As ciclovias estão ganhando força pelas capitais brasileiras e a mobilidade tem ganhado as pautas de governos e das discussões mais legítimas da sociedade. Mas ainda faltam incentivos para a forma mais básica (e limpa) de locomoção: o pedestrianismo.
A vida para quem decide se locomover a pé ainda é bem complicada nas grandes cidades. O morador de São Paulo Lincoln Paiva, anda de 10 a 15 quilômetros diariamente e é presidente do Instituto Mobilidade Verde.
Para ele um dos benefícios é poder “experimentar” a cidade de outra maneira, podendo percorrer as ruas que quiser e reconhecendo as particularidades de cada região. “Vivo numa cidade diferente das outras pessoas porque não fico parado em congestionamentos, escolho meus caminhos e evito andar por ruas poluídas e cheias de carro. Tenho mais liberdade para fazer as coisas porque sei que não vou depender de estacionamento e sempre posso ir a pé ou pegar um táxi se precisar”.
Mas a cidade ainda é muito hostil para os pedestres. Em São Paulo, por exemplo, o principal problema é com a travessia dos pedestres em pontes. Em alguns casos, o abandono é antigo. Para dar um basta nisso, ativistas da ONG Ciclocidade lançaram a campanha ‘adote uma ponte’. A ideia é receber no site da internet fotos, vídeos e relatos sobre a situação das pontes e viadutos da cidade, juntar o material e cobrar mudanças.
“Não importa o culpado. A gente quer simplesmente que tenha uma estrutura melhor para as pessoas na cidade. Então a gente precisa de fato cada vez mais cobrar isso e aí que se denomine quem é o responsável que vai fazer isso”, diz João Paulo Amaral, ativista da ONG Ciclocidade /Bike Anjo.
As passarelas são outro fator problemático nas grandes cidades. O perigo de não atravessá-las se sobrepõe ao risco de passar por elas e ficar à mercê de todo o tipo de violência urbana.
Para Lincoln, as dificuldades do pedestre mudam de acordo com a região da cidade. “Se você perguntar para o trabalhador que vem do M’Boi Mirim, Jardim Ângela, Cidade Tiradentes a pé, com certeza o maior problema é a distância , a maioria dos deslocamentos a pé na cidade são de distâncias longas de pessoas que sequer têm recursos para pagar a tarifa de ônibus”, explica.
“Para quem mora no centro expandido o maior problema é o caminho, a cidade de São Paulo é carente de bons caminhos e áreas públicas de descanso, mas é rica em poluição atmosférica e tráfego de automóveis. Ninguém quer andar a pé em ruas cheias de carros, barulhentas, sem proteção do sol, poluídas e com péssimas calçadas. Note que coloquei por último a condição das calçadas, porque só a sua melhoria não traz os pedestres para rua, mas daria mais segurança para idosos e deficientes físicos. A implantação de ciclovias por incrível que pareça traz o pedestre de volta para as ruas, porque ajudam a diminuir a velocidade dos carros, melhora as condições da poluição e o ruído das ruas, principais motivos para que as pessoas possam caminhar com mais segurança e conforto”.
Mas ele reitera que ainda é preciso criar mais áreas de convivência e de descanso, aumentar a arborização e redefinir o papel da arquitetura da cidade. “Os prédios são projetados para refletirem os raios do sol para o centro da rua, essa irradiação solar aumenta o calor local criando um microclima que piora o conforto térmico. Veja bem, criar condições para as pessoas andarem mais nas ruas não é só infraestrutura, passarelas, pontes etc, mas coisas mais simples como alterar o padrão dos tempos semafóricos que ainda visam a circulação do carro e penaliza o pedestre, além da educação do motorista , a maioria dos acidentes com atropelamentos acontecem na faixa de segurança porque o motorista não respeita.
Afinal, porque é benéfico andar mais? “Porque é só andando nas ruas que é possível exercer a nossa cidadania na sua plenitude, é na rua que podemos ter maior conexão com a cidade e com a nossa comunidade. Andar mais é bom para saúde, melhora a vitalidade econômica do bairro, diminui o stress e traz mais segurança para o bairro”, finaliza.
Acompanhe a discussão sobre #MobilidadeUrbana pela hashtag no Twitter e Facebook.
* Publicado originalmente no Consumidor Consciente e retirado do site Mercado Ético.
(Mercado Ético)
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