A caça ilegal de animais selvagens em alguns países africanos pode levar à erradicação de muitas espécies e a um colapso ecológico em grandes áreas, afirma um novo estudo da ONG Panthera, da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS) e da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL).
Segundo a pesquisa, a explosão populacional ocorrida nas últimas décadas na África, mais especificamente nos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), está fazendo com que muitas áreas protegidas sejam invadidas por seres humanos, o que contribui para o aumento da caça em locais proibidos.
Além disso, a carne de animais selvagens está se tornando um artigo de luxo nos centros urbanos, o que faz com que as comunidade rurais vejam a caça ilegal como uma forma de subsistência.
Com isso, além dos animais reconhecidamente caçados, como antílopes, zebras e outros mamíferos de grande porte, espécies que não são procuradas por sua carne, como os predadores – chitas, cães selvagens, leões, leopardos –, também estão sendo dizimados, seja pela falta de presas, seja por caírem nas armadilhas destinadas aos herbívoros caçados.
“Armadilhas são o método de caça ilegal mais comum e são particularmente indesejáveis de uma perspectiva conservacionista, já que são altamente eficazes, difíceis de controlar, não seletivas em termos de gêneros ou espécies de animais capturados e têm implicações graves ao bem-estar animal”, afirma o relatório.
Dos predadores atingidos, as chitas e os cães selvagens são os mais prejudicados, e essas espécies estão classificadas na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como vulnerável e ameaça de extinção, respectivamente.
“A maioria das chitas e cães selvagens africanos está fora de áreas protegidas, coexistindo com pessoas e seu gado, e elas são muito vulneráveis a armadilhas e à perda de suas presas selvagens”, comentou Netty Purchase, da WCS e da ZSL.
Por isso, o documento recomenda que se resolvam os problemas do crescimento da população humana através da educação e do planejamento familiar; do planejamento do uso da terra; do fornecimento de meios de subsistência alternativos e outras fontes de proteína em áreas rurais; do estímulo ao turismo e uso sustentável da vida selvagem; e da aprovação e aplicação de leis melhores.
“Uma discussão franca sobre a questão dos altos níveis de crescimento populacional dentro e perto de áreas protegidas é necessária, porque se as atuais tendências continuarem, outras intervenções para enfrentar a caça ilegal e o comércio de carne selvagem provavelmente não terão sucesso”, diz o relatório.
Felizmente, essa questão não ficou restrita ao relatório, e na última semana foi debatida em um encontro de dois dias em Johanesburgo, na África do Sul. ONGs, organizações comunitárias, órgãos governamentais e internacionais e membros da SADC concordaram unanimemente sobre a necessidade de combater a prática da extração ilegal de carne selvagem.
Os participantes alegaram que, além de proteger as espécies e os ecossistemas, o combate à prática também ajudaria a melhorar a vida das comunidades rurais, já que, de acordo com especialistas, a caça ilegal rende apenas 4% do que a caça regulamentada poderia gerar de lucro para essas populações.
“A diversidade e densidade únicas da vida selvagem nos países da SADC têm potencial para criar benefícios econômicos e sociais significativos para as pessoas da região. No entanto, esses ativos estão seriamente ameaçados pela caça ilegal e o comércio de carne selvagem”, observou Peter Lindsey, da ONG Panthera.
“Há uma necessidade urgente de procurar por soluções viáveis que garantirão o uso sustentável dos recursos da vida selvagem da SADC enquanto contribuem para o desenvolvimento de comunidades rurais pobres”, concluiu Rene Czudek, do escritório sub-regional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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