Após meses de polêmicas, especialmente com os pescadores japoneses, a Tepco, operadora da usina nuclear de Fukushima, extremamente danificada no terremoto seguido de tsunami que assolou o Japão há três anos, começou a liberação nessa quarta-feira (21) de 560 toneladas de água subterrânea no Oceano Pacífico.
Segundo o jornal Japan Times, a iniciativa é uma tentativa de gerenciar as enormes quantidades de água radioativa que vêm se acumulando no complexo nuclear de Fukushima.
A Tepco, operadora da usina, alega que a água está dentro dos limites legais de radiação estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, pois foi captada antes de chegar à base dos reatores danificados. A empresa pretende também utilizar o mesmo sistema de desvio da água para despejar mais 100 toneladas de água por dia no oceano.
Diariamente, cerca de 440 toneladas de água descem das montanhas ao redor da unidade e se misturam com água radioativa utilizada para resfriar os reatores. Assim, a Tepco estaria tentando reduzir a quantidade de água contaminada.
“Gostaríamos de expressar o nosso sincero agradecimento a muitas partes, incluindo a prefeitura de Fukushima e os membros do setor pesqueiro, pela compreensão na operação de desvio da água subterrânea, que tem um papel importante entre as medidas para suprimir o aumento da água contaminada”, declarou o presidente da Tepco, Naohiro Masuda.
Contaminação no Oceano
Os temores de que a radiação de Fukushima se espalhasse pelo Oceano Pacífico de forma perigosa, já que volumes massivos de água radioativa foram despejados logo após o acidente em 2011, estão aos poucos sendo diminuídos.
Um relatório da Comissão Costeira da Califórnia publicado no final de abril constatou a presença de radiação na costa do estado norte-americano, mas em níveis muito baixos.
“Nos últimos três anos, a pluma de radiação do oceano tem sido arrastada para leste por correntes oceânicas, sendo cada vez mais diluída ao se espalhar por uma área ampla e se misturar em profundidades altas”, diz o relatório, completando que a pluma pode alcançar a Ilha de Vancouver e possivelmente a Califórnia no próximo ano.
Os radionucleídeos derivados de Fukushima, especialmente o césio-137 – que tem uma meia-vida de 30 anos – devem apresentar quantidades levemente acima dos níveis pré-acidente, nota.
“O césio derivado de Fukushima foi detectado em níveis baixos nos tecidos de espécies de peixe altamente migratórias, como o atum azul do Pacífico”, notou o relatório.
A conclusão da comissão é que haverá “pouco risco adicional aos seres humanos e a vida marinha”, porém, “que deve-se notar que os efeitos em longo prazo dos baixos níveis de radiação no ambiente permanecem compreendidos de forma incompleta”.
Contradições
Neste semana, o jornal japonês Asahi Shimbun revelou que no momento das explosões em março de 2011, 90% dos trabalhadores da usina fugiram, contrariando as ordens de permanência. O jornal teve acesso a um depoimento que ainda não havia sido divulgado do gerente da usina na época, Masao Yoshida, que morreu de câncer em julho do ano passado.
A versão da Tepco sobre o episódio era bem diferente, alegando que houve uma evacuação controlada do local. Isso coloca em cheque, mais uma vez, a credibilidade da empresa.
Em diversos episódios, a Tepco foi acusada de esconder e manipular informações, sobretudo em episódios de vazamento da água radioativa da usina para o mar.
A batalha do governo para religar alguns dos 50 reatores desativados em 2011 continua inglória. Na quarta-feira um tribunal decidiu que uma usina no oeste do país não seja reativada, como pretendido pela prefeitura de Fukui.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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