A chuva dos últimos dias trouxe da atmosfera para o solo gaúcho resíduos das queimadas registradas ao longo deste mês na região Centro-Oeste do Brasil e em partes do Uruguai e da Argentina. Provas do fenômeno estão em centenas de piscinas do Estado – inclusive no Vale do Rio Pardo –, onde a água escureceu por causa da fuligem. Enquanto as queimadas persistirem, o fato pode se repetir.
Dono da Cristal Piscinas, empresa de Santa Cruz especializada na manutenção desses equipamentos, Hilário Eno Werner diz ter recebido desde sexta-feira mais de cem chamadas de clientes assustados em vários pontos da região. Ele relata que limpava uma piscina já contaminada pela fuligem, no fim da semana, quando foi surpreendido por uma chuvarada repentina. “Alguns minutos bastaram para a água ficar turva novamente.”
Novelci Goularte, morador da Rua São Gabriel, área central de Santa Cruz, começou a notar que a água de sua piscina estava escurecendo assim que as chuvas começaram. Ontem, era impossível ver o azul do fundo da piscina sob a mancha escura. “Se a fumaça causou isso à água, imagina o que está fazendo aos nossos pulmões”, comenta.
Os efeitos da fumaça das queimadas podem ser comparados aos da poluição das grandes cidades, segundo o coordenador da Central Meteorológica da Unisc, professor Marcelino Hoppe. Segundo ele, os reflexos no Estado eram esperados. “A fumaça veio junto com o ar quente, que sempre desce para o Sul oriundo na região tropical. O encontro do ar quente com o ar frio do polo gera a chuva, que acabou limpando a fuligem da atmosfera.”
Por esse motivo, o fenômeno pode se repetir enquanto durarem as queimadas. Conforme o professor, é comum o Estado receber fumaça oriunda do Centro-Oeste. “Entretanto, desta vez o fenômeno parece bem mais intenso”, observa Hoppe, que se mostrou impressionado com a coloração escura da água, ao ver fotos tiradas na residência de Novelci Goularte.
Segundo Hoppe, a queda de chuva com fuligem não vinha sendo registrada nos últimos anos em zonas urbanas do Rio Grande do Sul. O professor também não descarta que a fumaça ainda venha a alterar o Ph da água da chuva, a tornando mais ácida. Mesmo assim, ressalta que a mudança seria pequena e não ofereceria riscos.
Entenda
A fumaça das queimadas registradas no Centro-Oeste do País chega ao Estado de carona com o ar quente tropical, que provoca chuva ao entrar em contato com o ar frio do polo. Com a chuva, chega ao solo a fuligem que estava na atmosfera. Por isso, enquanto perdurarem as queimadas, o fenômeno pode se repetir.
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FONTE : Gazeta do Sul, 31/08/2010, (OngCea).
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