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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Mais de 50 entidades pedem que Brasil rejeite inclusão de florestas no mercado de carbono

ABr

Floresta Amazônica. Foto: Marcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil
Floresta Amazônica. Foto: Marcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil


Mais de 50 entidades protocolaram ontem (11), nos ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores, uma carta em defesa da posição histórica do Brasil contra a inclusão das florestas em mecanismos de compensação de carbono – chamados de offsets.
De acordo com as entidades, esta é uma “falsa solução à crise do clima” que vem à tona em um contexto de negociações internacionais e da conjuntura nacional de crise. “Alguns atores têm usado o momento de negociação de implementação do Acordo de Paris, a crise política e a turbulência econômica pela qual o país e o mundo passam como pretexto para demandar medidas a favor de offsets”, diz o manifesto.
Com a inclusão das florestas no mecanismo de offset, as emissões de carbono poderiam ser compensadas por um país ou por uma empresa com o investimento em plantação ou manutenção de florestas. Segundo as entidades, um dos riscos é o de “falsa equivalência” nessa compensação. “[Os offsets florestais] apresentam uma falsa equivalência entre o carbono proveniente dos combustíveis fósseis, que está acumulado debaixo da terra, e aquele que é acumulado pelas florestas. A capacidade que árvores e ecossistemas têm de remover e fixar carbono da atmosfera é muito mais lenta que o ritmo de emissões quando se queima combustíveis fósseis”, diz o documento.
“A floresta demora muito mais tempo para absorver carbono do que você demora para queimá-lo. Se eu queimo um barril de petróleo, eu vou demorar muito e muitos anos para uma floresta absorver aquilo, a compensação não é imediata. Tem uma falha no princípio científico da coisa”, explicou Pedro Telles, especialista em Clima da organização não-governamental (ONG) Greenpeace, uma das entidades que assina o manifesto.
Além disso, segundo ele, o carbono acumulado pelas florestas estaria mais vulnerável a retornar para a atmosfera em caso de queimadas, por exemplo. “O carbono que está embaixo da terra [combustível fóssil] é um carbono muito menos suscetível a ser emitido. Um carbono que está na floresta é muito vulnerável, porque pode ter um desmatamento, pode ter um incêndio”, acrescentou Telles.
Hipoteca de florestas
Outro argumento das organizações ambientalistas é que este modelo não traz benefício adicional para a redução de emissões de dióxido de carbono, que agravam o efeito estufa, porque é um jogo de soma zero. “Nunca são reduções efetivas, pois o que há é a compensação. O que se reduz por meio da não emissão florestal continua sendo emitido em outro setor”, argumentam as entidades. Para as ONGs, em vez de diminuir suas emissões, países ou empresas poluidoras poderiam fazer uma espécie de “hipoteca das florestas”, a fim de cumprir suas metas por meio do pagamento para plantá-las ou mantê-las em pé.
“[Os offsets florestais] aprofundam e geram novas formas de desigualdades, já que quem tem dinheiro e poder pode pagar e continuar emitindo sem fazer a sua parte. O conceito de poluidor-pagador, criado inicialmente para pressionar os países e setores a reduzir sua poluição, é capturado por quem pode continuar poluindo desde que pague por isso”, diz a carta.
Segundo Telles, do Greenpeace, a discussão em torno desses offsets se arrasta há décadas, mesmo com diversas organizações e governos se posicionamento contra o modelo. “O tempo que a gente perde com isso, a energia que a gente perde, tira o foco das soluções reais. Para muitos atores, é conveniente você perder tempo em uma situação travada como essa. Você tira atenção do que seriam soluções reais e urgentes.”
Agência Brasil procurou o Ministério do Meio Ambiente, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Por Camila Boehm, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/07/2017

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