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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Biólogos de jardim ajudam a catalogar espécies


Uxbridge (Canadá), 27/08/2009 – Se os seres viventes forem protegidos, o entorno físico será salvo automaticamente, segundo Edward Osborne Wilson, prestigiado biólogo e pai da Enciclopédia da Vida, que se propõe criar uma pagina na Internet para cada uma das mais de 1,8 milhão de espécies conhecidas. O clima e a água são partes do entorno físico que dependem do vivente (árvores, insetos, outros animais) para se manterem limpos, saudáveis e equilibrados. Mas o público não compreende bem essa realidade fundamental, e há poucos avanços na hora de prevenir a destruição de ecossistemas e espécies, disse Wilson à revista britânica New Scientist. Por isso que em 2003 este cientista propôs criar na Internet uma Enciclopédia da vida, interativa e acessível para o público.

Lançada em 2008, a Enciclopédia cresce rapidamente, com 170 mil inclusões de dados, cerca de 30 mil imagens fixas e vídeos, alguns fornecidos pelo público. “Queremos comprometer o público. Com a Enciclopédia da Vida podem ser pesquisadas espécies que encontram em seus quintais e bairros e informar suas descobertas”, disse James Edwards, diretor-executivo deste projeto, que tem sede no Instituto Smithsoniano, em Washington. “Nos encantaria que todos se convertessem em ‘biólogos de campo’ e apresentassem o que encontrassem”, acrescentou. A compreensão e o apoio da sociedade são cruciais para reduzir e reverter a perda de ecossistemas e espécies, disse Edwards à IPS, ressaltando que “se não pudermos fazer isso, todos estaremos em graves problemas”.

Os dados e imagens incluídos por observadores de aves, biólogos em seus quintais, estudantes e amantes da natureza em geral serão publicados nas páginas com um fundo amarelo, o que indicará que a precisão do conteúdo não foi verificada por nenhum especialista. Depois os cientistas avaliarão a informação, farão algumas perguntas e, se os dados forem corretos, o fundo amarelo será eliminado, explicou Edwards. A Enciclopédia da Vida convida para o envio de comentários e permite aos usuários escrever suas próprias etiquetas que identifiquem temas relacionados ao que publicaram, aos efeitos de tornar mais fáceis as buscas de conteúdos, sendo que estas também podem ser feitas por meio de palavras-chave.

Estão sendo criadas versões regionais da Enciclopédia da Vida para proporcionar um serviço melhor aos usuários que não falam inglês. Nas áreas rurais da Costa Rica, estudantes secundários treinados por especialistas do Instituto Nacional de Biodiversidade publicarão seus dados em espanhol, em uma versão centro-americana do projeto. “Coletaram informações muito boas sobre os pássaros e macacos existentes nos arredores de sua escola”, disse Edwards. Os estudantes do ensino superior na América do Norte já têm várias centenas de paginas na Enciclopédia, devidamente examinadas por especialistas, sobre fungos, sapos e salamandras. Também estão em debate projetos-piloto para universitários do Quênia e de alguns países sul-americanos, acrescentou. “Buscamos aproveitar os olhos e a capacidade intelectual coletiva de centenas de milhares de usuários para descobrir informação nova e intrigante, bem como para compartilhar observações”, explicou Edwards.

Os especialistas também estão usando a Enciclopédia de maneiras surpreendentes e engenhosas. Por exemplo, realizam buscas para encontrar características unidas dentro das espécies, com sua expectativa de vida, para saber porque algumas espécies estreitamente relacionadas vivem mais do que outras, abrindo novos caminhos de pesquisa sobre o envelhecimento humano. Algumas borboletas que se alimentam de frutos vivem mais tempo do que outras espécies relacionadas, o que leva a novas pesquisas sobre o papel dos genes, dos aminoácidos e das fontes alimentares no processo de envelhecimento.

O ciclo vital de um morcego latino-americano é curiosamente longo, se comparado com roedores de tamanho semelhante, talvez pela capacidade de um corpo de manter uma condição fisiológica mais estável, reduzindo a deterioração celular normal. “A maioria das espécies não foi estudada de modo medicamente relevante”, disse Holly Miller, especialista em biologia do envelhecimento no Laboratório Biológico Marinho de Woods Hole, no Estado norte-americano de Massachusetts.

“A Enciclopédia da Vida está simplificando essas pesquisas por meio da criação de uma referência acessível para os nomes científicos e comuns das espécies, o tamanho do corpo, idade de reprodução, habitat, localização geográfica, temperatura e muito mais, tudo o que pode ser relevante para revelar os segredos da longevidade”, disse Miller em um comunicado. Como os cartazes de “procurado” nas agências dos correios, a Enciclopédia da Vida facilitará o reconhecimento público e a criação de consciência sobre essas espécies invasoras através de descrições detalhadas e mapas, ajudando a reduzir sua propagação mundial e a implementar medidas de mitigação mais rápidas e efetivas.

Uma dessas espécies invasoras é a traça Cameraria Ohridella, procedente dos Balcãs e que agora devasta castanheiras da Índia, populares em parques e jardins de toda Europa. “Como se tivesse sido aberta uma caixa de Pandora, esta traça descoberta em 1984 na Macedônia se propagou como fogo após uma provável liberação acidental ocorrida em 1989 perto de viena”, disse David Lees, do Museu de História Natural de Londres e do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França, em Paris. “Agora, está mais ou menos perto da Europa e representa uma ameaça aos ecossistemas do sudeste da Ásia, América do Norte e outras partes, onde houver as belas castanheiras da Índia”, acrescentou.

Completar toda a Enciclopédia da Vida consumirá 10 anos e até US$ 100 milhões. “Estamos um pouco atrasados, mas o projeto vai acelerando”, disse Edwards. Embora o mundo esteja se conscientizando dos perigos que representa a mudança climática, o público corre o risco de perder o planeta, algo que compreende escassamente, alertou Wilson. No mundo há “pequenas criaturas sobre as quais a maioria das pessoas não ouviu falar; 99% dos organismos da Terra são extremamente pequenos”. A Enciclopédia da Vida se tornou uma base maravilhosa a partir da qual se pode pesquisar sobre milhares de espécies que não conhecemos”, acrescentou.
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FONTE : Stephen Leahy, da IPS (Envolverde/IPS)

Um comentário:

Mimirabolante disse...

Interessante e curiosa esta postagem.....