As inundações do Paquistão chegaram até a sede da Organização das Nações Unidas quando os países da Ásia meridional reclamaram o cumprimento das obrigações de transferência de tecnologia para enfrentar as consequências da mudança climática.
Os desastres naturais são mais frequentes e ferozes na Ásia meridional por causa da mudança climática, disse a primeira-ministra de Bangladesh, Hasina Wazed, em uma reunião paralela da Cúpula Mundial sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que terminou ontem. “Além do mais, o anormal e rápido derretimento das geleiras do Himalaia e o aumento do nível do mar fazem prever cataclismos como consequência”, acrescentou.
Vários fatores tornam as nações da Ásia meridional particularmente vulneráveis aos efeitos da mudança climática: a elevada pobreza, a dependência de indústrias como a da pesca – sensíveis aos variáveis níveis do mar e às tempestades mais fortes–, as pressões já existentes sobre a saúde e o bem-estar, como o vírus HIV (causador da aids) e o analfabetismo, a deficiente infraestrutura econômica e social em muitos lugares, e uma falta de tecnologia e recursos que tornam mais difícil a adaptação.
Embora os países menos adiantados contribuam pouco para o aquecimento global, frequentemente são os primeiros a sentir seus efeitos, mediante desastres naturais como furacões, secas e inundações. A produção agrícola pode ser prejudicada e doenças transmitidas por mosquitos, como malária e dengue, podem aumentar na medida em que o clima sofre alterações.
“A mudança climática está impondo cargas adicionais aos mais pobres e vulneráveis do mundo, e ameaça reverter êxitos de desenvolvimento que tanto custou conseguir”, disse Helen Clark, administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Os desastres naturais freiam o avanço que se deve conseguir para cumprir os ODM até 2015, enfatizou.
Os delegados debateram maneiras de mitigar problemas futuros. Helen destacou a importância de investir na redução de riscos de desastre, que custa menos e salva mais vidas do que esperar a ocorrência de um desastre natural. Os países da Ásia meridional atualmente trabalham juntos para criar um sistema regional de alerta e manejo de riscos. O apoio da comunidade internacional, mediante financiamento e transferência de tecnologia, é essencial, segundo os delegados.
Também são importantes as ações unilaterais, pois os países já afetados pela mudança climática não podem se dar ao luxo de esperar que o mundo comece a agir. Maldivas, por exemplo, se propôs tornar-se neutra em carbono nos próximos dez anos, por meio uma legislação sobre as emissões contaminantes.
Embora os delegados se mostrassem decepcionados pelo fato de os Estados-membros da ONU não acordarem um tratado climático vinculante em dezembro do ano passado, em Copenhague, agora se preparam para levar suas ideias à 16ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP 16), que acontecerá entre 29 de novembro e 10 de dezembro em Cancún, no México.
Como disse a chanceler mexicana, Patricia Espinosa, os países não podem simplesmente esperar que os especialistas solucionem o problema, e devem concretizar mudanças reais, já que se trata de “um assunto político” que tem a ver com “como estão organizadas nossas sociedades”.
As organizações da sociedade civil também se reuniram no dia 21, para discutir as mudanças necessárias para mitigar os danos ambientais, em um painel que vinculou a sustentabilidade ambiental com as mortes maternas. Ambos constituem dois dos ODM.
Estes, definidos em 2000 pela Assembleia Geral da ONU, incluem reduzir pela metade o número de pessoas que sofrem pobreza e fome, com relação a 1990; garantir a educação primária universal; promover a igualdade de gênero e reduzir a mortalidade infantil e a materna; combater a aids, a malária e outras enfermidades; assegurar a sustentabilidade ambiental e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento. Tudo isto até 2015.
O aumento da população gera pressão tanto sobre mães como sobre o meio ambiente. Os países com grande crescimento demográfico e uma alta vulnerabilidade à mudança climática estão em posição especialmente precária. O acesso universal aos serviços de saúde reprodutiva pode ser uma ferramenta na luta contra a mudança climática, disse Kathlenn Mogelgaard, da Population Action International.
Milhões de mulheres de todo o mundo querem poder controlar sua saúde reprodutiva, mas carecem de acesso a estes serviços. A gravidez não planejada aumenta a proporção de mortes maternas e é obstáculo ao desenvolvimento, disse Musimbi Kanyoro, diretora do programa de População e Saúde Reprodutiva da Packard Foundation.
A falta de acesso a métodos de planejamento familiar limita as opções de vida das mulheres e, nos países com poucos recursos, a terra deve fornecer sustento para mais pessoas do que é possível. Na ONU, os oradores enfatizaram que o planejamento familiar custa menos e é mais fácil de colocar em prática do que muitos outros programas ambientais. *********************
FONTE : Amanda Bransford, IPS(Envolverde/IPS)
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