Cerca de 100 milhões de brasileiros ainda não têm tratamento de esgoto devido, o que, para especialistas, mostra que as políticas de saneamento pararam no século de 19.
As cem maiores cidades do Brasil despejam cerca de 3 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia e, segundo o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, 70% delas não tem 50% do sistema de saneamento instalado e em operação.
As informações foram divulgadas na palestra O Brasil das Águas – Saneamento, Mananciais e Oceanos durante a última edição do evento Diálogos Capitais – Inovação e Sustentabilidade, promovido por CartaCapital nesta terça, 21.
“O saneamento no Brasil parou no século 19”, disse o presidente após citar que 100 milhões de brasileiro ainda não têm esgoto tratado. “Os últimos indicadores, datados de 2012, apontam que 62% do esgoto ainda não encontra rede adequada para ser encaminhado a estações de tratamento.”
A perspectiva, de acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico do Governo Federal, é tornar a rede de esgoto universal em 2033. Carlos mencionou que, historicamente, o Brasil utiliza rios e oceanos como diluidores de esgoto e lamentou o estado praticamente inativo dos comitês de bacias hidrográficas.
O presidente criticou o atraso em São Paulo, que tem metade do estado com rede de esgoto apropriada. A Amazônia não chega a 10%. Rondônia e Pará têm menos de 3%.
Na crista dos dados da Trata Brasil, o professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da USP Pedro Jacobi avaliou a gestão de recursos hídricos no Brasil como o resultado de um histórico de degradação ambiental. “Estamos mais focados em trazer água às casas do que em tratá-la como consequência”, argumentou.
Jacobi cobrou transparência dos governos e afirmou que há mal uso do dinheiro público em investimentos para o saneamento. “Os calendários e descontinuidades políticas acabam prejudicando a administração dos recursos hídricos.”
O estudioso afirma que não houve pressão popular suficiente para levar encanamento e tratamento às periferias, uma vez que os loteadores de bairros afastados se preocuparam em vender terrenos, não em trazer serviços. “Nosso histórico político de tutela patrimonialista nos faz ficar solidários e participativos apenas em momentos durante e pós-crise.”
Ricardo Rolim, diretor de relações institucionais, sustentabilidade e comunicação da Ambev, compareceu ao debate e lembrou que a indústria costuma figurar como vilã quando o tema é esgoto e tratamento de água. Defendeu, porém, que as empresas precisam criar um “círculo virtuoso” em toda a cadeia de produção. “De 2002 para cá, reduzimos em 38% o consumo de água da Ambev”, informou.
* Publicado originalmente no site Carta Capital.
(Carta Capital)
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