Marrakech, Marrocos, 31/10/2011 – A África possui capacidade para ter acesso a pelo menos US$ 200 bilhões em investimentos para seu desenvolvimento sustentável, mas continuará sendo escrava da ajuda estrangeira se não melhorar o clima comercial e de investimentos e não detiver o fluxo de fundos ilegais, afirmam especialistas.
“A África não é pobre economicamente, mas precisa colocar ordem em sua casa”, afirmou Stephen Karingi, diretor de integração regional, infraestrutura e comércio da Comissão Econômica para a África (CEA) das Nações Unidas, quando consultado pela IPS durante o 9º Fórum de Desenvolvimento da África, que aconteceu no Marrocos, entre os dias 13 e 16 deste mês.
“Durante muito tempo permitimos que a narrativa africana fosse a de matérias-primas e recursos naturais, mas esse continente pode aproveitar suas próprias vantagens comparativas, como os recursos naturais, e liderar a cadeia de valor que usa esses mesmos recursos”, explicou Karingi. Investigações da CEA mostram que o fluxo financeiro ilegal que circulou na África nos últimos dez anos, cerca de US$ 500 bilhões anuais, equivale a quase toda a ajuda oficial ao desenvolvimento recebida pelo continente.
“A África está pronta para uma transformação e temos o contexto continental para isso”, ressaltou Karingi. No caso de se conseguir atrair investimento privado, e combiná-lo com remessas e mobilização de recursos internos, será uma ajuda para que a África destrave seus recursos financeiros para impulsionar seu desenvolvimento. A África subsaariana tem um dos maiores números de pessoas que vivem com fome e uma crescente população jovem que busca trabalho.
Segundo o Instituto Global McKinsey, o crescimento do produto interno bruto (PIB) médio na África cresceu 5% na última década, superando a tendência econômica global. Esse crescimento foi possível, entre outros fatores, graças a uma melhor governança e à gestão macroeconômica, à rápida urbanização e expansão dos mercados regionais. Estima-se que a África tem atualmente déficit de US$ 100 bilhões para o desenvolvimento de infraestrutura, dos quais US$ 45 mil devem proceder de fontes domésticas.
Carlos Lopes, secretário-adjunto da CEA, disse que os países em desenvolvimento devem se esforçar para mobilizar fundos adicionais, inclusive mediante o acesso a mercados financeiros. Ao mesmo tempo, os países ricos devem honrar os compromissos financeiros contraídos com fóruns internacionais, lembrando que “o continente deve empreender reformas para captar recursos ainda não explorados ou geridos de maneira errada”, acrescentou.
Essa foi a primeira vez que o Fórum de Desenvolvimento da África se focou em como obter fundos para o desenvolvimento do continente. Os debates se concentraram em melhorar a capacidade da África para explorar mecanismos de financiamento inovadores, bem como alternativas reais para financiar um desenvolvimento transformador. Também trataram de forjar vínculos entre a importância de mobilizar recursos e reduzir as barreiras comerciais no âmbito da economia e dos contextos políticos e institucionais, e promover os objetivos da agenda de desenvolvimento pós-2015.
O diretor da divisão de política macroeconômica da CEA, Adam Elhiraika, pontuou à IPS que os novos objetivos de desenvolvimento apresentam uma oportunidade para que a África se sobressaia priorizando assuntos vinculados ao desenvolvimento. O continente tem todos os ingredientes para ser um centro financeiro e um ímã para os investimentos, de forma semelhante à Suíça, se puder melhorar seus investimentos e seu ambiente comercial, combater a corrupção e juntar fundos internos, destacou.
“Temos que melhorar nossas políticas e permitir o tipo de investimento que as pessoas possam fazer na Suíça”, opinou Elhiraika. “Devido ao tamanho da África, é preciso promover o livre movimento de capitais, que é tão importante quanto o livre movimento de bens e serviços para impulsionar o comércio e o investimento”, destacou.
Segundo o Banco Mundial, das 50 economias que registraram melhora em seu ambiente de regulamentação empresarial em 2013, 17 eram da África, das quais oito estavam à frente da China, 11 à frente da Rússia e 16 à frente do Brasil. Envolverde/IPS
(IPS)
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