por Desmond Brown, da IPS
Charlestown, São Cristóvão e Neves, 24/5/2013 – O Caribe não pode se dar o luxo de demorar para agir contra a mudança climática. Na verdade, está à beira de uma catástrofe, alertou o cientista jamaicano Conrad Douglas. O especialista, que publicou mais de 350 informes sobre manejo ambiental e assuntos relacionados, destacou que a região necessita de “ação urgente em todos os níveis”. Douglas também chamou a atenção para o fato de a presença de dióxido de carbono na atmosfera estar chegando a um ponto limite.
“Há 445 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono, ou seja, apenas cinco ppm abaixo do limite que foi projetado como catastrófico para o mundo”, afirmou à IPS. Como a cada ano são acrescidos 2,5 ppm à atmosfera, o cientista alertou que no prazo de dois anos a Terra chegará a um ponto decisivo, no qual eventos climáticos ainda mais catastróficos poderão afetar a população mundial. “Chegamos a uma situação em que todo o planeta enfrenta uma situação precária. Nos dirigimos para um momento perigoso da Terra”, afirmou.
O ano passado foi o mais quente da história recente, com as maiores temperaturas desde que começaram a ser registradas, em 1895. “Ainda lembramos do furacão Sandy e da destruição que causou em nossa região e na costa oriental dos Estados Unidos”, argumentou Douglas, apontando que muitas áreas afetadas ainda não se recuperaram.
Outro cientista especializado em clima, John Crowley, destacou que o ciclo do nitrogênio no planeta está gravemente desequilibrado pelo uso excessivo de fertilizantes não orgânicos. Ele disse à IPS que “isso, de acordo com especialistas, tem consequências catastróficas e potencialmente irreversíveis, que forçam a repensar os sistemas agrícolas, incluindo o uso de fertilizantes”.
Estes dois cientistas participaram da reunião de especialistas sobre formulação de políticas ambientais, nos dias 15 e 16 deste mês, realizada nesta cidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “Em 2011, quando pela primeira vez analisamos esses temas, ficou claro que o conhecimento sobre a mudança climática no Caribe era insuficiente”, pontuou Crowley, também representante da Unesco.
Em 2009, um grupo de artistas jamaicanos lançou uma campanha de educação nacional sobre mudança climática. Foi parte de um projeto implementando pela Panos Caribbean, organização regional que ajuda jornalistas a cobrirem temas de desenvolvimento sustentável, e pelo Comitê Nacional de Educação sobre Meio Ambiente. Os artistas produziram um pacote de informação destinado a educar o público jamaicano, que inclui um CD com músicas sobre o aquecimento global, com um tema principal intitulado Mudança Climática e um videoclipe.
“Creio que finalmente despertamos para a urgência da situação e que colocamos à prova e excedemos a capacidade do planeta de absorver e assimilar os contaminantes que criamos e descarregamos”, opinou Douglas. “O que precisamos agora é, nada menos, de algo como um Projeto Manhattan, mas para resgatar a Terra”, acrescentou.
Marcus Natta, analista de projetos do Ministério de Desenvolvimento Sustentável de São Cristóvão e Neves, disse à IPS que a reunião foi muito oportuna. “O importante desta conferência em particular é que se concentrou na ação. Creio que, ao contrário de muitos outros encontros, se desta vez realmente pudermos concretizar a ação em seguida ao planejamento conseguiremos um grande êxito”, destacou.
A pequena Ilha de Neves é considerada um dos poucos paraísos da Terra que permanecem intactos e uma das maravilhas do Caribe. Douglas espera que as ações acordadas na reunião sirvam para preservá-la. “Esperamos que, no contexto que enfrentamos hoje, se possa preservar sua beleza e seu encanto por muito tempo, enquanto realizamos ações sábias para proteger o habitat da humanidade e de todas as criaturas viventes”, afirmou o cientista aos seus colegas.
“Temos que proteger a nós mesmos. São nossas atitudes, nossos valores e nosso fracasso em mudar nosso comportamento que nos levaram a este ponto crítico”, alertou Douglas. Além disso, afirmou que a humanidade vai por um caminho que “ameaça nos afundar em um ciclo perpétuo de pobreza e miséria”. Envolverde/IPS
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