Editorial
Em 1955, Gabriel García Márquez escreveu um dos seus primeiros contos: “Isabel vendo chover em Macondo”. Macondo, um lugar mítico inventado por García Márquez representa o mundo e, nesse lugar, a protagonista observa a chegada da tão esperada chuva após sete meses de seca. A alegria inicial de Isabel logo se torna uma espécie de terror ao ver a pequena chuva se transformar num dilúvio de proporções quase bíblicas, tal como um gigantesco e devastador furação. Isabel diz, então: “a chuva estava penetrando demasiado fundo nos nossos sentidos [...] Estávamos paralisados, narcotizados pela chuva, entregues ao arrasamento da natureza numa atitude pacífica e resignada”. O conto termina da mesma forma que “Cem anos de solidão”: “Macondo já era um pavoroso rodamoinho de poeira e escombros, centrifugado pela cólera do furacão bíblico” e, então, o lendário Aureliano Buendía percebe que ele e seu mundo tinham acabado.
Com esta homenagem a García Márquez, na ECO 21, traçamos uma parábola sobre o aquecimento global. De acordo com o último informe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o AR5, o aquecimento global já é uma realidade existindo um consenso sobre este ponto na comunidade científica mundial. Segundo o AR5 a ação humana é inquestionavelmente a principal causa da elevação da temperatura no Planeta, mesmo que existam grandes interesses das indústrias fósseis e nucleares financiando campanhas negando este fato.
O IPCC, pela primeira vez em seus relatórios, tocou no tema da alimentação. Sobre isto, o cientista Paulo Artaxo, membro do Painel, escreveu: “A produção de alimentos também poderá ser afetada, bem como nosso estilo de vida, onde teremos que usar os recursos naturais de nosso Planeta de modo mais inteligente”.
Esta realidade já preocupa o Vaticano. A Pontifícia Academia das Ciências, que conta entre seus membros diversos cientistas como Stephen Hawking, Mario Molina, alguns deles ateus, economistas como Jeffrey Sachs e vários Prêmios Nobel, programou para início de Maio deste ano um grande encontro chamado “Humanidade Sustentável, Natureza Sustentável: a Nossa Responsabilidade”.
Este Fórum é coordenado pelo cientista indiano Veerabhadran Ramanathan, especialista em ciências atmosféricas, que assim definiu o evento: “Nosso objetivo não é catalogar os problemas ambientais; propomos tratar sobre o intercâmbio da humanidade com a natureza baseado em três necessidades fundamentais: alimentação, saúde e energia. Solicitamos que nossos Acadêmicos convidem expertos em ciências naturais e sociais para falar sobre os diversos caminhos que poderiam satisfazer estas exigências”.
O Fórum, que é considerado uma sequência da RIO+20, abordará outros temas da interface ambiental como a situação das favelas, das savanas africanas, da poluição urbana, do aumento dos contaminantes industriais e agrícolas, da destruição da Camada de Ozônio, etc. Com este encontro, que será aberto pelo Papa Francisco, o Vaticano pretende traçar um caminho denominado “as perspectivas futuras” e assim, assumir, finalmente, uma liderança mundial em busca da solução para mitigar os graves problemas que encontraremos no futuro imediato devido ao aquecimento.
Em face desta realidade, se a humanidade não reagir, nem a ciência, nem a religião, terão importância alguma.
Índice
4 Gabriel García Márquez – A Bacia Amazônica sem mitos
8 Evaristo E. Miranda – Anchieta: ambientalista e patrono da biodiversidade
12 Liszt Vieira – O insustentável desenvolvimentismo
14 Elton Alisson – Entrevista com José Marengo
16 Roberto Savio – O futuro de nosso Planeta depende de 48 pessoas
18 Paulo Artaxo – 5º Relatório do IPCC: é hora de adaptação e mitigação
19 Suzana Kahn – A cidade sustentável e as mudanças do clima
20 José Goldemberg – A COP-21 do Clima de 2015
22 Fabio Feldmann – Cadastro Ambiental Rural: não dá mais para esperar
23 Mario Mantovani – O imbróglio do Código Florestal prejudica o país
24 Thais Corral – Adapta Sertão, um projeto inovador no Semiárido
28 Ana Cíntia Guazzelli – Brasil recebe nota 6 no Índice de Saúde do Oceano
30 Marussia Whately – A crise da água em São Paulo
31 Roberto C. Tavares – A hora e a vez do saneamento
32 Hannah Edwards – ONU lança avaliação do consumo mundial da água
36 Marcus E. de Oliveira – Consumo voraz em poucas mãos
38 Sonia Mey Schmidt – OMS: 7 milhões de mortes devido à poluição do ar
40 Isabel Gardenal – Marketing verde deixa orgânicos no vermelho
42 José Graziano da Silva – Ano Internacional da Agricultura Familiar
43 Esther Vivas – A vulnerabilidade de uma dieta globalizada
44 Renata Clarke – Transgênicos no comércio de alimentos geram incidentes
46 Silneiton Favero – Adaptação e sustentabilidade empresarial
50 Ruy Guerra – O Ovo da Serpente
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(Eco21)
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