Produzidos em conjunto pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e pela também ambientalista organização Traffic, estes cartazes aparecerão em breve em lugares públicos em importantes cidades vietnamitas, entre elas Hanói, a capital, e Ho Chi Minh. Prédios de escritórios e de apartamentos e também aeroportos servirão de cenário para a campanha, que busca acabar com o ilegal comércio internacional de chifres de rinocerontes, que colocam estes animais à beira da extinção.
Os especialistas afirmam que não há lugar melhor do que esta nação do sudeste asiático, com 87 milhões de habitantes, para levar a outros países esta dura mensagem. Organizações internacionais que controlam o comércio ilegal de biodiversidade acusam há tempos o Vietnã pelo drástico aumento da demanda de chifres de rinocerontes africanos. Cerca de 290 dos 20 mil rinocerontes que restam na África do Sul foram mortos para retirada dos chifres desde o começo deste ano, segundo conservacionistas preocupados por tal prática voltar a atingir a cifra recorde de 668 rinocerontes mortos por caçadores ilegais em 2012.
“Estamos em meio a uma crise de caça ilegal de rinocerontes”, disse à IPS o veterinário britânico Mark Jones, diretor da Humane Society International, com sede em Londres. Nos últimos tempos, o Vietnã se converteu no principal mercado para os chifres destes animais, destacou. O aumento da demanda esteve pautado por uma crença popular que se aprofundou nos últimos cinco anos, de que os chifres de rinocerontes têm propriedades medicinais especiais, que incluem a capacidade de curar câncer, ressacas e atuar como afrodisíaco.
Naomi Doak, coordenadora do Programa do Grande Mekong na organização Traffic, disse que o desenho do cartaz da nova campanha foi criado depois que especialistas se deram contra de que “uma grande proporção do público vietnamita” não está consciente de que os chifres de rinoceronte, uma massa de cabelo aglutinado, são compostos por queratina, a mesma substância básica que forma as unhas das pessoas.
Doak espera que trazer à luz este fato faça as pessoas “pensarem duas vezes antes de consumirem chifres de rinoceronte”. De todo modo, levar para casa esta mensagem será uma tarefa “prolongada e difícil”, admitiu a ativista à IPS. “Por haver poucas sanções e consequências, as pessoas não se preocupam realmente com os impactos que tem o consumo desses chifres, seja nos animais ou nas pessoas”, ressaltou.
Para compreender a que as organizações ambientalistas se opõem, basta percorrer a famosa parte antiga de Hanói, um colorido emaranhado de 36 ruas onde há séculos se venda de artesanato e produtos locais. Aqui, comércios especializados em medicina tradicional chinesa atraem dezenas de clientes que buscam remédios feitos com partes de animais selvagens, o que inclui chifre de rinoceronte.
Em seu documentário mais recente, Bad Medicine – Illegal Trade in Rhinoceros Horns (Má Medicina: o Comércio Ilegal de Chifres de Rinocerontes), o cineasta e conservacionista Karl Ammann traça as rotas dos traficantes ilegais, desde os cenários naturais africanos até as ruas do Vietnã, onde esses elementos “também são um símbolo de status”, afirmou.
Isto explica porque o ouro, antes presente favorito entre a classe em expansão de cidadãos ricos neste país, foi destronado pelos chifres de rinoceronte, que atualmente chegam a custar US$ 65 mil o quilo. Isto é “mais do que ouro, grama por grama”, explicou o veterinário Jones. Embora o peso dos chifres varie, apenas um pode ser vendido por até US$ 150 mil.
A previsão é de que a pressão sobre o Vietnã para que reduza a demanda de chifres ilegais de rinoceronte aumentará, após as resoluções aprovadas na reunião realizada entre 3 e 14 de março nesta cidade, pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites). Apesar da linguagem dura empregada no encontro, do qual participaram 178 países-membros, não se conseguiu impor sanções ao Vietnã.
O governo desse país nega insistentemente as acusações de ser um mercado importante neste comércio mundial. Frequentemente aponta o dedo acusador para seu poderoso vizinho do norte, a China, que também está sob observação por estimular o comércio ilegal de biodiversidade, particularmente de partes de tigres. Mas os ativistas têm provas, e não pensam em ficar calados.
Do Quang Tung, vice-diretor do capítulo vietnamita da Cites e que presidiu a delegação de seu país a Bangcoc, disse no final de março a um jornal de seu país: “Desde 2004 até agora, foram presos 13 indivíduos envolvidos no tráfico de rinocerontes, com um total de 150 quilos de chifres destes animais. Dois destes casos ocorreram no começo de 2013”.
“No comércio ilegal de chifres de rinoceronte participam grupos criminosos altamente organizados, de grande mobilidade e com bom financiamento, integrado principalmente por cidadãos asiáticos radicados na África”, revelou no começo deste ano um informe divulgado pela Traffic e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
“Estas redes recrutam pseudocaçadores, entre os quais cidadãos vietnamitas, prostitutas tailandesas e caçadores da República Checa e Polônia, para obter chifres de rinocerontes na África do Sul”, afirma o estudo. “A pseudocaça diminuiu significativamente devido à decisão de abril de 2012, de impedir que cidadãos vietnamitas obtenham licença de caça e mudanças nas leis sul-africanas”, acrescenta o informe.
Outro motivo de vergonha para o Vietnã foram os escândalos envolvendo seus diplomatas na missão sul-africana, que foram acusados de contrabando de chifre de rinoceronte em 2006 e 2008. Quando confrontado sobre estes incidentes na reunião da Cites em Bangcoc, um funcionário do governo afirmou que esses diplomatas foram “punidos” por suas ações.
Há grande esperança de que a campanha com os cartazes cumpra o papel de educar o público e acabar com o comércio. Mas frear a crescente demanda exigirá mais do que duas organizações de defesa dos direitos dos animais. Nguyen Thuy Quynh, do WWF Vietnã, disse à IPS: “Buscamos apoio e cooperação de muitas empresas, celebridades, universidades, organizações internacionais e meios de comunicação de massa, todos os que têm voz importante na hora de chegar à comunidade e nela influir”. Envolverde/IPS
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