Powered By Blogger

quinta-feira, 10 de maio de 2012

UFSM : Até onde ir em nome da ciência?

Comunidade questiona cuidado com cães usados em experimento para tratamento de câncer em boca.
É inquestionável o avanço que as pesquisas científicas têm proporcionado ao desenvolvimento das medicinas humana e veterinária. Mas muitos desses estudos, que utilizam experimentação animal, são polêmicos e deixam indignados quem simpatiza com os bichos. Em Santa Maria, o projeto de um doutorando da Pós-Graduação de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) revoltou alunos, funcionários e professores do curso, além de pessoas ligadas ao bem-estar animal na cidade.

O projeto consistiu em criar e testar uma placa de titânio para recomposição de mandíbulas e maxilares de cães que, por causa de um câncer na boca, tenham sido submetidos a uma cirurgia de remoção de parte ou de toda a mandíbula ou maxilar. O projeto testou o desempenho de próteses humanas e de uma placa específica desenvolvida pelo doutorando com a ajuda de engenheiros para a anatomia dos cães. O estudante usou cães cobaias que tiveram parte ou toda a mandíbula retirada para a colocação e o teste das placas.

O Diário recebeu diversas denúncias de problemas em torno do experimento. A maioria das pessoas ouvidas não questiona a importância da pesquisa, mas o uso de animais saudáveis, o suposto abandono desses bichos em condições precárias e a eutanásia de alguns cães que ficaram com sequelas. O doutorando Cristiano Gomes e o orientador dele, professor Ney Luis Pippi, negaram os maus-tratos.

As imagens – O Diário recebeu fotos que mostram os animais magros, trancados em gaiolas, deitados em meio à própria urina, com pratos de ração virados e vazios, em um ambiente sem condições de higiene. Os depoimentos reforçam as imagens.

– O problema foi que houve descaso no cuidado com os animais. O Cristiano praticamente não acompanhou o pós-operatório, deixando tudo para estagiários que, muitas vezes, não sabiam nem o que fazer – disse um estudante, que preferiu não se identificar.

Gomes nega os maus-tratos e diz que os cães estavam sob os cuidados de 12 pessoas – além dele, quatro doutorandos, três mestrandos e quatro bolsistas da graduação. O estudante teria ficado na cidade até março, acompanhando de perto os animais e, depois, teria mudado para Tubarão (SC), onde passou em um concurso. Segundo ele, depois do seu afastamento, os demais membros do projeto permaneceram cuidando dos bichos.

Ainda segundo Gomes, no pós-operatório, os animais teriam ficado cerca de uma semana recebendo medicação (anti-inflamatórios, antibióticos e analgésicos), diariamente, de manhã, à tarde e à noite. Conforme o doutorando, todos eram alimentados por sonda com ração umedecida e batida no liquidificador. Agora, estariam recebendo alimento úmido.

Os animais – Gomes diz que usou 12 cães (recolhidos ou abandonados e que estavam no biotério da universidade) para o experimento. O doutorando explica que o experimento deu certo em dois dos animais e acrescenta que três deles passaram por eutanásia e sete ainda estariam no canil, sob cuidados da equipe.

– Vi um animal com uma prótese, com mandíbula infeccionada, com mau cheiro, que foi eutanasiado durante uma aula no final de abril. O Hospital Veterinário recolheu uma fêmea que havia dado cria no canil da pós e que estava em condições de sujeira, com dermatite, mas o estado nutricional era bom. Ela e outros cães estavam com essas próteses e com mandíbula contaminada, com infecção, secreção e forte odor. Soube que dois bolsistas cuidam dos bichos, mas que estariam apavorados, sozinhos, sem saber o que fazer com os animais. Não condeno o experimento, que é necessário, mas acho que foi malconduzido – comentou um funcionário do hospital, que não quis se identificar.

– Os animais ficaram abandonados depois dos procedimentos, aos cuidados de estagiários que não sabiam o que fazer diante de tanto sofrimento – disse outro funcionário, que também pediu para não ser identificado.

Outros pontos questionados são a quantidade e o uso de animais saudáveis. As pessoas acham que deveriam ter sido utilizados cães com câncer – objetos iniciais da pesquisa. Gomes alega que não houve tempo hábil e nem logística para reunir animais doentes e que o número foi o mínimo necessário para compor a mostra da pesquisa.

*****************************

FONTE : Diário de Santa Maria, edição de 10/5/2012.

2 comentários:

Anônimo disse...

espero que a justiça seja feita, pois estou com repugnância da falata de cuidados do setor da veterinária.
agradeço do fundo do coração as pessoas que tiveram coragem de denunciar o acontecido e espero que isso não seja esquecido e que providencias sejam tomadas na UFSM.

Anônimo disse...

uma crueldade sem tamanho que precisa de justiça. E o setor da veterinária precisa de mais cuidados.