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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
E o aquecimento global com isso?
“Onde está o aquecimento global quando mais precisamos dele?”, ironizou a correspondente em Londres do jornal americano Chicago Tribune, no início de uma reportagem de janeiro. A pergunta parece absurda, mas o rigoroso inverno que tem provocado caos em algumas partes da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos fez muita gente duvidar de que o mundo esteja mesmo esquentando. Enquanto isso, no hemisfério sul, seca, incêndios, inundações e ondas de calor se revezam, em um cenário catastrófico e bem diferente do que se vê acima da Linha do Equador. Com esse clima de extremos, a dúvida persiste: até que ponto se pode culpar as mudanças climáticas?
Alguns cientistas dizem que os eventos são, sim, reflexo do clima em mutação, que seria causado por ações do homem, como a emissão desenfreada de gases do efeito estufa. A maioria, porém, admite que não é possível garantir que tudo que observamos seja consequência do fenômeno. Segundo o pesquisador brasileiro Jefferson Simões, a variabilidade climática é normal, e eventos extremos ocorrem todos os anos. Mas isso não significa que o problema não exista. O que dizem os modelos do clima, ressalta, é que o número desses eventos e as diferenças de temperatura devem aumentar nas próximas décadas.
– A gente não pode afirmar, por exemplo, se a maior quantidade de chuvas em Santa Catarina já é um sinal de mudanças no clima ou simplesmente uma resposta ao La Niña, que está muito forte este ano – explica Simões, que comandou uma expedição recente na Antártica para entender as mudanças climáticas.
Além disso, o pesquisador destaca um equívoco comum da mídia e das pessoas em geral: aquecimento global e mudanças climáticas não são a mesma coisa. O aumento da temperatura no planeta é apenas uma das alterações que estão ocorrendo no clima:
– Maior frequência de secas, cheias e ondas de frio e calor: isso tudo pode ser associado com o que a gente chama de mudança no clima.
Pesquisador do grupo de estudos sobre mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Wagner Soares diz não haver dúvida de que desde os anos 1990 está ocorrendo um aquecimento na Terra. Esse fenômeno pode ser responsável, por exemplo, por um aumento de até 6ºC na temperatura na Amazônia até o final do século.
Essas mudanças graduais, inclusive, poderiam trazer uma explicação simples a certos questionamentos: aos poucos, o conceito do que consideramos um inverno ou um verão “normal” está mudando. O atual inverno na Grã-Bretanha, por exemplo, que surpreendeu muita gente pelas nevascas históricas, seria considerado “ameno” nos anos 1980.
Apesar de concordar que ainda é cedo para afirmar que tudo o que estamos presenciando seja causado pela maior concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, o pesquisador do INPE sugere que o desmatamento – principal fonte de emissões de dióxido de carbono (CO2) no Brasil – pode ser uma das causas das secas no norte da Argentina e Oeste de Santa Catarina. Isso porque vem da Amazônia boa parte da umidade que chega à região sul: portanto, menos árvores lá, menos chuvas aqui.
Outros, porém, são mais incisivos. O Greenpeace apressou-se em dizer que os incêndios no Estado de Victoria e as inundações de Queensland, que atingiram a Austrália na última semana, são uma advertência sobre as mudanças climáticas.
Verdade ou não, uma coisa é certa: economizar energia ou diminuir o desmatamento não vai fazer mal a ninguém.
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FONTE : DC (15 de fevereiro de 2009, edição N° 8347)
PRISCILA DE MARTINI
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