26 de março de 2015
Por Monika Schorr (da Redação da ANDA)
Vistas de cima, as figuras vermelhas e arroxeadas assemelham-se a feridas abertas na superfície da Terra. Essas formações são exatamente o que parecem ser: chagas produzidas pela atividade predatória humana. Elas são chamadas, pelo agronegócio, de “lagunas”, termo que evoca águas cristalinas e salobras, importante habitat de vida silvestre. Na realidade, esses corpos de água são fossas compostas de restos tóxicos em decomposição de dezenas de milhares de animais mortos para consumo humano.
Nas fazendas industriais, os resíduos dos animais mortos são bombeados dos estábulos e currais de engorda para essas fossas artificiais abertas pela mão do homem. Parte desse lodo contaminado que contém nitratos, antibióticos, bactérias patogênicas e outras inúmeras toxinas infiltra-se através do solo, atingindo o lençol de água que abastece os moradores da região. Contudo, a maior parte desse líquido infectado é, intencionalmente, pulverizado pelo ar, causando danos à comunidade local. As pessoas que moram nas redondezas de fazendas industriais dizem que os resíduos líquidos espalhados no ambiente causam doenças, contaminam a água potável, impedindo-as de sair ou até mesmo de abrir as janelas de suas casas. As informações são do site Their Turn.
Segundo o grupo ambiental Natural Resources Defense Council (NRDC), “as fossas frequentemente transbordam e, com isso, milhões de litros de esterco são despejados nos cursos de água, espalhando micróbios que podem causar gastroenterite, febre, insuficiência renal e morte.”
Um estudo publicado em janeiro concluiu que as todas as águas vizinhas às fazendas industriais da Carolina do Norte, EUA, estão contaminadas. De acordo com Steve Wing, professor da Universidade da Carolina do Norte, “pesquisadores constataram a existência de bactérias típicas de suínos nas águas próximas aos matadouros de porcos.”
Assim como as fazendas industriais, as fossas contaminadas por partes de animais ficam em locais ocultos, para que não sejam vistas pela população. Mas em 2014, Mark Devries, diretor do documentário “Speciesism”, usou um drone para filmar a empresa de carne de porcos Smithfield Foods e a sua gigantesca fossa tóxica, divulgando amplamente seu impacto ambiental e os riscos aos quais estão submetidas as pessoas da comunidade.
As “Ag-Gag laws”, ou leis da mordaça, que criminalizam nos EUA a captação de imagens e realização de vídeos das fazendas industriais, são e continuarão sendo um grande obstáculo para que a realidade dessas fossas infectadas seja documentada. Em 2013, um fotógrafo da National Geographic, voando de parapente, foi preso por invasão de propriedade, enquanto tirava fotos do curral de engorda de uma fazenda no Kansas.
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