura alguns envelopes de açúcar e prevê que este logo será substituído por estévia, “porque temos alternativas naturais às impostas pelas multinacionais da alimentação” e há novas tendências de consumo.
A comercialização europeia de folhas secas de estévia como novo alimento, por exemplo, em envelopes para fazer infusões, ainda não está autorizada. Essa solicitação foi apresentada em julho de 2007 ao Comitê Científico da Alimentação Humana da Comissão Europeia, mas “está parada”, disse Mónica Lorenzo, da empresa Anagalide, integrante da Eustas.
Mas é possível encontrar embalagens de folhas secas em lojas de ervas e em lojas virtuais. Vários estudos avaliam seu efeito benéfico na diabete e na hipertensão e também seu poder antioxidante e bactericida. Arrillaga considera “ridículo” não ser permitida a venda das folhas como alimento, mas sim o extrato como aditivo alimentar, o que, a seu ver, beneficia as grandes empresas.
“É a erva dos diabéticos”, disse ao Terramérica a encarregada de uma floricultura no centro de Málaga apontando para vários vasos nos quais cresce estévia, na porta de sua loja. A gerente da Federação de Diabéticos Espanhóis, Mercedes Maderuelo, garante que a estévia, “por ser acalórica e não conter gorduras saturadas, é uma alternativa ao adoçante artificial que foi bem aceita pelo coletivo”, com mais de 5,3 milhões de pessoas. Lorenzo disse que o “extrato verde tem maior efeito em ajudar a regular os níveis de insulina no sangue”.
Especialistas consultados concordam que a estévia cristalizada da China não é segura. “Chegou-se a encontrar metais como chumbo e pesticidas”, disse o químico García-Granados. “Há muitíssima estévia no mercado, mas pouca é adequada e às vezes de má qualidade. Este é o principal problema”, alerta Lorenzo. A Eustas espera criar um banco de genes internacional que reúna informação e possa ser “material de uso para pessoas que queiram cultivar”.

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FONTE : Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS. Com colaborações de Humberto Márquez e Estrella Gutiérrez (Caracas), e Patricia Grogg (Havana).