A crítica é costumaz, mas persiste a percepção unânime de que a mídia ainda não cobre de maneira adequada o tema resíduos sólidos. Para justamente puxar este debate, a roda de diálogo “Resíduos Sólidos – Os desafios do século 21” entrou na programação do VI Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental. Profissional com vários anos dedicados à cobertura de meio ambiente, Daniela Vianna, da EcoSapiens Comunicação, usou seu papel de moderadora para dar início à conversa.
“Há muitas perguntas que os jornalistas ainda não fazem”, disparou logo no início André Vilhena, diretor do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem). Do seu ponto de vista, ainda não há plena compreensão do cidadão comum de todo o processo pós uso e descarte de insumos e produtos. Se as reportagens não informam, fica difícil para os leitores entenderem claramente porque se fala mais sobre reciclagem em um país em que a maior parte do lixo é orgânico – restos de alimentos, bebidas, plantas e animais mortos. Citando dados oficiais, Vilhena disse que cada brasileiro gera, em média, 1 kg de resíduo domiciliar por dia. Também na mesa, Fernando Von Zuben, diretor de Meio Ambiente da TetraPak, uma das maiores fabricantes de embalagens longa vida, emendou dizendo que os repórteres não perguntam a fundo sobre o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos urbanos.
Com apurada formação técnica, Monica Pilz Borba, titular do Departamento de Educação Ambiental e Cultura da Paz (UMAPAZ) da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo, destaca em sua fala soluções para dar conta do lixo orgânico, poluente ao extremo por contaminar água e solo se não for tratado corretamente. Um dos caminhos é a gestão compartilhada, instrumento previsto na Lei Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor há cinco anos. Nesta modalidade, União, estados e municípios dividem responsabilidades e custos pelo gerenciamento correto do material orgânico descartado, com vistas a substituir por aterros oficiais vários lixões a céu aberto e locais de despejo clandestinos. Os locais mais adiantados nesta ação são as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas ainda com muito por fazer. “Temos de amadurecer mais esta questão da gestão compartilhada”, defendeu Monica Borba, recebendo total apoio da plateia por meio de vigorosos aplausos.
André Vilhena sugere sincronizar a agenda da sustentabilidade com a agenda política para que os prefeitos, a mais curto prazo, no tempo dos seus quatro anos de mandato, consigam viabilizar mais projetos que ajudem a reduzir sensivelmente a quantidade de detritos descartados de qualquer jeito e sem aproveitamento. Monica Borba toca na questão da logística reversa, em que a indústria tem ainda uma atuação insuficiente e por isso se tem muito desperdício de embalagens. “Ainda se trata de forma separada o que é produzido e o que é descartado. Não pode”, aponta a educadora ambiental.
Mesmo com os problemas, a reciclagem avançou bastante. Neste quesito, Fernando Von Zuben puxa a perspectiva dos últimos 20 anos para analisar o crescimento em volume e se declarar um otimista de que isso continue. Apenas na TetraPak, revela, são renovadas para mais utilizações cerca de 4 mil toneladas de embalagens por dia. “A realidade está aí. Só não vê quem não quer”. Von Zuben lembra ainda sobre a quantidade de empregos “verdes” que podem ser criados na indústria da reciclagem ao se ganhar escala no processamento dos resíduos secos, que podem dar origem a novos produtos. No entanto, afirma que persiste a pouca qualificação dos profissionais da área ambiental. “As empresas querem alguém com formação – graduação, MBA – que resolva os problemas”.
Por sua vez, a compostagem – tratamento do lixo orgânico – ainda é feita de maneira incipiente. Mônica Borba defende ampliar a informação à população sobre diferentes tipos e formas de se fazer isso. Em futuro próximo, espera-se que o Ministério do Meio Ambiente implante o Sistema Nacional de Informações sobre Resíduos (SNIR), cadastro unificado que irá ajudar sobremaneira na melhora do foco das políticas públicas. No final do debate, Dal Marcondes, diretor do Instituto Envolverde, fez breve participação e explicou, de forma sucinta, que o problema da mídia sobre estas questões é a “falta de consolidação das informações, que aparecem de forma fragmentada”. (#Envolverde)
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