27 de março de 2015
Quando Wendy Leeds o encontrou, o filhote de leão-marinho tinha pouca esperança de sobrevivência. Como mais de 1.450 outros leões-marinhos que chegaram às praias californianas neste ano, no que especialistas qualificam de crise crescente para o animal, este filhote de oito meses de idade estava faminto, desamparado e a centenas de quilômetros de uma mãe que ainda precisava cuidar dele e lhe ensinar a caçar e a se alimentar. As costelas saltavam de seu pelo aveludado.
O filhote jazia deitado na praia há horas, tornando-se o alvo de um cachorro agressivo antes de conseguir se contorcer até o deque de uma casa de um milhão de dólares à beira-mar, onde o proprietário o abrigou com um guarda-chuva e chamou o centro de zoonoses. Em resposta, veio Wendy, especialista em cuidados animais do Centro de Mamíferos Marinhos do Pacífico que, a exemplo de outras unidades de resgate da Califórnia, está sendo inundado por telefonemas a respeito de leões-marinhos perdidos e magros.
“Está virando uma loucura”, ela disse.
Especialistas suspeitam que as águas incomumente quentes estejam afastando os peixes e outros alimentos das ilhas costeiras onde os leões-marinhos criam e desmamam os filhotes. Como as mães ficam muito tempo longe das ilhas caçando, centenas de filhotes famintos nadam para longe de casa e encalham nas praias de San Diego a São Francisco.
Muitos filhotes estão deixando as Ilhas do Canal, arquipélago de oito ilhas ao largo da costa sul californiana, numa busca desesperada por comida. Todavia, são muito jovens para viagens distantes, mergulho profundo ou caçadas sozinhos, avaliam cientistas.
Neste ano, os resgatadores de animais estão informando cinco vezes mais salvamentos de leões-marinhos do que o normal – 1.100 somente no mês passado. Os filhotes estão aparecendo debaixo de píeres de pesca e nos quintais de casas, em enseadas e penhascos rochosos. Um foi encontrado enrolado num vaso de flor.
Há poucos dias, o SeaWorld de San Diego disse que cancelaria o espetáculo com lontras e leões-marinhos durante duas semanas para que seis especialistas pudessem participar dos resgates.
“Existem tantos telefonemas que simplesmente não conseguimos atender a todos. A realidade é que não temos como pegar esses animais”, declarou Justin Viezbicke, responsável pelos encalhes na Califórnia da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA, durante teleconferência com repórteres.
À medida em que os animais feridos aumentam, os encontros com humanos vão se avolumando. Há quem ofereça ajuda equivocada ao molhar os filhotes com água ou tentar arrastá-los de volta ao mar. Outros tiram retratos com os animais encalhados, fazem carinho ou deixam as crianças brincar que estão montando neles, relatam os resgatadores.
Enquanto Wendy se aproximava do leão-marinho trêmulo na Praia de Capistrano, ela se espantou diante de uma pilha de atum perto de seu focinho.
“Tentaram alimentá-lo?”, ela questionou.
“Tentaram alimentá-lo?”, ela questionou.
Muitos têm pneumonia, com roncos guturais abafados como tossidas estridentes. Parasitas infestaram seus sistemas digestivos. Alguns estão tão cansados que não conseguem fugir quando os resgatadores se aproximam com redes e toalhas e os colocam em caixas grandes para transporte.
“Eles vêm à praia porque se não o fizessem, iriam se afogar. Eles estão pele e osso. Estão mesmo à beira da morte”, disse Shawn Johnson, diretor veterinário do Centro de Mamíferos Marinhos de Sausalito.
É a terceira vez em cinco anos que os cientistas viram um número tão grande de encalhes. Pesquisadores dizem temer as consequências a longo prazo do aquecimento global e da elevação da temperatura do oceano sobre a população de leões-marinhos que evoluiu ao longo de milhares de anos para procriar quase exclusivamente nas Ilhas do Canal, valendo-se das correntes circulando pelo Pacífico que trazem anchovas, sardinhas e outras presas.
“O ambiente está mudando rápido demais”, afirmou Sharon Melin, bióloga especializada em fauna selvagem do Serviço Nacional de Pesca Marinha, que descobriu que os filhotes nas Ilhas do Canal estão 44 por cento abaixo do peso.
Grupos de resgate e reabilitação como o Centro de Mamíferos Marinho do Pacífico, em Laguna Beach, parecem prontos-socorros de cidades grandes. Voluntários e equipes arrastam engradados de leões-marinhos recém-encalhados para serem pesados e examinados. Eles raspam números no pelo marrom dos animais, aquecem os mais frios em banheiras de água marinha e tentam fazê-los recuperar a saúde com arenque, xarope de milho, óleo de salmão e outros nutrientes.
Muitos se recuperaram, ganhando peso e passando de cercados internos e sondas de alimentação a comer peixes pequenos e a se jogar nas piscinas externas. Os recém-chegados esqueléticos se deitam desamparados do lado de dentro, letárgicos. Os animais em recuperação se divertem do lado de fora como banhistas em um deque lotado, rolando nos banhos de mangueira e, de vez em quando, batendo palmas ao redor das pequenas piscinas de seus cercados. Depois de quatro a cinco semanas, muitos estarão prontos para serem libertados no mar.
Entretanto, o índice de óbito é preocupante, e as equipes dizem que precisam tomar decisões rápidas e dolorosas de induzir a morte dos animais sem possibilidade de recuperação. Dos 1.450 leões-marinhos que chegaram às praias, 720 estão em tratamento, disse Viezbicke, da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera.
Michele Hunter, diretora do centro de tratamento animal disse que “é muito difícil ver tantas mortes”.
Fonte: Boa Informação
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