17 de outubro de 2015
(da Redação da ANDA)
Há uma criatura sensacional nesta Terra. Ela descobre fontes de água mesmo em estações de seca; enriquece florestas ao derrubar árvores velhas e devolver nutrientes ao solo, dando vida a seres pequenos e grandes; espalham sementes, e criam clareiras para permitir que a luz do sol penetre, regenerando ciclos. Em resumo, este animal é fundamental para os ecossistemas dos quais diversas massas dependem.
Além disso, ela é altamente inteligente e sensível, estabelecendo laços familiares complexos e amplos, e demonstrando uma série de emoções, desde amor, lealdade e felicidade até o pesar, a mágoa e o medo. Membros de manadas têm sistemas de comunicação altamente desenvolvidos, que permanecem um mistério para os seres humanos.
Esta incrível criatura – o elefante – atrai pessoas para os locais onde estão, que são os turistas portando binóculos, ansiosos para capturar uma visão – e registrá-la através das lentes de uma câmera.
Ainda assim, os humanos estão rapidamente varrendo-a da face da Terra.
Há menos de um século atrás, a África foi lar de mais de cinco milhões de elefantes. Hoje, eles estão sob ameaça de extinção, e se continuarem a ser alvejados, envenenados e pegos em armadilhas nas taxas atuais, eles poderão desaparecer, segundo calculam os conservacionistas, dentro de uma década.
A taxa de seu desaparecimento é alarmante: pelo menos 96 são mortos no mundo por dia – o que representa um a cada quinze minutos – ou 35.000 em um ano, embora os especialistas acreditem que o número real possa ser de 50.000 por ano. É a taxa de mortalidade mais alta de todos os tempos, e nada menos que um massacre.
Mas, no primeiro fim de semana deste mês, o mundo esteve em marcha, em um esforço para erradicar o comércio que alimenta a matança. As informações são do The News Hub.
As manifestações aconteceram em 133 cidades ao redor do mundo, com a participação de pessoas que se importam com a espécie icônica que pode ser extinta na nossa época, uma vez que a geração atual permite que isto aconteça. O slogan da marcha foi “Extinction is for ever” (“Extinção é para sempre”).
Ação
A Marcha Global pelos Elefantes e Rinocerontes teve por objetivo convocar os líderes mundiais a aplicarem mais ações do que nunca para interromper as vendas de marfim – que estão levando os elefantes ao extermínio – e também para colocarem um fim à demanda pelos chifres de rinocerontes, que também são animais selvagens ameaçados.
No ano passado, estima-se que 50.000 pessoas no mundo todo juntaram-se ao movimento; os organizadores afirmaram que neste ano os números foram ainda maiores.
Na Europa, 20 cidades participaram; na África, 32. Mesmo na Ásia e no extremo Leste – o ponto central da demanda por partes desses animais, 13 eventos acontecerão em cidades. Das Américas do Norte e do Sul até a Austrália e Nova Zelândia, manifestantes estiveram clamando por ações urgentes.
Ao final das marchas, os organizadores apresentaram uma carta a líderes governamentais, pedindo medidas que incluíam:
– a aplicação de pressão à China para que implemente um plano de interrupção do comércio de marfim e o fechamento de empresas manufatureiras de objetos fabricados com este material, e de lojas que os comercializam;
– a exigência para que a China destrua os seus estoques de marfim e puna qualquer um que seja encontrado manipulando marfim ou chifres de rinocerontes;
– a reclassificação dos elefantes africanos em duas espécies – “Savannah” e “Florestais”, ambos a serem listados como ameaçados;
– o fim da captura e do tráfico internacional de filhotes de elefantes;
– a cessação das importações e exportações de elefantes, rinocerontes e leões, e de partes de seus corpos como “troféus”.
A apresentadora da BBC Nicky Campbell, uma defensora articulada e apaixonada da vida selvagem, esteve entre os convidados a falar na Downing Street antes da entrega da carta. Além dela, houve a participação de outras celebridades conhecidas em Londres.
As grandes ameaças
As ameaças enfrentadas pelos rinocerontes são tão grandes quanto às dos elefantes. Aproximadamente um é morto a cada nove horas – mais de 1.000 por ano – de uma população global de 29.000 indivíduos.
A caça de animais por suas presas ou chifres é tida como o quarto maior crime de gangues internacionais – ficando somente atrás do contrabando de drogas, pessoas e armas, e é guiada pela imensa demanda que vem de Hong Kong, Vietnã e Filipinas, além da maior parte da China. Consumidores de alto poder aquisitivo desses países valorizam artefatos inúteis feitos de marfim, e acreditam erroneamente que o chifre dos rinocerontes tenha um valor medicinal.
A demanda é tão alta que o preço dos chifres excede o do ouro, dos diamantes, e o da cocaína, de acordo com um estudo da Science Advances.
Conforme aumenta a caça, também cresce a indignação mundial, porém os países que lucram com este comércio não mostram sinais de estarem ouvindo esses clamores. Nos Estados Unidos, as embaixadas se recusaram a aceitar cartas de manifestantes, fazendo com que elas retornassem aos remetentes.
Outras consequências
A procura pelos chifres e pelo marfim não é a única responsável pela extinção iminente desses animais. A destruição do habitat também é responsável. Conforme as populações humanas crescem, elas se espalham e destroem as florestas, encolhendo as porções para a vida selvagem. Inevitavelmente, esse desequilíbrio leva a situações em que elefantes famintos descobrem lavouras plantadas por humanos – e se servem delas, em cenários que geralmente terminam em tragédias.
Dame Daphne Sheldrick, uma autoridade internacional em vida selvagem e fundadora da ONG David Sheldrick Wildlife Trust, declarou: “Comunidades remanescentes de elefantes isoladas umas das outras e confinadas em pequenas áreas de refúgio imediatamente se tornam ‘animais problema’ toda vez que se arriscam a pisar fora desses locais, uma vez que se encontram em conflito com interesses humanos. O preço disso são tiros”.
A perda de vidas que trazem tantos benefícios para outras espécies está causando severos efeitos na ecologia da África, de acordo com a Science Advances. “A taxa de declínio dos grandes herbívoros sugere que faixas cada vez maiores do mundo logo irão perder muitos dos serviços vitais ecológicos que esses animais proveem, resultando em enormes custos ambientais e sociais”, diz o seu relatório.
Tanzânia, Moçambique, Zâmbia e Quênia estão em foco por permitirem o crescimento das gangues criminosas, embora no ano passado um acordo entre Moçambique e Zâmbia para proteger um corredor vital para a vida selvagem entre os dois países tenham dado aos conservacionistas uma pequena razão para otimismo.
CITES e organizações
No final do século 20, muitas esperanças recaíram sobre a Convenção do Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES). Mas a organização, que se reúne a cada dois anos, foi duramente criticada por permitir que os países abrissem exceções à proibição de 1989 sobre comercialização de estoques de marfim. Críticos acusaram-na de ter sido chantageada por políticos e lobistas.
Agora, um grupo de organizações está envolvido em combater as gangues criminosas, empregando guardas e helicópteros para proteger os animais e resgatar filhotes órfãos. Algumas tentam relacionar esforços de preservação com desenvolvimento econômico de modo que moradores entendam os benefícios de se manter os elefantes vivos.
Outra questão que causa indignação é a prática de se remover filhotes de elefantes de suas famílias e exportá-los – ou sequestrá-los.
Só neste ano, 24 foram importados para a China – sem dúvida mediante violação das regulamentações a CITES. Fotos e vídeos dos 24 sugerem que eles foram maltratados e estavam em más condições de saúde, segundo a National Geographic. Um animal tinha grandes feridas em suas pernas, e tudo indicava sinais de maus tratos, de acordo com um especialista.
As marchas – que aconteceram no primeiro fim de semana de Outubro para coincidir com o Dia Mundial dos Animais no domingo – também pediram pela proibição da caça enlatada aos leões, na qual os animais são reproduzidos em cativeiro especialmente para serem mortos a tiros por caçadores.
Menos de 30.000 leões restam na natureza, segundo os organizadores da marcha. São apenas outras vítimas da incansável marcha da humanidade.
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