Presidente norte-americano anuncia planos que resultam na duplicação da área globalmente protegida nos oceanos e no combate da pesca ilegal e de fraudes no mercado de frutos do mar
A ampliação do Monumento Nacional Marinho das Ilhas Remotas para dois milhões de quilômetros quadrados, quase dez vezes a mais do que a área atual do parque, 225 mil km2, é o ponto principal de um plano de conservação anunciado nesta semana pelo presidente norte-americano Barack Obama. Se virar uma realidade, a proposta criará o maior santuário marinho do mundo e significará a duplicação da área globalmente protegida nos oceanos, que hoje abrange apenas 2% dos mares.
“Sabemos o quão frágil o nosso planeta azul pode ser”, comentou Obama, “Se ignorarmos os problemas, não apenas desperdiçaremos um dos maiores tesouros da humanidade, mas estaremos acabando com uma das nossas principais fontes de comida e crescimento econômico.”
O plano, que passará por um período de consulta pública, promete proteger o entorno de sete ilhas e atóis no centro-sul do Pacífico dos impactos crescentes da sobrepesca, exploração de petróleo e gás natural e outras atividades potencialmente danosas ao ambiente marinho. “É o mais próximo que já vi a um oceano pristino”, comentou Enric Sala, um explorador da National Geographic que pesquisa os recifes e atóis da área desde 2005.
Os recifes e ecossistemas marinhos desta região estão entre os mais vulneráveis às mudanças climáticas, acidificação dos oceanos e sobrepesca, afirmou a Casa Branca.
O anúncio de Obama foi feito por vídeo aos participantes da conferência ‘Nossos Oceanos’, organizada pelo Departamento de Estado norte-americano.
A questão da proteção e melhoria na gestão dos oceanos têm sido um dos focos da administração dos Estados unidos, que mantém quase 1.800 áreas marinhas protegidas.
Segundo informações do Greenpeace, o Secretário de Estado norte-americano John Kerry tem atuado constantemente na proteção marinha, sendo responsável por políticas “progressistas” quando era senador.
Kerry, durante a conferência, incitou os presentes a criarem um movimento global em massa para forçarem os legisladores a levar a proteção dos oceanos a sério. Porém, o Greenpeace lamentou que o secretário apenas ‘esqueceu’ de comentar sobre a proposta da ONG de proteger 64% dos oceanos em as áreas em alto mar.
Durante a conferência, outros anúncios muito comemorados foram feitos. O governo das Bahamas se comprometeu em tornar 20% do seu território marinho em santuários até 2020, sendo 10% já neste ano.
Palau e Kiribati também declararam grandes áreas como santuários, visando à recuperação das populações de atum. Togo e Senegal prometeram lutar contra a pesca ilegal em suas áreas costeiras.
O ator Leonardo DiCaprio, ativista que há anos vem defendendo as causas ligadas à preservação dos oceanos, anunciou que doará US$ 7 milhões para projetos de preservação marinha. Ele marcou presença na conferência, discursando ao lado de Kerry.
“Estou aqui como um cidadão preocupado deste planeta, que acredita que esta é a questão mais importante do nosso tempo”, ressaltou o ator, que disponibilizará os recursos através da sua fundação. Desde 1998 a instituição se dedica à criação de “relações harmônicas entre a humanidade e o mundo natural”.
“Infelizmente, atualmente não há fiscalização adequada e a responsabilização pela violação da lei é pequena. O alto mar é como o faroeste. O oceano é um mercado sub-regulado. Apesar de cobrir 71% do nosso planeta, menos de 1% [dos oceanos] é integralmente protegido por reservas marinhas onde a pesca é proibida”, lembrou DiCaprio.
Recentemente, a fundação do ator já havia doado US$ 3 milhões para a ONG Oceana, mas também financia a preservação em ecossistemas terrestres, como o combate à chacina dos elefantes na África e a proteção dos tigres, das florestas tropicais e da Antártica.
Obama também anunciou planos para criação de uma força-tarefa visando combater a pesca ilegal e melhorar a rastreabilidade e transparência do mercado de pescados. Mais detalhes dessa iniciativa devem ser revelados em breve.
“Parabenizamos a administração Obama pelo reconhecimento da pesca ilegal como uma grande preocupação que precisa de soluções com impactos duradouros”, comentou Karen Sack, que preside o Pew Charitable Trusts.
“Os pescadores norte-americanos sofrem quando peixes capturados ilegalmente entram em nosso mercado. A pesca ilegal prejudica as pessoas, a economia e o ambiente marinho. Estamos esperançosos de que essa força-tarefa ajudará a reverter esses efeitos danosos”, completou Sack.
Segundo o Pew Charitable Trusts, cerca de 20% dos peixes capturados ao redor do mundo vêm de atividades ilegais.
As fraudes nesse setor podem acontecer de várias formas, como a rotulagem e identificação erradas dos frutos do mar, que prejudicam não só a manutenção da saúde dos oceanos, como também a dos consumidores. Por exemplo, no Brasil é comum a venda de peixes ameaçados de extinção rotulados como outras espécies.
Na semana passada, a ONG Oceana lançou um novo mapa interativo mostrando o alcance global das fraudes no mercado de pescados. É a revisão mais atual e abrangente existente, compilando mais de 100 estudos de 29 países em todos os continentes (menos Antártica).
No Brasil, o mapa revela três pesquisas. Em uma delas, análises mostraram que 55% das 44 amostras compradas como “cação” em Bragança e Vigia (MA), eram na realidade peixe serra, espécie criticamente ameaçada de extinção segundo a IUCN, cuja venda é proibida no país.
Em Belo Horizonte, outro estudo mostrou que 80% das amostras analisadas do peixe chamado ‘surubim’ estavam com identificação errada. Os pesquisadores apontam que o governo brasileiro não mantém uma lista padronizada dos nomes dos frutos-do-mar.
Já em Manaus, pesquisadores concluíram que das 136 amostras testadas de 22 espécies, 10% estavam mal identificadas.
Nos Estados Unidos, a Oceana realizou testes de DNA e descobriu que 33% dos peixes testados tinham rotulagem fraudulenta.
Outros anúncios
Em uma declaração desta terça-feira, a Casa Branca também reuniu uma série de anúncios que envolvem os oceanos, entre eles:
· A Administração Atmosférica e Oceânica Nacional (NOAA) reabriu o processo de propostas para novos santuários marinhos e nos Grandes Lagos. Pela primeira vez desde 1995, os cidadãos poderão designar áreas que têm potencial de se tornarem santuários;
· O Escritório de políticas científicas e tecnológicas da Casa Branca está lançando um artigo sumarizando o conhecimento científico atual sobre acidificação dos oceanos;
· O Departamento de Interior anunciou na terça-feira recursos de US$ 102 milhões para subsidiar soluções científicas voltadas para a restauração de planícies e barreiras naturais, como as áreas úmidas, ao longo da costa Atlântica. O objetivo é aumentar a resiliência contra tempestades.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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