A Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado) aceitou e batizou o mascote com o nome de Fuleco, derivado das palavras “futebol” e “ecologia”. “Trata-se de uma espécie exclusivamente brasileira, ameaçada de extinção”, disse ao Terramérica o secretário-executivo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro. “Vive em um ecossistema pouco conhecido e protegido (a Caatinga) e tem a incrível capacidade de se fechar como um bola quando se sente ameaçado, devido à sua carcaça flexível”, explicou.
A Caatinga é o bioma semiárido do Nordeste brasileiro e cobre cerca de 10% do território nacional, entre 700 mil e um milhão de quilômetros quadrados. O Fuleco se multiplicou em milhões de bonecos e outros produtos com sua imagem comercializada pela Fifa – gerando também milhões de dólares em ganhos – exatamente ao contrário do pequeno animal, cada vez mais raro em seu habitat.
Na lista mundial de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o tatu-bola está passando da categoria “vulnerável” para a “em perigo”. Isso “significa que, se nada for feito, o animal poderá ficar extinto nos próximos 50 anos”, disse ao Terramérica a bióloga e veterinária Flávia Miranda, do Projeto Tamanduá.
O Tolypeutes tricinctus é uma das duas espécies de tatu com a faculdade de se enrolar formando uma bola. A outra é o Toypeutes matacus, presente em vários países sul-americanos. O tatu-bola pode medir até 45 centímetros e pesar um quilo e meio. Sua armadura é composta por três camadas térmicas ossificadas. Alimenta-se principalmente de insetos. Estima-se que tenham desaparecido 30% de sua população original. “Calculamos que perdeu 50% de seu habitat nos últimos 15 anos”, destacou Miranda, também consultora da Associação Caatinga.
A redução do habitat é a principal razão do perigo de extinção, afirmou Castro, causada pelo desmatamento da Caatinga e do Cerrado, a vizinha ecorregião de savana tropical que o tatu-bola também habita. Mas não se pode ignorar a caça. “Trata-se de uma prática cultural e tradicional de comunidades rurais”, acrescentou. “Todos apreciam sua carne. Inclusive muitos o matam para vendê-lo porque custa cerca de R$ 50 (cerca de US$ 23) o quilo”.
Às vésperas do Mundial, o Ministério do Meio Ambiente lançou um Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tatu-Bola, de cinco anos, elaborado com a Associação Caatinga. Trata-se de um compromisso público com a preservação da espécie. “Vamos trabalhar associados a universidades e organismos públicos e privados para reduzir o desmatamento e a caça”, detalhou Miranda.
O plano estimulará também a criação de unidades de conservação e de reflorestamento. Ugo Eichler Vercillo, coordenador geral do governamental Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, disse ao Terramérica que o plano permitirá criar uma “força-tarefa” para combater a caça. Também serão promovidas ações para compensar a perda de recursos das comunidades pobres que caçam o animal para subsistência, graças às proteínas de sua carne.
Entre outras iniciativas, receberão a Bolsa Verde, uma ajuda mensal de R$ 100, além de benefícios de outros programas sociais e de transferência de renda para setores em extrema pobreza. São “populações que vivem do que coletam, plantam e caçam” em lugares como o interior de Bahia, Pernambuco, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, explicou Vercillo. Esses habitantes de poucos recursos em áreas de difícil acesso cobiçam o tatu-bola “por não terem outra fonte de proteína”, acrescentou.
Em 2013, a Associação Caatinga, a UICN e a The Nature Conservancy puseram em marcha o programa Eu Protejo o Tatu-Bola, destinado a reduzir o risco de extinção. “Nosso projeto, estimado em dez anos, mapeará as áreas de presença natural e histórica e coletaremos dados de ameaças para trabalhar sobre eles”, contou Miranda.
Colocar a rolar o tatu-bola nos campos do Mundial busca convertê-lo “em uma espécie de símbolo da preservação da Caatinga, e de outras espécies da fauna e da flora que habitam”, afirmou Miranda. A Fifa adotou o tatu-bola como mascote por considerar que ajudará a “aumentar a conscientização no país sobre a vulnerabilidade” da espécie.
Porém, Castro espera algo mais da Fifa. “Nossa pergunta à Fifa é simples: o tatu-bola deu vida ao Fuleco, mas o Fuleco nada está fazendo pelo tatu-bola. Por que?”. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Terramérica)
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