Cada vez mais quente, o Oceano Ártico emite enormes volumes de calor adicional na atmosfera, alterando os padrões meteorológicos do hemisfério Norte, afirmam vários cientistas climáticos. As emissões de dióxido de carbono derivadas da queima de combustíveis fósseis derretem os gelos do Mar Ártico, alterando perigosamente o equilíbrio energético de todo o planeta, acrescentam.
“O gelo do Ártico alcançou seu quarto nível estival mais baixo nos últimos quatro anos”, disse Mark Serreze, diretor do Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve em Boulder, no Estado norte-americano do Colorado. O volume de gelo que resta no Ártico provavelmente tenha alcançado este mês o menor registro da história, afirmou Mark à IPS. “Reitero minhas declarações anteriores de que a cobertura gelada do Mar Ártico no verão experimenta uma espiral de morte. E não se recuperará”, acrescentou.
Não pode haver recuperação porque a cada verão somam-se à região enormes quantidades de calor extra, enquanto mais de 2,5 milhões de quilômetros quadrados do Oceano Ártico ficam expostos ao calor do Sol de verão durante 24 horas. E um Oceano Ártico mais quente não só demora mais para congelar como também emite enormes volumes de calor adicional na atmosfera, alterando os padrões meteorológicos do hemisfério Norte, confirmaram os cientistas.
“O inverno excepcionalmente frio e nevado de 2009-2010 na Europa, Ásia oriental e no leste da América do Norte está vinculado com os processos físicos únicos que se produzem no Ártico”, disse à IPS James Overland, do Laboratório Marinho Ambiental do Pacífico da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, em entrevista exclusiva concedida em junho em Oslo.
Paradoxalmente, um Ártico mais quente significa que “futuros invernos frios e nevados serão a regra e não a exceção” nestas regiões, acrescentou. Cada vez há mais evidências dos impactos generalizados de um Ártico mais quente, concorda Mark. “Capturar todo esse calor adicional tem que ter impactos, que aumentarão no futuro”, disse.
Um efeito local que já se faz sentir é o rápido aquecimento das regiões costeiras do Ártico, onde as temperaturas médias agora estão entre três e cinco graus mais elevadas do que há 30 anos. Se a temperatura média mundial aumentar do atual registro de 0,8 grau para dois graus, como parece provável, toda a região do Ártico se aquecerá pelo menos entre quatro e seis graus, e possivelmente oito, devido a uma série de processos conhecidos como “amplificação” da área.
Se o Ártico ficar seis graus mais quente, então metade do permafrost (gelo permanente) do mundo provavelmente derreterá vários metros, liberando a maior parte do carbono e metano ali acumulados durante milhares de anos, disse Vladimir Romanovsky, da Universidade do Alasca em Fairbanks e especialista mundial em permafrost. O metano é um gás-estufa aproximadamente 25 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Isso seria catastrófico para a civilização humana, afirmam os especialistas.
A região do permafrost ocupa 13 milhões de quilômetros quadrados de Alasca, Canadá, Sibéria e partes da Europa, e contém pelo menos o dobro do carbono agora presente na atmosfera: 1.672 gigatoneladas, segundo um estudo publicado em 2009 na revista Nature. É três vezes mais carbono do que o contido em todas as florestas do mundo. “O derretimento do permafrost é observado consistentemente em toda a região desde a década de 1980”, disse Vladimir em uma entrevista.
Um estudo de 2009, realizado no Canadá, documentou que nos últimos 50 anos o limite mais meridional do permafrost diminuiu 130 quilômetros na região da baía de James, na província de Quebec. Em seu limite norte, pela primeira vez em uma década, o calor do Oceano Ártico se estendeu para além da área continental neste verão, acrescentou Vladimir.
Não há estimativas certeiras sobre quanto dióxido de carbono e metano emite o permafrost ao derreter ou o permafrost submarino, que atua como cobertura sobre quantidades desconhecidas de hidratos de metano (um tipo de metano congelado) ao longo da plataforma do Ártico, afirmou este especialista. “O metano sempre está em qualquer parte onde se perfure o permafrost”, destacou.
Na primavera passada, no hemisfério Norte, os colegas de Vladimir informaram que anualmente cerca de oito milhões de toneladas de metano saem à superfície na forma de bolhas, das planícies árticas do leste da Sibéria, segundo as primeiras medições feitas ali. Se apenas 1% do metano submarino do Ártico chegar à atmosfera, poderá quadruplicar a quantidade de metano que atualmente existe nela.
O atual derretimento do permafrost, relativamente lento, pode acelerar em poucas décadas, liberando enormes quantidades de gases-estufa, disse Vladimir. Tanto ele como outro especialista em permafrost, Ted Schuur, da Universidade da Flórida, concluíram que “em questão de décadas poderemos perder boa parte do permafrost”.
Nem as emissões de dióxido de carbono nem as de metano derivadas do derretimento do permafrost são consideradas nos modelos do clima mundial, e passarão vários anos antes que isso possa ser razoavelmente bem aceito, disse Ted à IPS.
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FONTE : Stephen Leahy, da IPS (Envolverde/IPS)
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