Atribui-se a um famoso político brasileiro a frase "A política é a arte de fazer com que aquelas coisas que já iam mesmo acontecer aconteçam, porque nós fizemos acontecer."
Além de irônica, essa máxima revela a ideia de política como fingimento. A política real é aquela que faz acontecer o que dificilmente aconteceria sem a nossa vontade e ação.
Naquela ideia, política é oportunismo que se apropria da ação de outrem. Nesta outra, é resultado da ação de diferentes sujeitos que, para o bem ou para o mal, escolhem fazer algo além do já feito.
Nesse momento crítico que vivemos, não basta ir além. É preciso indagar em que direção aponta nosso fazer político, se no aprofundamento das crises ou na sua superação.
O que já foi feito é exemplo. Contribui para um mundo sustentável a política social que retira da miséria milhões de famílias. Ajuda a superar a crise uma lei de resíduos sólidos destinada a retirar cidades dos lixões. Destina-se ao abismo um código antiflorestal que "regulariza" o desmatamento passado e futuro e as obras faraônicas licenciadas, sem respeito ao ambiente e às comunidades.
As escolhas, agora, transferem-se para as campanhas eleitorais. Predomina a disputa do poder pelo poder, mas há também os que se esforçam para debater com sinceridade alternativas para a vida nas cidades.
É mais visível a fórmula publicitária de imagem e maquiagem, as paródias dos sucessos de consumo imediato, o jogo de ataque e defesa que resvala em troca de insultos. E muitas promessas, mal chamadas de "propostas", num frenesi de quantidades: 50 mil unidades disso, 300 mil daquilo.
Mas há também a agenda de enfrentamento da crise civilizatória e de preparação para mudanças climáticas. Há uma revisão dos critérios de qualidade de vida e de novas políticas públicas. Há uma natural ansiedade, especialmente dos jovens, em vislumbrar alternativas de futuro. O que fazer do que já foi feito? Qual o rumo?
Serão esquecidos os vales e encostas, onde se acumulam tragédias socioambientais, e a água, cada vez mais poluída? O transporte ficará na "casa do sem jeito"? A educação permanecerá no mesmo patamar, que anuncia um apagão de recursos humanos?
Como garimpeiros, a maioria dos candidatos bateia as urnas em busca de pedras preciosas. Mas o povo também faz o seu garimpo de aluvião. Busca alternativas, recusa as polarizações mais agressivas, usa o voto como protesto, faz o que pode para fugir da nova forma de imposição econômica e cultural disfarçada de democracia política. Os jovens fazem da internet espaço de crítica bem-humorada em uma realidade que lhes parece rala e deserta diante das possibilidades criativas do mundo virtual.
Depois da peneira em dois turnos, veremos o que cada um terá apurado.
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