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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

É preciso "erotizar" a pauta climática

Maristela Crispim ao lado de Ricardo Garcia, do jornal português Público. Foto: Paulo César Lima
Maristela Crispim ao lado de Ricardo Garcia, do jornal português Público. Foto: Paulo César Lima
Por Sílvia Franz Marcuzzo* 
Estamos todos no mesmo barco no oceano das mudanças climáticas. Seca no Nordeste e Sudeste, enchente no Sul do Brasil evidenciam que o descompasso do clima bate à nossa porta. E ainda há previsão de mais El Niño para 2016. A principal negociação entre os países para encontrar soluções para se adaptar a esse contexto acontecerá de 30 de novembro a 10 de dezembro. É a Conferência entre as Partes da Convenção Climática Mundial, a COP de Paris. Esse foi o assunto da mesa mediada pela editora do Diário do Nordeste, de Fortaleza, Maristela Crispim, durante o VI Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental.
Maristela ressalta que desde 1997, o Painel Científico da ONU para Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) vem alertando sobre as alterações nos mecanismos de funcionamento da natureza devido ao lançamento de gases de efeito estufa. Os cientistas diziam naquela época que as emissões deveriam ser cortadas 40% até 2050.
No palco do teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, representantes da imprensa e da sociedade civil, traduziram o que significa o problema, pois grande parte da população mundial já sente os efeitos de eventos extremos. Só neste ano, 1.384 municípios já decretaram situação de emergência em decorrência de desequilíbrios climáticos. Desse total, cerca de mil sofrem com a seca no Nordeste, informa Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, que reúne diversas organizações que trabalham com o tema. Segundo ele, dados da Universidade Federal de Santa Catarina apontam que 127 milhões de brasileiros foram afetados por desastres naturais de 1991 a 2012.
Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima. Foto: Paulo César Lima
Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima. Foto: Paulo César Lima
Até o momento 90% dos países que mais lançam gases de efeito estufa já se comprometeram em diminuir suas emissões. E isso nunca tinha acontecido antes, comemora o secretário executivo. “Enfrentar mudanças climáticas não é mais um bicho de sete cabeças”, afirma, salientando que hoje há cada vez mais estudos e análises de que enfrentar mudanças climáticas é um bom negócio, pois é o momento de transição para uma nova economia.
Rittl acredita que o setor privado vem se movimentado nesse sentido. Como exemplo, ele cita o caso do fundo soberano na Noruega que está empenhado no desinvestimento em combustíveis fósseis para focar em negócios preocupados com o futuro da crise civilizatória.
Para Ricardo Garcia, do jornal português Público, que já trabalhou na cobertura de outras edições da conferência, resta saber se o que os países estão se dispondo a cortar será suficiente para diminuir o impacto das mudanças climáticas. “E quem pagará a conta?”, indaga.
Rachel Biderman, do World Resource Institute (WRI), explica que a Convenção do Clima é um “acelerador”, embora “muitos países se esconderam atrás da burocracia para não reagir”. Rachel defende a mudança da lógica do mercado brasileiro que até o momento “não precificou o carbono, e é fazer isso urgentemente”. Ela avalia que já houve mudanças radicais em uma década e que é preciso investir na divulgação de notícias positivas, de soluções, pois há muitas experiências exitosas com adaptação a esses novos tempos. “Há um excesso de informação, mas é preciso notícias que toquem o coração do indivíduo para ação”, sentencia.
Como agenda positiva, Rachel destaca a coalizão de setores da indústria e da agricultura, o maior investimento de energia eólica e da geração de empregos “verdes”. Também frisa a necessidade de se ter esperança para enfrentar o momento, pois “somente com boas notícias é que se vai conseguir mobilizar mais gente”. Para isso, é fundamental usar histórias de gente que já está fazendo a sua parte.
Raquel Rosemberg. Foto: Paulo César Lima
Raquel Rosemberg. Foto: Paulo César Lima
E o engajamento da ativista Raquel Rosemberg é um caso que mostra bem o quanto há gente que está preocupada com o assunto. Ela é co-fundadora e coordenadora da Engajamundo, uma organização que tem levado jovens brasileiros a acompanhar e participar das discussões climáticas. Desde a COP-19, em Varsóvia, o grupo tem mostrado o que significa para a juventude as alterações no clima. “Nós somos parte da solução, além de fazer advocacy, acreditamos nas conferências como espaço de convergência”. Ela, jovem de 25 anos, argumenta que fora dos espaços oficiais há muitas histórias inspiradoras que devem ser utilizadas pela imprensa. Para isso, ela sugere o “sexify”, que significa dar uma “erotizada” nas pautas para atrair mais a atenção do público.
Raquel convida a todos para uma mobilização mundial, no dia 29 de outubro, quando haverá uma programação especial em 10 cidades brasileiras para demonstrar bons exemplos. “Será um desfile de soluções, tudo a ver com o clima, com a participação de catadores, bikers,entre e outros ativistas.
(#Envolverde)

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